"Porque, meu amigo, quando um Jeová tem apenas contra si um Satanás, tira-se bem de dificuldades mandando carregar mais uma legião de arcanjos; mas quando o inimigo é um homem, armado de uma pena de pato e de um caderno de papel branco - está perdido..."
Eça de Queiroz
O país finge respirar aliviado com o término das eleições, como se realmente tivesse acontecido alguma coisa transcendente; alguma espécie de epifania, de ressurreição da dignidade, do progresso, da ordem, da democracia, da auto-estima, da soberania, da esperança, da inteligência... E os responsáveis por esse teatro confessam estarem satisfeitos, bem satisfeitos, mesmo com os quase 40% do rebanho que disse NÃO e se negou a fazer parte dessa puerilidade política.
Agora, os municípios têm lá suas autoridades, seus gerentes, provedores administradores. Duvido que 98% dos eleitos tenham lido mais de um livro na vida.. E o problema disso, é que como dizia o falastrão Monteiro Lobato, quem não lê, mal fala, mal ouve e mal vê. O que pode fazer de respeitável, um sujeito, cuja personalidade, caráter e imaginário, foram construídos apenas com conceitos, mitos e postulados da sub-cultura oral? Como é possível dar uma procuração em branco para um sujeito desses?
Mas... como os eleitores também nunca leram nada, fica tudo por isso mesmo. Não é verdade? Churrascos, costelas de porco com cachaça, missas, obesidade, inaugurações, batismos, futebol, discussões entre palhaços, funerais, festas de fim de ano e as futuras eleições.
No Rio de Janeiro, por exemplo, elegeram novamente um sujeito que já foi prefeito duas vezes. Será que gostam daquele miserere todo? Claro, não havia outro! E em São Paulo, continua na cadeira magistral, um sujeito que nos tais "debates" não deu um pio sobre a cloaca que é o Rio Tietê. Será que a população está viciada naquele chorume? Será que adora ver aquela espuma sanguinolenta e fétida passando pelo fundo das mansões? Mistérios. Vitória da esquerda? da Direita? Dos ambidestros? Não sejam idiotas, toda essa gente fuma no mesmo cachimbo. Duvido que alguém me aponte uma diferença significativa entre os energúmenos de um bando e os de outro. E não demorará muito para que tenhamos eleições também para definir se a igreja predominante deverá ser a católica ou a evangélica. Se a Bíblia deverá ser a dos Mórmons, a de Lutero, a dos espíritas ou a dos padres. Clichês, ladaínhas, palavreado fútil e viciado, disputas familiares, feudos... um horror... Um rebaixamento social.
Se a coisa continuar assim, num futuro próximo, estejam certos, voltaremos a viver na copa das árvores...