quarta-feira, 30 de junho de 2021

Depois de levar 39 tiros, Lázaro ainda pode ressuscitar no quarto dia... (?)

 

Não quero assusta-los.., e nem alegra-los, mas segundo a Bíblia, Lázaro ressuscitou no quarto dia...

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Nesta quarta-feira ensolarada que se parece mais a um domingo, o Mendigo K reapareceu. Chegou de braços dados com sua quinta 'esposa', uma bela mulher que parecia levar o demônio nas córneas... Dizia estar abatido com o fuzilamento do Lázaro e que todos os crimes que acontecem no mundo o abalam e o deprimem... Porque o fazem lembrar daquele que na lenda cristã, (Cain), com uma única paulada matou 25% da humanidade... Vai falando isso meio em broma e meio teatralmente, até que, mudando bruscamente de tom e se dirigindo a todos os colegas de ofício que, roendo uma baguete, o ouviam apoiados nas mesas da padaria, bradou: sem querer assusta-los (ou alegra-los), é bom lembrar que Lázaro ressuscitou no quarto dia... (e seguiu descrevendo o túmulo desse leproso & santo dos católicos às margens do Mediterrâneo, lá em Lárnaca, a minúscula ilha de Chipre).

Um forasteiro, depois de abominar a pena de morte, lembrou que no México também existiu um Lázaro famoso: Lázaro Cárdenas. A pequena platéia inicialmente riu, mas em seguida ficou absorta e pensativa...

terça-feira, 29 de junho de 2021

Depois do da Islândia... a exibição do Rincón de la vieja (Costa Rica)...


"Acreditem! O segredo para colher uma existência mais fecunda e uma maior fruição da vida é viver perigosamente! Construi vossas cidades perto do Vesúvio! Enviai vossas naus aos mares inexplorados! Vivei em guerras com vossos semelhantes e convosco mesmos! Vós que procurais o conhecimento, sede saqueadores e conquistadores enquanto não puderes ser dominadores! Logo passará o tempo em que vos satisfareis em viver escondidos nas florestas como veados apavorados!" 
Frederich Nietzsche

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créditos/internet





sábado, 26 de junho de 2021

666 - Os indígenas e o delírio apocalíptico dos missionários a respeito das vacinas... (só não estão esclarecendo quem é, afinal, a besta e a prostituta da Babilônia...)

"Missionários evangélicos têm espalhado mentiras sobre a vacina contra a covid-19 em aldeias na região Norte do Brasil, segundo requerimento entregue à CPI da Covid ao qual o UOL teve acesso. De acordo com algumas dessas mentiras, a vacina já vem contaminada da China em um plano "diabólico": usar o imunizante para marcar indígenas com o número da Besta, o 666 citado no livro bíblico do Apocalipse. Ao todo, 54.438 foram infectados e 1.072 morreram de covid-19 desde o início da pandemia entre os cerca de 1,3 milhão de indígenas brasileiros, nas contas do Comitê Nacional da Vida e Memória Indígena, formado por lideranças e especialistas em saúde para conter os danos causados pela pandemia..." UOL/SP

 Veja mais em https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/06/26/vacinacao-coronvavirus-missionarios-indigenas-tribos-evangelicos.htm?cmpid=copiaecola
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EM TEMPO: Alguém me lembra que essa idiotice dos missionários não é muito diferente daquele rito católico criado pelo Papa Clemente VI lá no século XIV, chamado 'Missa recordare contra pestem', para proteger os fiéis da Peste negra...



sexta-feira, 25 de junho de 2021

Enquanto isso...





A lábia encantadora de João do Rio/ Quando dele não há mais nem cinzas...


"O pensamento é uma mentira, como o amor ou a fé. Pois as verdades são fraudes e as paixões odores; no final das contas a eleição acaba ficando entre aquele que mente e aquele que fede"
Cioran
(IN: Breviario de podredumbre)



Costuma-se queimar incenso e lançar verborréias sobre as cinzas de alguns personagens no centenário de suas mortes. Assistindo a uma dezena de velhotes e de velhotas cacarejando sobre a genialidade de João do Rio, registro aqui também meus cacarejos publicados em 2003, como apresentação do livreto acima. E la nave va...
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Nascido em 1881 (rua do Hospício, Rio de Janeiro) e fulminado por um colapso cardíaco 39 anos depois, no Catete, João do Rio conseguiu, mesmo nesse curto período, construir uma obra densa e admirável.
Mergulhando deliberadamente nas sombras cúmplices da madrugada urbana, no mundo opaco e indeciso e no mar alto da depravação, onde sempre fervilha "gente ordinária, marinheiros à paisana, fúfias dos pedaços mais esconsos da rua", engendrou, à revelia dos sedentários e dos invejosos, uma literatura magnífica e diabólica, uma (quase) antropologia laica, uma sociologia selvagem, empírica e anárquica... livre tanto das algemas escolásticas como das pretensões da gramática ortodoxa... que, como uma Górgona do vício, à beira das igrejas, abria a fauce tragando as flores da ralé. Que só tenha descoberto sua existência agora, depois de uns 35 anos de leitura e de frequência obsessiva em sebos, alfarrábios e feiras de livros, é uma evidência, não só da gravidade de minha cegueira, mas de quão tendenciosa, parcial, falsa e fútil tem sido tanto nossa cultura como nosso mercado editorial.
Seu interesse pelo âmago das cidades, pela histeria permanente das ruas, pela vida mundana e consequentemente pelos seus atores: fanáticos religiosos, azeiteiros, cabotinos, pedófilos, cínicos, mendigos, pervertidos, larápios, presos, criminosos, imigrantes, charlatães, poetas, músicos, varicosos, em suma, pelo sistema social podre lhe rendeu não só calunias, mas socos, bombas e acusações literárias como esta, de Elisio de Albuquerque: "É um temperamento doentio, sensibilidade exacerbada, usa de uma psicologia mórbida, atormentado pela preocupação do raro, do horripilante e até do sórdido". Ou esta outra, ainda mais violenta, de Antonio Torres: "João do Rio foi uma das criaturas mais vis, um dos caracteres mais baixos, uma das larvas mais nojentas que eu tenho conhecido".
É evidente que esses pobres moralistas tinham dificuldades para suportar um sujeito que, além do talento inegável, seguia afirmando que toda a vida é luxuria. Que sentir é gozar e que gozar é sentir até o espasmo. Nós todos vivemos na alucinação de gozar, de fundir desejos, na raiva de possuir. É uma doença? Talvez. Mas é também verdade.. Basta que vejamos o povo para ver o cio que ruge, um cio vago, impalpável, exasperante. Um deus morto é a convulsão, é como um sinal de pornéia. As turbas estrebucham. Todas as vesânias anônimas, todas as hiperestesias ignoradas, as obsessões ocultas, as degenerações escondidas, as loucuras mascaradas, inversões e vícios, taras e podridões desafivelam-se, escancaram, rebolam, sobem na maré desse oceano. Há histéricas batendo nos peitos ao lado de carnações ardentes ao beliscão dos machos; há nevropatas místicas junto a invertidos em que os círios, os altares, os panos negros dos templos acendem o braseiro, o incêndio, o vulcão das paixões perversas.
Dizem os jornais da época que seu funeral mobilizou cem mil pessoas. Cem mil pessoas! Que os taxistas, emocionados, se prontificavam a transportar de graça, quem quisesse seguir o féretro daquele homem que, sabia-se, "amava o horror das coisas inacreditáveis". Qual o autor nacional, por mais vaselina e plantador de vaidades que tenha sido, já teve tamanho privilégio? Bobagem? Sim. Mas impressionante. Mesmo que essa multidão quisesse morbidamente apenas certificar-se de que ele realmente havia morrido, (um veado, um esfíncter complacente e um filho-da-puta-a-menos no mundo) mesmo assim é um número que impressiona. E insisto nisto porque a grande maioria dos escritores que morrem hoje em dia,  - mesmo os que se faziam passar por ícones da sapiência, os que passaram a vida inteira lançando confetes aqui, serpentinas acolá, fazendo conchavos nas academias, cumplicidade nas universidades e puxando o saco à torta e à direita de quem quer que fosse - mas principalmente dos endinheirados - além dos herdeiros e dos credores só têm recebido 'postumamente' a visita oportunista dos abutres da funerária. João do Rio (Paulo Barreto) que chamou atenção para a vida encantadora das ruas, que não teve medo de acanalhar-se e nem de enlamear-se nos becos onde os corpos movem-se como larvas de um pesadelo, morreu de forma inusitada aos 39 anos: num taxi. Num velho taxi que circulava pelas ruas do Catete. Deixou uma obra fascinante, curiosa, lúdica, saborosa, nômade e, mais do que tudo, vagabunda... construída na clandestinidade, nos esgotos periféricos, à beira dos cortiços, na penumbra das antigas salas de redação dos jornais e, inclusive, nos festins colonialistas das elites da época, onde  as caras continuam emplastradas pelo mesmo sorriso de susto e de súplica, multiplicando em quinze beiços amarelos, em quinze dentaduras nojentas, em quinze olhos de tormento.
Paradoxalmente, foi também um Membro da Academia Brasileira de Letras... O primeiro a entrar naquele covil envergando o fardão vampiresco, aquela capa negra que mais desqualifica e que mais mumifica do que engrandece... A luz elétrica, muito fraca, espalhava-se como um sudário de angústias .Teve sérios conflitos com a vaidade estabelecida daqueles 'literatos' que, por não terem nada que dizer e por não possuírem um mundo próprio só falavam de literatura. Viu-se envolvido com a hipocrisia dos escritorzinhos... e com o rancor incurável que se prolifera à sombra das pocilgas literárias... entre a turma das unhas pintadas e dos cuecões de seda... Entre os da laia narcísea dos conhecidos "textos-super-limpos", burilados, impecáveis, otimistas, estóicos... escritos sempre para os jurados de concursos, para as grandes editoras, para o clero e para os chefetes de turno do Congresso Nacional... Instâncias onde ainda predomina intacta a mesmice secular, o tédio reacionário, o discurso prolixo, a metamorfose do caráter, a corrupção endêmica, a frouxidão genital indisfarçável e a necessidade histórica de perpetuar miseravelmente o jogo da burrice histriônica e da submissão do populacho... Que lástima a sobrevivência desse circo! O clamor da súplica enche o quarto na névoa parda estrelejada de hóstias sangrentas.
O que me atrai em sua obra, independente da beleza natural dos troteadores e dos rueiros, é basicamente seu cinismo e seu deboche. A forma ora sutil e ora escrachada como cospe sobre a rabugice e a infâmia humana... Vibro com a tormenta de metáforas que inventa para descrever, não só a cloaca e o lupemproletariado mantido à margem (depravados, escravos sádicos, jogadores, maxixes ordinários, coristas, putas, desempregados, opiômanos), mas também a cloaca de colarinho branco (barões, condes, atrizes, politicos, charlatães as damas da recém instalada república).
Se foi um plagiador - como diziam -, um entreguista político, um 'portuguesófilo', um decadente moral, um fresco e um dandi, isto, aqui, não tem a mais mínima importância. Se fez sub literatura e se foi, como outros, um pavão simbólico do vício triunfal; se fez confusão entre um gênero e outro; se seu texto, além de 'empolado' estava cheio de delitos gramaticais, isto em nada diminui ou compromete seu fascínio e sua beleza. Não altera em nada o ângulo privilegiado através dos qual escutava e fitava a urbe enfurecida em seu delírio. Principalmente porque ele, mais do que ninguém, sabia e afirmava que a literatura é o mirífico agente do vício.
Primeiro cronista social da imprensa brasileira; membro da Academia de Ciências de Lisboa; dezenove livros publicados; amigo de Isadora Duncan e dono de um satanismo literário. O resto, é pura inveja! Ressentimento de bundões subalternos! Cólera contra a própria inércia e contra a mediocridade dos próprios limites. E quando se trata de inveja, sempre é bom lembrar que é uma doença filogenética e que o mundo é uma grande repartição pública. Repartição onde há sempre um ministro para centenas de funcionários; um ser d'exceções para milhares de outros que não passam de amanuenses da vida.
Os portugueses o homenagearam com a Praça João do Rio, em Lisboa... Os cariocas com a rua Paulo Barreto, e os bêbados de sua cidade natal com seu nome no umbral de um boteco... 
Campos de Jordão
Carnaval de 2003


quarta-feira, 23 de junho de 2021

Enquanto isso, lá em Cruz das Almas... (Quando é que se vai dar adeus à Idade Média?)

E ali na Câmara dos deputados... flechas e tacapes... Pimenta, fuzis e canhões...

 

Enganados e iludidos por todos os governos há séculos, de ano-em ano eles voltam à Brasília para ouvir as mesmas mentiras de parasitas inspirados, de interlocutores de outras cores e travestidos de civilidade; voltam para admirar os prédios espelhados; fazer algumas pajelanças e para serem humilhados... Tristes trópicos...
Assistindo a toda essa mixórdia, o M. de Sade resmungaria:
"Repare, pois, em que mãos se encontram a honra, a vida, a fortuna e a reputação de um cidadão. A baixeza, a ambição e a avareza começam a fazer a nossa ruína e a imbecilidade acaba por concluí-la... Miseráveis criaturas, lançadas por um momento sobre a superfície desta bola de lodo!"



terça-feira, 22 de junho de 2021

O médico, os gritos da paciente e o pobre pênis...

 


Nestes meses intermináveis de confinamento, poder ler os jornais do planeta inteiro pela manhã é uma maravilha. Nunca antes, se teve uma visão mais rápida, concreta e real sobre as loucuras da espécie e sobre o inferno que é o mundo. Como dizia o historiador Rétif de la Bretonne: "confesso que este brilhante bazar de vaidades e de misérias humanas me atrai, sobretudo pelos preciosos divertimentos que proporcionou à minha carne e a meu espírito".

Hoje, por exemplo, (acabo de ler) que uma mulher que está em lockdown e passando por dificuldades econômicas lá em Araraquara, teve que comer seu gato de estimação... Quer loucura maior do que esta? (...) e que ali no interior de Goiás, um médico ortopedista esfregou o pênis nas costas de uma paciente. Atenção: 'Esfregou', é o jornal, que diz. Quem tem um pênis sabe que neste contexto, o verbo esfregar da até arrepios. A noticia também diz que o médico esfregou o tal pênis nas 'costas da paciente' (ora, ou a diferença de altura entre médico-paciente era imensa ou o/a repórter deve ter preferido falar costas para não ter que falar bunda. Ou esta seria uma tara especial do ortopedista?), e também ao referir-se ao pobre pênis a matéria prefere colocá-lo no feminino e diz 'a genital'


"De acordo com a polícia, o médico estava realizando um exame médico na paciente quando pediu para a mulher ficar em pé e virar de costas para ele. O médico então disse para que ela levasse as duas mãos para trás e colocou o pênis ereto fora da calça e o esfregou nas costas da mulher. No momento, a vítima se virou novamente, viu a genital do médico e começou a gritar" (CB).

Enquanto procuro em minha estante uma antiga e valiosa crítica ao velho Hipócrates, fico tentando lembrar se no mundo da ortopedia (ou nos manuais do M. de Sade) existe alguma terapêutica que recomenda essa bizarra esfregação... 


segunda-feira, 21 de junho de 2021

O colóquio amoroso dos cachorros...




[A alguém que lhe perguntou o que queria 

dizer Deum de Deo ele respondeu: "que dê onde der"]

Miguel de Cervantes

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Este primeiro dia de inverno amanheceu ensolarado e cheio de noticias contraditórias sobre a pandemia, as vacinas, os vivos e os mortos. 500 mil mortos pela pandemia. Um número igual de cadáveres ao da seca de 1877-1879 no nordeste brasileiro... Uma suruba de informações e de desvarios que ninguém sabe onde irá parar. Continuo recebendo centenas de noticias a favor e contra as duas seitas políticas predominantes. Pura disputa religiosa em tom monocórdio! Os de ontem atacam os de hoje e os de hoje atacam os de ontem numa lengalenga tipo psicologia de subúrbio e digna dos mais caricatos pés de chinelo. Mas é a fé. E a fé move moinhos, não é verdade? Quem é que não se lembra que os lacedemônios embriagavam os escravos, para edificar as crianças com o espetáculo da embriaguez?

Nas lixeiras da padaria da esquina uma moça vestida de farrados e cercada por quatro cinco cachorros, recolhe alguma porcaria que lhe garante o sustento. De repente, um cachorro marrom, puro osso, resolve cavalgar uma cadelinha branca, igualmente desnutrida. Até já havia conseguido penetra-la, quando foram interrompidos pelos chutes da moça. Chutou o macho por trás acertando-lhe os bagos. Foi um horror! A cópula se desfez imediatamente e entre gemidos. O que teria levado aquela idiota a tamanha agressividade? Em plena pandemia, com o horror dos cemitérios, com a sexualidade do mundo congelada, como é que alguém se atreve a interromper um ato de resistência destes e logo no primeiro dia de inverno? 

O casal, ainda excitado, a olhou com fúria, atravessou a rua e foi reiniciar o ato junto às cercas de um santuário que há ali. O sol se projetou amorosamente sobre eles, a cadelinha tinha os olhos brilhantes e ele babava sobre seu pescoço... Foi uma das segunda-feiras mais interessantes e transcendentes dos últimos meses...

A mulher do mendigo K que também assistia emocionada aquele show de bestialismo, colocou-me a mão no ombro e resmungou esta frase de Isidore Ducasse: "Quando estiver na cama e ouvir o latido dos cães no campo, esconde-te sob as cobertas e não zombe daquilo que eles fazem, pois eles, como você, como eu e como todos os seres de cara pálida e alongada, têm uma sede insaciável de infinito..."

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EM TEMPO: Para não passar a fazer parte do Clube dos Mitômanos e dos Mentirosos, onde escrevi "centenas de notícias", leia-se meia dúzia de notícias.

 


sábado, 19 de junho de 2021

E o Lázaro?


"Aquele a quem não se consegue ensinar a voar, ensina-se a cair mais depressa..."

F. Nietzsche  


Hoje, sábado, décimo primeiro dia da caçada ao Lázaro, os mendigos reunidos no Parque da Cidade estavam eufóricos, uns relatando aos outros os mitos que estão sendo construídos ao redor desse foragido que está dando um baile na Justiça e que já mobilizou todas as forças policialescas do DF e de Goiás. Dizem que veio da Bahia para cá a pé, e pelo meio da mata. Que tem poderes sobrenaturais; que se guia geograficamente pelas estrelas, como os gatos;  que pode aparecer e desaparecer em segundos num ou noutro lado dos córregos; que pode fazer as armas da policia falharem; que tem deixado pedaços de velas enfeitiçadas ardendo junto aos imensos ipês amarelos. Que foi discípulo de Dona Dica. Que é um mago; um bruxo; um xamã. Que todos os animais o respeitam e o estão ajudando. Que pode transmutar-se num lobo guará ou numa Ema... Outros dizem que já voltou para a Bahia e que os granjeiros que dizem tê-lo visto são mitômanos que estão tendo visões  e alucinações. Outros delirantes dizem que o viram numa fila lá em Anápolis, esperando para tomar a Oxford Astrazênica... E os mendigos riam! Dizem que o caso saiu até na BBC de Londres, lá onde, no passado, para se divertirem, costumavam amarrar ursos em estacas e colocar sete ou oito cachorros para ataca-los.... 

E a mídia está eletrizada com o caso. Sabem que o número de assinantes aumenta com as tragédias. Não perde um lance e enfia um monte de repórteres e de propagandas no meio dos tiroteios e relata os avanços e recuos como se se tratasse de uma arruaça de bordel... Querem a todo custo registrar o ato final. Quem estaria atirando em quem, afinal? GPS, helicópteros, lanternas a lazer, cercas de arame. Cavalos elegantes e vacas encurraladas. Fuzis de última geração. A tropa fatigada. O fugitivo disposto ao juízo final... Deve saber que, como diria Cioran, a essência da vida reside no medo de morrer. Se esse medo desaparecesse, a vida perderia a razão de ser... A poeira. O isqueiro que já está sem querozene. O canto dos galos adiando a madrugada. Cheiro de milho verde. As famosas galinhadas de Goiás Velho. Os poemas de Cora Coralina no meio da balaiada...Os mosquitos da dengue, a lua, os ipês, as crianças espiando pelo vão das janelas... Cheiro de pólvora. Os hippies de Pirenópolis ligando seus baseados, olhando para o tédio dos nativos e pensando: Há entre nós uma diferença de vinte graus de latitude... Últimos dias de outono. Amanhã é domingo. Logo chegará o inverno e não apenas como metáfora. Ah! como foi negra a última primavera! Ao redor das casas o colóquio dos cachorros, como se adivinhassem que a vida é uma ficção! 

E o Lázaro? O Mendigo K lançou a hipótese dele, se não for fuzilado, vir a substituir o curandeiro Joao de Deus e que não faltarão lunáticos, gente com deformação poética para levantarem uma capela com seu nome, como levantaram uma para o Maradona lá em Buenos Aires. Imaginem daqui há dois mil anos - agregou a mulher de um dos mendigos, com um lenço vermelho de pura seda amarrado ao pescoço - o que dirão dessa epopéia e desse calvário... Sua foto será estampada em camisetas e será canonizado. Haverá o Dia de Lázaro! Será venerado e queimarão incenso em sua homenagem... (Porque, como se sabe, não foram poucos os bandidos, os dementes, os místicos e os trambiqueiros que vieram sendo canonizados e idolatrados ao longo da história!)


 



quinta-feira, 17 de junho de 2021

Onde se meteu o Lázaro???


Lástima grande que sea verdad tanta miséria...

Quase não se fala em outra coisa aqui na capital da república. Todo mundo fica grudado no rádio ou na TV querendo saber se a policia, finalmente, pegou o Lázaro, o moço que matou covardemente uma família na periferia e que tem em sua ficha outros crimes tão bárbaros como este. Todo mundo, os velhos, as crianças e até as donzelas mais singelas e femininas  querem ver o Lázaro fuzilado, enforcado numa dessas bizarras árvores do cerrado ou até mesmo boiando num dos afluentes do Araguaia. Justiceiros! Somos uma legião de justiceiros! O próprio assassino em questão deve ter cometido seus crimes sob esta lógica e sob esta justificativa.
Todo mundo correndo atrás da carruagem como cães amestrados. E por onde andará o pobre Lázaro? Um coitado que praticamente veio pela vida-a-fora cavando a própria sepultura. Que razões o transformaram nesse pobre assassino? Que o levaram a romper com o Contrato Social? A desobedecer o Quinto Mandamento apresentado por um lunático delirante lá nas Tábuas da Lei? O que o teria levado a ignorar o Código Penal? O dogma principal da civilidade?
300 policiais e muitos cachorros farejam seus passos há 9 dias. Mas, nada. Justificam as dificuldades em encontra-lo com o argumento de que é um sujeito acostumado com os subterfúgios da selva, da mata, do cerrado... Praticamente um lobo da estepe! Nem os cachorros conseguem identificar suas pegadas. Acabarão por convocar o FBI? A Interpol? A policia especializada do Putin? O serviço secreto de Israel?  
Mas o mais interessante dessa história é o fato de que todos o querem ver morto. Como se seu assassinato limpasse a história de crimes, não apenas da cidade, mas do mundo. Apaziguasse o desespero das vítimas. Como se em momentos como estes a nossa relação com a morte passasse por um solavanco... Penso nas bobagens metafísicas de Derrida: Só se pode perdoar o imperdoável!
Mas e onde estão os padres, os rabinos, os pastores e outros prosélitos   Por que ninguém levanta a hipótese de, ao invés de matar, salvar o Lázaro? O que é que os impede de ir a seu encontro para salva-lo? É fácil pregar do púlpito para ovelhas convertidas, não é verdade?
Ah!, mas é um assassino! Um criminoso! Um psicopata! Um sociopata! um bandido desprezível! Uma ovelha desgarrada! Ninguém tem dúvidas disso... Mas todos estes diagnósticos são razões a mais para tentar salva-lo. Inclusive, porque, sem importar-se com as razões de seu descaminho: (se foi a cultura, a sociedade, a família, O Estado, o diabo ou os genes que o converteram num louco e num assassino) resistir coletivamente ao impulso de vingança (de querer mata-lo) poderia representar para todos um verdadeiro ato revolucionário... 
Um salto para a civilidade! Lázaro! Que nome! Que lenda milenar e deprimente existe por detrás desse nome!
O que teria acontecido com nossa espécie, ainda lá, antes mesmo dos primórdios???.



terça-feira, 15 de junho de 2021

Você ja foi à India? Não? Então vá...


"Como são poderosos os costumes sociais! Apenas uma teia de aranha se estende sobre o vulcão, no entanto ele se abstém de entrar em erupção". K. Kraus

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A noticia acima está no jornal de hoje, aqui da cidade. Quem é que olhando para esse triste reprodutor não sente um misto de compaixão e de desprezo? Quais deveriam ser as fantasias desse pobre coitado? Mas, independente de qualquer coisa esse realmente, foi um grande fodedor! Aqui entre nós: quem é que, apesar de tudo, não tem uma pontinha de inveja de um energúmeno desses? Teria sido ele o autor do Kama sutra? O mentor das esculturas nos templos de Khajuraho?  

Considerado o chefe da mais numerosa família do mundo, 39 mulheres e quase 100 filhos, morreu aos 76 anos, lá numa birosca indiana chamada, segundo o jornal, Baktawang Tlangnuam. Olhando a foto penso em Ronald Laing: a família pode ser imaginada como uma teia, uma flor, um túmulo, uma prisão, um castelo... Além desse espetáculo reprodutivo, ridículo e desvairado, o que mais me chamou atenção foi seu nome. O grande reprodutor chamava-se Ziona Chana. Chana? Quem é que não se lembra da revista lésbica paulistana dos anos 80 que se chamava Chana com Chana


segunda-feira, 14 de junho de 2021

O Mendigo K e o Alzheimer...


"É impossível conduzir a tocha da verdade em meio à multidão sem chamuscar a barba de alguém..."

(Lichtenberg)


Nesta segunda-feira cheia de nuvens e de idiotices, encontrei o Mendigo K encostado numa dessas árvores centenárias que ainda sobrevivem por aí. Estava com uma folha de jornal onde se via de longe a manchete (principio de propaganda) sobre a nova droga contra o Alzheimer.

Bazzo, já está reservando 300 mil para reativar seu cérebro? Para comprar o tal Aduhelm e livrar teu cérebro de suas placas de Beta amilóide? (deu uma gargalhada). Veja que idiotice! 300 mil reais! Declínio cognitivo um caralho! Esses cretinos não tem mesmo vergonha na cara! Quero que enfiem essa droga no rabo!

E depois, que estranha obsessão da "ciência" por querer manter a memória do velhos! Isso não te parece mais a um moderno tipo de sadomasoquismo do que a outra coisa? Obrigar o outro a lembrar-se! Lembrar-se? Lembrar-se de quê? Manter a memória de todos esses anos ridículos de abominações e de putarias? Desse banho de sangue estúpido e dessa sucessão de cambalachos que foi história do mundo? Ora! Querer sabotar esse período idílico em que os velhos poderiam enfim, livrar-se dos registros de um passado medíocre e vergonhoso... é uma sacanagem. Esquecer! Como deve ser um alivio esquecer-se de toda essa mixórdia...

E depois, (aqui entre nós) nada é mais poético e transcendente do que ver os velhinhos ziguezagueando por aí, tropeçando em alfinetes e nas nuvens e falando com as borboletas, sem saber a rua onde moram, se estamos em 2021 depois de Cristo ou em 4356 após Berlusconi... Vasculhando o mundo em busca de alguma porta para o infinito... Cumprimentando jumentos; espantando pernilongos com a bengala; jurando que participaram da construção épica do mundo... que aportaram em Galápagos com Darwin e que viram juntos a anunciação de uma santa, a mesma que apareceu lá em Portugal mil anos depois a três adolescentes autistas...  Dizer que foram amantes de Lilith... Que foram advogados de defesa de Cain... A velhinha que encontro com frequência no mercado, - me disse com ironia -, jura que costuma sair das sessões espíritas sempre de braços dados com personagens famosos, tipo Calígula e Savonarola... que dão umas voltas pela cidade, pelos cafés e pelas igrejas e que acabam indo fornicar nos fundos do Palácio do governo...  Falar com ela é uma maravilha! Conseguiu livrar-se do condicionamento da memória e da baboseira cultural... 

Foi se retirando cinicamente depois de bradar:

300 mil reais! Quem é que não sente nojo por essa gente? E são os canonizados apóstolos da ciência! A santidade das farmacêuticas! Os humanistas do G7! Que enfiem essa droga no rabo e que Viva o Alzheimer e o esquecimento!!! O mais profundo dos esquecimentos... Viva a cândida solidão dos velhos... (com seus 300 mil enterrados no jardim e a salvo dos larápios e das farmacêuticas...)

 
 


domingo, 13 de junho de 2021

E saber que desde o momento em que levantamos até a hora em que voltamos para a cama, vivemos 'cumprindo ordens' dessa gente...


 "Os políticos fazem politica tal como as cortesãs fazem amor: por profissão... Que grande politico seria Judas... (Tournier)




G 7! Sem nenhum exagero, é patético pensar que desde que acordamos até a hora que voltamos para a cama, vivemos submetidos às regras, às decisões, à politica, às crenças, aos produtos e a um mundo gerenciado por essa gente. Do pão ao papel higiênico; da pasta de dente aos chinelos; do shampoo aos remédios; do telefone ao computador; das cordas do violino aos cordões do sapato; das teorias politicas às ficções religiosas; da pré escola ao doutoramento; do berço à tumba. E olhem bem para a expressão corporal deles. É ou não é uma vergonha nossa submissão? Que melancólica situação de dependentes e de subalternos a nossa! De um shipp a um trator! Dos sedativos aos excitantes! Os cartões de crédito que movem nosso dia-a-dia; as lâmpadas que iluminam nossas casas; os currículos das universidades; os partidos; os institutos de pesquisas; e até a fonte da água que bebemos são coisas controladas por eles. São eles que pautam os noticiários e a mídia. Apesar do teatro, democrático, tanto a da direita como a da esquerda são movimentadas por controle remoto, inclusive quando indicam os best sellers para o rebanho. Ah, o mercado editorial! O oxigênio!  A Bolsa de Valores é uma 'caixa preta' manipulada por vira-latas; a ciência é completamente financiada e manipulada por banqueiros e por forasteiros. Funcionamos como um laboratório experimental para questões de saúde e de gênero. Sem falar das macaquices identitárias.... O normal e o patológico continuam sendo ditado por uma confraria alienígena e clandestina. E o chocolate? Levam uma tonelada de leite, outra de castanhas, outra de cacau, outra de açúcar e nos devolvem uma barra de chocolate... Que merda de lógica mercantilista é essa?E muitas teorias vigentes nos campos médicos e sociais defendidas por aqui, também são importadas no cambio negro e não nos dizem respeito. Por incrível que pareça, há também um imperialismo intelectual, as famosas universidades mandarinescas descritas pelo Tratemberg. Quando se fala nas universidades e nos 'laboratórios' de lá, todos ainda se põem de quatro, como há três séculos atrás! Pensem na Delinquência Acadêmica, do M.Tratemberg. Na pedantocracia: "A universidade mandarinesca - dizia ele - tem como função básica formar a mão de obra dócil que servirá à reprodução ampliada do capital, formar os 'doutores', ‘técnicos’ que agirão como comissionados do capital, produzindo um saber a serviço do poder...(...) A antropologia ocidental desenvolveu-se ligada ao colonialismo, permitindo a emergência de um novo tipo de intelectual: o 'antropólogo' colonial, a serviço da administração inglesa, holandesa ou francesa, sugerindo ao poder medidas oportunas para a manutenção do colonialismo."
Quando é que, finalmente, nos colocaremos em pé?
 Em cada esquina há uma corporação; uma mina, uma fábrica; um latifúndio; uma Sociedade Anônima. Uma seita; uma fila de cães farejadores. Uma milícia sócio-cultural especializada em idiotização e em assaltos... (entenda-se mercado financeiro). 
E nesta semana estão novamente se reunindo para tratar de nossas vidas e de nosso porvir, alias, fazem isso todos os anos. O Terceiro Mundo é o prato preferido deles. Estariam preocupados com os 50 milhões de miseráveis aqui do Brasil e com os outros tantos famintos da América Latina... Mas e o Haiti? Não é aqui?
Ah, mas não sejam ingratos, tenham paciência - ouço de um sabujo - que agora estão comovidos e decididos a nos mandar 800 milhões de vacinas, antes que percam a validade e que apodreçam em seus porões. Tudo bem, mas e até quando os fodidos daqui, da Africa, da Ásia e da América Latina terão que suportar e pagar essa divida? Que grande estadista seria Judas...
 tendo Cain como vice...
Lá longe o rufar dos tambores... (que, aliás, também são produzidos pelos mesmos monarcas...)

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Por que não te calas? O que estaria acontecendo com os argentinos?




Nos anos 70/80 ir para Buenos Aires era um luxo. Eles próprios se pavoneavam de que era uma espécie de Paris tropical. E era mesmo. Na Universidade Nacional Autonoma do México (mestrado/doutorado/psicologia) os mais renomados professores eram argentinos. No metrô de Paris eram os argentinos que empunhavam todos os dias um sax ou uma guitarra, e em Buenos Aires a psicanálise era de dominio até dos taxistas. Havia mais livrarias do que chinchulines & parrilladas e nos trens, nos onibus e na rua, todos liam alguma coisa. Marie Langer; Borges; Roberto Arlt. Havia uma arrogância sim, mas que ainda não havia adentrado ao território da patologia. Já ironizavam o Brasil e outros países vizinhos pela predominância de indios e de negros porque eles, os haviam eliminado a todos e se esforçavam para se confundirem com os colonizadores europeus. Quase como o que mais tarde veio a chamar-se Síndrome de Estocolmo. (O sequestrado que passa a idolatrar o sequestrador…) Uma arrogância miserável e infantil e de quem recém havia trocado os tamancos pelos sapatos. Sonhavam de forma mística e contemplativa com a volta da Evita, espanhola e mulher do Peron. Mas nada disso comprometia a exuberância do país. Piazzolla e seu Adios Nonino nas radiolas... Ir de 'trem' até la Tierra del fuego, ou de 'barco' pelo Rio de La Plata até o Uruguai, com meia garrafa de vinho na bagagem ou o estômago, por exemplo, era uma maravilha…

Depois foram submetidos a longos anos de uma ditadura cruel e estúpida. Eu mesmo que chegava dos Andes com uma moça peruana e dois brasileiros, fiquei um dia preso num porão de São Salvador de Jujuy. Mas a policia contentou-se em saber que os 4 descendíamos de famílias Católicas Apostólicas Romanas 

(ainda não haviam criado a igreja do Maradona). Depois foram humilhados pelos ingleses no conflito das Malvinas… E por fim elegeram um Papa que há uns quinze dias atrás falou uma merda imensa sobre os brasileiros e a cachaça.

Uns dias depois, na semana passada, uma repórter da televisão argentina, ao noticiar a morte por covid19 de um cidadão britânico que se chamava Shakespeare, o fez como se se tratasse do W. Shakespeare, o tal dramaturgo que escreveu A violação de LucréciaAs alegres comadres de Windsor, entre outras obras universais e que morreu há mais de 4 séculos…

E agora, ontem, aparece em publico o Presidente daquela República, (um senhor que se diz de esquerda) acompanhado pelo Premier espanhol para dizer a seguinte merda preconceituosa: Os mexicanos sergiram dos índios e os brasileiros sairam da floresta.., enquanto nós, chegamos em caravelas, da Europa.😎 Um eurocentrismo falacioso e babaca! E ainda atribui parte dessa asneira a Octavio, Paz, o escritor mexicano que escreveu El labirinto de la soledad. O que estaria acontecendo com a Argentina? E com os argentinos?

E o premier espanhol que o acompanhava e que testemunhou essa patifaria, perdeu a oportunidade de repetir a ele a pergunta que o rei espanhol fez, no passado, ao Chaves, da Venezuela, quando aquele também cacarejava alguma merda anti civilizatória: Por que não te calas?

Atenção: Se o mundo não inventar com urgência alguma outra maneira para selecionar e melhorar o caráter e o perfil dos políticos, todos acabaremos enfiados de cabeça na merda...



 


quarta-feira, 9 de junho de 2021

Montjoie! Saint Denis! Abas la macronie!

Ontem, no interior da França, um sujeito da extrema direita francesa, meteu a mão na cara do Presidente Macron, ao mesmo tempo em que gritava este slogan medieval: Montjoie Saint Denis! (sabe-se lá o que isto quer dizer!). Segundo os bolsonaristas que ontem à tarde enchiam a cara ali no boteco da esquina, a tradução era a seguinte: "Seu merda, por Saint Denis, não se meta nunca mais com os incêndios e com os madeireiros da Amazônia!"
 

 
 


terça-feira, 8 de junho de 2021

2 fotos publicadas hoje no Clarin de Buenos Aires...





ASSEDIO - O tal presidente da CBF e a pergunta maldita: você se masturba?


"A dança de Davi diante da Arca se tornaria pecaminosa, se, com os mesmos movimentos, Davi, em lugar de pensar em Deus, tivesse pensado na moça de dezoito anos Abisag Sunamitis." (Pitigrilli, p.77, O umbigo de Adão)



Os casos de assédio sexual, que se multiplicam mundo a fora, além de evidenciarem que a Roda da História está girando para trás e que ainda não saímos da Idade da Pedra, escancaram duas informações importantes sobre a espécie: os homens estão cada dia mais estúpidos e as mulheres cada dia mais reprimidas. O caso recente sobre o Presidente da CBF (CBF? Como é possível que exista uma CBF?) com sua secretária, está excitando as donas de casa e principalmente a multidão de filiadas à Liga Anônima de Misandria...

O Mendigo K, desde sua larga experiência sobre o assunto, me dizia:

Bazzo, independente da burrice e do mau caráter de seu chefe, se a tal moça fosse adulta, (ao invés de gravar sua fala como uma criança indefesa para, em seguida, denúncia-lo), teria várias alternativas diante daquele acosso sexual, alternativas que lhe garantiriam, ao invés dessa babaquice pueril, um pouco do sonhado empoderamento e da dignidade perdida:

1a. Ah, chefe! então o senhor está enjoado de sua mulher e pensa em comer sua secretária? Mas isto é um equivoco que lhe custará muito caro. Pense nos Tribunais da Impotência, na moralidade vigente e principalmente na milícia feminina! E depois, neste caso, lhe ficará muito mais barato pegar uma puta profissional. Inclusive, bem mais experiente do que eu. Pague lá dois três mil reais por mês e fica tudo certo. A não ser que tripliques meu salário e que me transfiras imediatamente para a Diretoria principal da empresa. Seria uma honra para mim estar lá naquela sala refrigerada e ao lado das estatuetas prateadas do Tostão, do Rivelino e do Garrincha... Mesmo assim, não será um bom negócio para o senhor, porque poderei prejudicá-lo e arrancar-lhe um ou dois milhões na hora que quiser além de joga-lo na sarjeta. Lembre-se: independente da verdade, os tribunais sempre o condenarão! Porque cada vez que um juiz ou uma juíza condena um assediador, ele ou ela tem a ilusão de estar despistando e borrando sua própria trajetória e até seu próprio desejo... E uma foda, chefe, convenhamos, mesmo que seja com uma princesa ou com uma deusa do Olimpo, não vale tudo isso, não é verdade?

2a. O senhor fica surpreso pelo fato de eu morar com dois amigos e pergunta se tenho relacionamento íntimo e sexual com eles? Evidentemente! Uma semana com um e uma semana com outro. Além disso, de vez em quando, nos finais de semana, levo para casa uma amiga querida para afastar o tédio e para turbinar a relação.

3a. Se me masturbo? Ora chefe! Não seja ingênuo e idiota. Desde os 9 anos! E quase diariamente. E, o mais importante: no auge de minhas convulsões não penso em homem nenhum, mas na minha antiga professorinha de Boas Maneiras, uma freirinha lá do Sacrè Coeur que era quase um anjo...

Entende, Bazzo? Ela diria isso ao conquistador barato e concluiria: É verdade, chefe, "poucas mulheres honestas existem que não estejam fatigadas de seu ofício", mas ainda não é o meu caso... e chega de papo furado. Vamos trabalhar que o vírus e a Copa América estão aí. 

Se fosse assim.., (se sexo não continuasse sendo Coisa do demônio), com masturbação ou sem masturbação, tudo seria esquecido... Sem traumas... Sem tribunais... ninguém estaria chantageando e humilhando ninguém e seríamos bem mais saudáveis, bem menos rancorosos, bem mais felizes e, o mais importante: estaríamos começando a entrar na pós modernidade...







segunda-feira, 7 de junho de 2021

As eleições no Perú e Cesar Vallejo no Cemitério de Montparnasse...


 Apesar do chapéu e de ser professor, possivelmente o adversário da filha do Fujimori vencerá hoje as eleições no Peru. 

Apesar da vizinhança, os brasileiros não têm mais do que duas ou três informações sobre aquele país. Sabem alguma coisa dos Incas; de Machu-Pichu; do restaurante Astrid y Gastón e do Ismael Gusman, aquele guerrilheiro do Sendeiro Luminoso que o pai da candidata prendeu nos anos 90 e que o exibiu sem piedade ao mundo dentro de uma jaula. 

Mas existe um outro personagem importante daquele país: o poeta e dramaturgo Cesar Vallejo. Um louco que saiu do Peru para ir viver e morrer na penúria em Paris. Quase todo mundo já leu sua peça: La piedra cansada. Quem visita o Cemitério de Montparnasse, lá na capital francesa, vai deparar-se quase que automaticamente com sua tumba. Sobre a lápide, uma inscrição bem latino-americana: en el dia en que yo nasci dios estuvo enfermo... 

Havia, nas laterais do granito, dois vasos com Narcisos recém plantados, plantas que, segundo os floristas lá da entrada, simbolizavam o entorpecimento da morte, de uma morte que todo mundo quer se iludir de que é apenas uma outra e efêmera espécie de sono...

Na tarde em que fiz a foto, estava lá, nos arredores, uma delegação de poetisas peruanas. Pareciam freiras. Uma delas até dizia ser sobrinha do famoso trotskista Hugo Blanco Galdos. Cochichavam em quetchua e pareciam horrorizadas com a dureza do epitáfio mas, assim mesmo, seguiam fazendo elegias e lamentos à breve existência do compatriota morto...



Aldo Rebelo, os militares e Bakunin...

(Noticia do CB de hoje)



"O POVO MOSTROU-SE INCAPAZ DE SUA PRÓPRIA SALVAÇÃO"
M. Bakunin

Achei quase poética a declaração do Aldo Rebelo (antigo e fiel discípulo de Marx) de que a decisão do exército de não punir o General Pazuello, "foi um habeas corpus para a anarquia". Claro que para ele, neste contexto, a palavra anarquia é sinônimo de bagunça, mas, mesmo assim, o que pensariam dessa bobagem o velho Kropotkin, M. Stirner, Malatesta e sua turma? 
Para quem não sabe, o conflito dos comunistas com os anarquistas é quase tão antigo como o mundo, mas ficou mais explícito lá na Primeira Internacional, organizada por Marx, e desorganizada por Bakunin. Que se tratava de uma competição e de uma disputa entre dois loucos geniais, ninguém tem dúvidas.., um confronto que causou frisson naquela Europa Vitoriana, reacionária, bonapartista e beata. 
Com o argumento de que "o Estado, em vez de tornar-se logo a materialização e o instrumento dos trabalhadores, torna-se, na mão dos burocratas do partido comunista, um novo instrumento de opressão" (Stálin o demonstrou, mais tarde) e de que "o povo mostrou-se incapaz de sua própria salvação", (Nossa experiência recente o demonstrou) Bakunin, no Congresso de Haia de 1872, tumultuou de tal forma a Internacional que acabou expulso, com todos seus réprobos. De lá para cá, (e olhem que já fazem uns 150 anos) os partidos comunistas e derivados atravessam a rua quando identificam um anarquista...
O Aldo Rebelo realmente é um poeta! Só um poeta trovador poderia acreditar que os anarquistas estivessem esperando por um habeas corpus... Bobagens! Seitas & utopias com roupagens diferentes! Truques para passar o tempo! Um evangelho travestido! Uma nostalgia por um reino e por um paraíso que nunca existiram...
E nestas manhãs esplendorosas de sol, quando passo por meu computador, ele me indaga: E aí Bazzo! A quê horas vamos escrever algo sobre as merdas do cotidiano? Atendo de imediato ao seu chamado, me sento e escrevo isto, não por nostalgia barata e nem por algum gozo especifico pela história das masmorras do mundo, mas por puro ócio. Por estar em casa há quase dois anos esperando Godot; vendo pela janela a repugnante realidade e as lonas coloridas dos circos se armarem e se desarmarem, com seus ciclotímicos e neuróticos se engalfinhando e se multiplicando igual ao vírus, fazendo caretas e se agitando... mas sem que aconteça verdadeiramente nada que turbine meu tesão pela espécie e pelo mundo... 


 




 

domingo, 6 de junho de 2021

O Mendigo K ainda na fase maníaco/revolucionária...

Hoje, domingo, sem grandes novidades, o mendigo k. esteve na padaria francesa para comprar uns brioches, segundo ele, para sua "nova esposa". Outra? Pensei na frase maligna de um velho pederasta que costuma aparecer por lá caçando trabalhadores fodidos, desempregados e desiludidos.., lupemproletariado: "quem não se contenta com Uma, merece várias!"

O Mendigo K., ainda entusiasmado pelo papo de ontem sobre Dialética Materialista e Materialismo Histórico agora, como se estivesse falando da Primeira Missa no Éden, veio falar-me da Primeira Internacional Socialista ocorrida na Inglaterra, lá por 1865. Sabia que dos quase 5 mil membros que participaram, a grande maioria era de trabalhadores da construção civil, de pedreiros e de sapateiros?

A propósito - continuou -  já exerci esses três ofícios...

Fez um silêncio breve e saltou para outro assunto: Sabia que a anarquista que deu dois tiros em Lênin chamava-se Dora Kaplan?

Como percebeu o meu e o desinteresse geral dos presentes, retirou-se agressivo, depois de lançar esta frase retumbante sobre todos que o olhavam com curiosidade:  Bando de reacionários fdp! Como dizia Lênin de Kerensky: "... ficam aí tocando balalaica para enganar os operários e os camponeses..."

O sol havia desaparecido e da igreja da frente vinham até a boulangerie fragmentos da fraseologia apocalíptica de um padre: Dóminus vobiscum




Enquanto isso...

sábado, 5 de junho de 2021

O Mendigo K e a dialética materialista...


"Sendo a vida o que é, logo sonhamos com vinganças"

C. Baudelaire

(Citado por Edward Hyams)

Aos sábados, costumo dar uma volta aqui pelos arredores para lubrificar os joelhos e as canelas e ver o mundo. De vez em quando vejo um velhinho caquético encontrando outro tão caquético quanto ele que se abraçam quase em lágrimas e exclamam, um para o outro, quase ao mesmo tempo: você ainda está vivo!? E riem, melancolicamente.

Num dos quiosques de uma feira que é montada aos sábados no meio da quadra, onde são vendidos frangos, ovos & derivados e também meu livro: Viagem ao fundo dos galinheiros ou Por quem os galos cantam, deparei-me com o Mendigo K. Estava encostado numa das colunas da barraca e dando uma aula sobre dialética, ao dono do quiosque. Fingiu que não me viu. Eu lhe retribuí a gentileza. Ouvi que dizia, num arremedo de arrogância, aquela arrogância comum nos mestres de Ciências Políticas e nos militantes aposentados:

Dizia: a palavra "dialética", Hegel a surrupiou de Platão alterando-lhe o sentido. A tese era a idéia, a antítese era a antiidéia e a síntese viria a ser dada pelos acontecimentos.  Marx, com seu faro e seus furúnculos em efervescência, sentindo cheiro de idealismo, e percebendo que historicamente é a necessidade e a prática que geram a idéia, deu uma reviravolta na quase teologia de Hegel e engendrou a dialética histórica. O materialismo histórico, do qual, uma das manifestações era a guerra entre as classes...

O dono do quiosque o ouvia, já visivelmente irritado, mas não se atrevia a ser grosseiro. E o Mendigo, meio  fanático e inebriado, prosseguia, agora retirando do bolso duas páginas, onde foi lendo: A classe social que está no poder gera, de suas necessidades, uma classe mais baixa que é forçada, na medida que vai crescendo, a derrubar a classe dirigente para assumir o poder. Foi assim que, nas revoluções da Europa Ocidental, nos séculos XVII e XVIII, a burguesia arrebatou o poder das mãos da aristocracia feudal em guerras de classe. Uma vez estabelecida no poder, a burguesia gerou o proletariado para servir aos seus propósitos econômicos. E agora é o proletariado  que deve levantar-se para tomar o poder das mãos da burguesia... (fez um breve silêncio e completou) Marx considerava isso inevitável em vista de ser ditado por uma indiscutível lei da história...

O dono da feira provocou: "Mas então, pensando dialeticamente, também o proletariado, se um dia chegar lá, será deposto e expulso? Mas por quem?

O mendigo vacilou por uns instantes e tentou emplacar a demagogia clássica: "Não, não, esse processo não é infinito, e pelas seguintes razões..."

O feirante deu uma gargalhada desafiadora, não deixando que ele continuasse e resmungou: não me venha com mais teologias, meu amigo. Nós aqui, somos todos discípulos de Bakunin ou de Hobbes! 

E pegando uma faca imensa que havia sobre a mesa, passou a descascar uma abóbora japonesa para atender a uma cliente de uns 90 anos que, com epidemia ou sem epidemia, só sai de casa uma vez por mês, enquanto resmungava em voz alta: estamos de saco cheio de ficar respaldando códigos divinos imaginários! Nossa fúria não é social, é existencial! Cada dia acreditamos mais em Hobbes: O Homem é o lobo do homem! Seu babaca... 




quarta-feira, 2 de junho de 2021

CPI - A médica Luana Araujo (a Breve)

A presença da médica infectologista Luana Araujo hoje na CPI, foi uma espécie de exorcismo daquele lugar onde ontem foi protagonizado um festival de mau caratismo contra outra médica, a N. Yamaguchi. Um dos senadores chegou a dizer que ela era como um feixe de luz naquele ambiente...

Foi um show de beleza e de qualidade.

Não se sabe se porque assistiu ao massacre sofrido pela Yamaguchi ou se porque quis exaltar a Tradicional Família Mineira, a médica levou seu pai a tiracolo. Um senhor que também é médico, e mais: ortopedista, que ficou plantado a seu lado durante todo o "interrogatório". Imaginei, sem maledicência e sem aleivosia um ortopedista de plantão!

No meio de suas primeiras palavras já lançou um míssil sobre os nobres senadores:  "conto com a civilidade de vocês". Só o fato de ter trocado o [vossas excelências] por vocês já deu a dimensão de seu propósito. E uns momentos depois lançou sobre eles, num tom meio amoroso, esta outra frase tão herética e profana como a primeira: "Eu não pertenço a nenhuma esfera das quais os senhores estão acostumados!" Sem falar de seu frequente movimento da mão esquerda jogando a cabeleira para um lado... O exorcismo já havia iniciado.

E os senadores, que estavam de ressaca da vergonha de ontem  ficaram pianinho e bonzinhos do principio ao fim. E ela deu um baile de lucidez e de conhecimentos. Usou umas metáforas inebriantes tipo: "vácuo quântico"; "neo-curandeirismo"; "vanguarda da estupidez"; "discussão delirante"; "politização esdrúxula ; "iluminismo às avessas" e etc. Sepultando de vez aquela masturbação interminável e policialesca sobre o uso, ou não, da pobre cloroquina.

Como deve ter percebido que as médicas que a antecederam  exageraram na exposição de suas especialidades e que foram massacradas (possivelmente por isso), foi prudente com seu curriculum, exibiu-se com frugalidade, mencionando basicamente o Johns Hopkins. Eu, sabe-se lá por que, tenho um leve preconceito com essa instituição, mas alguns dos senadores, quando pronunciavam seu nome, pareciam tremer o lábio inferior e levitar na cadeira, como se se tratasse do Santo Graal ou de algum templo que os malandrins do passado haviam esquecido de registrar num pé de página do Antigo Testamento...

E o papo foi longo. A técnica investigativa/policialesca até então praticada lá não funcionou com a Luana. E ela foi o primeiro violino em todas as questões. De vez em quando, com o braço esquerdo, voltava a jogar a cabeleira para o alto o que, talvez, até irritasse a maioria de lá, já com calvice concluída ou em andamento. E o papai, como uma estátua de sal, ali no lado. Pensei em Édipo, mas muito fugazmente. Alguns senadores, provavelmente da TFP de seus estados até se emocionaram e enalteceram a presença do pai. Ah! A Sagrada Família! A família tradicional ainda está viva! E quando ela revelou espontaneamente à platéia o nome de seu herói eu pensei novamente na metafísica de Lacan: Le nom du père...

Algumas discussões delirantes iam e voltavam, mas tudo transcorreu na mais perfeita ordem. Voltou-se a falar em meta análise; nos axiomas clássicos da política e da saúde; nas lacunas na formação médica; nos negacionismos; na tática dos dois bandos para, dissimuladamente, abocanhar o poder; na diferença entre vírus e bactérias; na imunidade de rebanho; na mutação frenética dos vírus; em queijo suíço e outros truques da linguagem para se fazer entender. E todo mundo parecia querer jurar que estava e que sempre esteve do lado da ciência. Ciência! Muita ciência! A ciência acima de todos! Quase um misticismo! Uma ficção esotérica! Até quem acredita que a terra tem o formato de uma serpente, parecia estar convertido à ciência. E claro, voltavam à metafísica da meta-análise e dos estudos randomizados... (Que porra é essa?, ouvi um senador cochichando para outro).

E a vacina balizava todas as falas, como se fosse uma espécie de óleo da extrema-unção A Vacina! A vacina! Ai, meu Deus! a vacina! Como se ela nos garantisse uma espécie de felicidade, de imortalidade e até de eternidade. Naqueles momentos eu, que não desejo para mim e para mais ninguém, nem a imortalidade e nem a eternidade, pensava em Ésquilo, aquele lunático dramaturgo grego  que passeando pelos jardins de Siracusa, foi surpreendido por uma águia que deixou cair sobre seu crânio a tartaruga que levava no bico e que, como dizem os médicos, "o levou a óbito..."

Quem é que não se lembra dos tempos em que a ciência e a religião se enfrentavam nas academias e em baixo de cruzes com espadas e no meio de fogueiras? Achar que aqueles tempos ficaram para trás é ingenuidade. Só aqui nesta cidade existem uns trezentos desses prostíbulos sagrados. As crenças e a fé são mais ou menos como os vírus, podem ficar milhares de anos hibernando e de repente voltam à cena, já com outras cepas, quase sempre mais  tóxicas e venenosas.

E falavam da OMS da FDA, da ANVISA e de outras organizações paralelas como falam de Notre Dame; da Catedral de Chartres; de Aparecida ou da Colina do Horto de Juazeiro do Norte... Mencionavam os médicos como apóstolos e os cientistas como seres de uma Tribo Sagrada! Eu ia ouvindo aquela espécie de 'autismo coletivo', só pensando no significado da misteriosa metáfora da médica: vácuo quântico!

E o Ato Médico, doutora? E as mãos? Álcool em gel! Quase com a mesma função da água benta. Lavar-se as mãos! Pilatos foi o primeiro cínico a defender essa assepsia. E, curiosamente, a tese de Celine, em 1924, foi sobre Ignace Philippe Semmelweis, obstetra que lá num hospital de Viena, (1845), sacou que era necessário obrigar seus médicos a lavarem-se as mãos antes de se fazer um parto se não se quisesse infectar e matar a mãe e a criança. Quase foi linchado pelos colegas... 

E as gotículas que saltam de nossa boca? E o beijo? E as lambidas?Quanta gente qualquer um de nós já pode ter assassinado pelo mundo... (crime culposo ou doloso!)

Conversa vai e conversa vem, com todo mundo meio exausto de tanto dançar sob a batuta da infectologista, mas praticamente convertidos e loucos por uma 'verdade definitiva' ou por uma 'cláusula pétrea' sobre o assunto.., e foi então quando ela lançou este ultimo e chocante balde de água fria sobre aqueles pobres prosélitos enfiados atrás de suas burcas: 

É bom não esquecer o ditado antigo: tanto na medicina como no amor: nem SEMPRE, nem NUNCA...

O exorcismo estava concluído e o vácuo quântico se fez presente, mas com uma novidade que até então nem os místicos mais alucinados haviam imaginado: algumas das tais 'partículas virtuais' já não conseguiam nem interagir entre si... Segundo o Mendigo K, na verdade, estávamos diante de um vácuo cósmico!

Quê barbaridade!!!

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