domingo, 29 de novembro de 2020

A praga emocional...

Ilustração: Maurice Henry

"Os adultos, independentemente de sua vontade, exercem repressão sexual sobre seus filhinhos, porque vivem sua própria sexualidade de maneira reprimida...(...) Desde o princípio da vida até a universidade, os indivíduos não têm contato com nenhum tipo de educação sexual o que, já é uma forma de educar sexualmente, isto é, uma maneira de educar para a ausência de sexualidade, uma forma de educar para a negação sexual, uma forma de viver a sexualidade como algo alheio, distante e místico..."

W. Reich


E o  caso do senador e da modelo, em são Paulo, que está sendo tratado como estupro, continua... não mais no hotel (evidentemente), mas na policia, nos tribunais e nas sacristias. 

Independente do que tenha acontecido entre o casal, é importante perceber que, no fundo, na essência desse patrulhamento doentio e psicopatológico, está a repressão sexual. E que, na verdade, o estupro pode estar sendo usado apenas como um pretexto para criminalizar o desejo e a sexualidade, já que a sociedade ainda não os suporta. Qual é o problema que pode existir na relação amorosa entre duas pessoas que passaram o dia inteiro juntas, se excitando mutuamente e que depois, na hora fascinante do crepúsculo, sem a autorização de um padreco ou de um juizeco, se recolhem para gozar? 

Gozar! Por que será  que esse pormenor da existência nunca conseguiu ser digerido pelo rebanho? 

Qual é o problema? 

Coisas de libertinos? 

Coisas de putas? 

Mas, e qual é o problema com os libertinos e com a putas? 

Se não tivesse sido por um ato de libertinagem de nossos pais, nós nem sequer teríamos nascido e nem estaríamos aqui! Quê imbecilidade é essa? Sem falar, inclusive, que o libertino pode até estar apaixonado. Apaixonado como aquele personagem de Gorki, em "Pequenos Burgueses", por duas virgens e por uma mulher casada ao mesmo tempo...

E era exatamente a isso que Reich denominava: A praga emocional:  (a expressão Praga Emocional não tem conotação difamatória alguma. Não se refere a algo consciente, à degeneração moral ou biológica, à imoralidade, etc. A praga emocional assume dimensões de uma pandemia, na forma de uma gigantesca irrupção de sadismo e criminalidade, tal como foi a inquisição católica da Idade Média e do fascismo internacional de nossos dias).

Qual é o problema que duas pessoas, se envolvam sexualmente, mesmo que seja apenas por uma única vez, depois de uns tragos, de uns baseados, de uma garrafa de vinho, de uma aula de antropologia, ou até mesmo de um iogurte de coco? Ocultos por detrás do abominável "estupro" e da burocrática "relação consentida", está o pai e a mãe castradores e moralistas: ele impotente e ela frígida. Depois de passar a infância e a adolescência ouvindo a mãe recomendando: feche as pernas! Tire as mãos daí! Desse jeito vai crescer e ir para um puteiro! Os homens são todos uns cachorros e uns porcos! etc, etc;  Depois de crescer ouvindo as ameaças de um pai brutamonte que jurava assassinar aquele que a "desrespeitasse"; de uma tia beata que, na igreja ou na escola associava sexo com coisas do demônio... como querer que uma moça de 22 anos consiga ter uma relação sexual livre, com soberania e por puro prazer, sem, durante o ato, voltar a sentir a angústia de todas aquelas ameaças e sem sentir-se uma puta? 

Impossível.

Por isso, é bom que a policia, os juízes e outros substitutos da mãe, do pai e da tia, saibam que essas acusações de estupro, podem não ser estupro, mas simples surtos regressivos dos envolvidos, "prestações de contas" aos primeiros tutores e repressores lá da infância e à moralidade vigente.

Ou, do contrário, logo logo, todos nós, como gostariam as feministas, seremos diagnosticados e acusados de estupradores... 

O silêncio dos apóstolos da psicologia, da psicanálise e da psiquiatria sobre estes repetidos casos, constitui uma descarada e abominável conivência com os leigos e vingativos gerentes dos órgãos de repressão...



2 comentários:

  1. Não tem a ver com o caso específico, mas achei interessante a abordagem. (nada contra a empoderação feminina, mas contra a "empoderação")

    O resultado disso é a auto-objetificação. E, nos tempos atuais, essa prática é glorificada e vista como “empoderadora”. “Sempre que me perguntam sobre essa possibilidade de se empoderar através da nudez eu percebo quanto o feminismo e o próprio termo empoderamento foram deslocados do seu caráter político e coletivo para poder caber dentro da perspectiva liberal e individualista. Não há empoderamento através da nudez, como não há empoderamento através de nenhum ato que altera apenas a realidade de um indivíduo e não de classe. Você se sentir melhor com o fato de que sua foto seminua 'bombou' no Instagram não altera em nada a realidade material das mulheres em geral, além de dar mais material para se manter a objetificação de corpos femininos.”

    https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2020/11/20/interna_nacional,1208135/como-a-pornografia-distorce-o-sexo-e-incita-violencia-contra-mulheres.shtml

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  2. Curta com referências ao Cioran:

    https://www.youtube.com/watch?v=guksL8B_x5Q

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