quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Na era do smartphone...e da vida em sursis...

 


Cinismos: - 1. E a noticia de que o STF teria solicitado à FIOCRUZ uma reserva especial de vacinas para os ilustres ministros? 
2. E os camelôs do Rio de Janeiro, que estariam vendendo a vacina por 50 reais, ou por 60, já aplicada? Que tal? Quem disse que a epidemia é o pior dos males?

3. Nestas vésperas do Natal, meu telefone não para de tocar.  É a Oi, a TIM, a Claro e a Net me falando de fibra ótica e do 5 G (no início até pensava tratar-se do Ponto G); é uma farmácia que diz estar com Viagra em promoção; uma casa que faz contrabando de charutos cubanos; uma distribuidora de Vermouth de Milão (1760) e que diz ainda usar a formula com  absinto e outras ervas, inventada por Hipocrates; mulheres que dizem que me conheceram num saco de dormir em baixo de uma mesa num navio que ia da ilha de Patmos para a Turquia; gente procurando por um tal Espedito e por uma tal Elisangela... E são ligações vindas de todo o país. Bloqueio um telefone do Amazonas e voltam a me fazer a mesma pergunta de São Paulo. Elisangela? Sim, ah!, a Elisangela sou eu!, respondi na última vez que me ligaram. Mas e essa voz de macho? Me indagaram do outro lado da linha. Ah, respondi, é que eu era Elisangela, mas, agora virei homem... Numa outra vez, digo que a Elisangela ingressou na congregação dos Cartuxos de Parma ao mesmo tempo em que gerencia um bordel na periferia de Brasília... Mas não se rendem e voltam a me ligar... Sobre o Espedito, digo que deixou de ser engraxate e que agora é fabricante de harpas no Paraguay, mas que, de vez em quando, pilota os submarinos lotados de cocaína que vão de Bogotá à Ibiza... No outro dia, as ligações se repetem... Ninguém toma providencias?...

Agora.., a ligação mais curiosa foi a de hoje, quando eu tomava uns tragos de vermouth, ouvia uma música do Pink Floyd e me iludia de ainda estar com uns 28 anos. Numa ligação vinda de Minas Gerais, uma moça gentil e até sedutora, foi logo me garantindo: depois desta ligação sua vida vai ser outra, e passou a oferecer-me um plano funerário.

Confesso que com aquele fundo musical, esta foi a experiência escatológica mais surrealista de 2020... 

Procurei entrar em detalhes sobre a roupa mortuária que eles ofereciam, sobre a marca do forno crematório e o destino das cinzas, mas ela não dominava bem estes assuntos. Disse-lhe, por fim, que era muçulmano e que, para manter a tradição, queria ser cremado pelado. Ao que ela respondeu: Ah, Dr., então não vai dar certo, pois o dono da funerária é judeu e exige que o morto esteja sempre com aqueles chapéus pretos e com aquelas tranças enroladas nas orelhas... Sabe como é..?

 Aproximei o telefone da caixa de som no exato momento em que um daqueles bobalhões do Pink Floyd dava uma sinistra gargalhada. Ela desligou...

Sinceramente: a vida é ou não é, um circo?, um picadeiro em franca decadência?

2 comentários:

  1. Eu adorei este post... não sei o que dizer... sem palavras!

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  2. Ézio mais uma história surreal ou nem tanto...

    https://www.uol.com.br/esporte/reportagens-especiais/o-harem-de-saul-klein/#cover


    https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2020/12/27/ex-funcionaria-de-klein-acusa-media-de-200-a-230-mulheres-abusadas-por-ano.htm

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