"Fui a Paris estudar a história das desgraças da humanidade, a história do progresso..."
Máximo Gorki
Dia de faxina! Tenho escolhido as segundas-feiras para dar uma geral na casa. Ter o que fazer nesse dia me dá a ilusão de que alguma coisa ainda está acontecendo no mundo... O vaso, o varal, as vidraças, a lombada dos livros, as torneiras, as fronhas, a lâmpada no interior do abat-jour... a partitura de Serenada (Schubert). A poeira está em todos os lugares, até na voluta e na alma de meu violino. Passei quase uma hora para instalar o lençol de elástico em minha cama. Instalava de um lado, saltava do outro. Puxava aqui, saltava ali. E isto, que vou fazer 71 amanhã! Que passei por várias universidades e que vivo cercado de dicionários, ensaios, manuais e Vade Mecuns existenciais e etc.... E como é que um homem que não consegue colocar um desses malditos lençóis de elástico na cama, tem moral para exigir que os burocratas do Ministério da Saúde apresentem um PLANO de VACINAÇÃO para o rebanho? Por falar em vacina, ontem à tarde, quase anoitecendo, passou lá em baixo o vendedor de pamonha e de bolo de milho. Ia, naturalmente gritando: Olha a pamonha! Olha o bolo de milho! Olha pamonha doce! Olha a pamonha salgada!... Só que eu, meio distraído, ia ouvindo: Olha a Astra Zênica! Olha a de Oxford! Olha a vacina chinesa! Olha a vacina do Biden... Olha a vacina do Bill Gates... A do Butantam... A da Fiocruz... Olha a da Pfizer... Olha a vacina do Putin... A do Dória...
E atenção, - ia gritando com uma voz já sem muita testosterona -: Primeiro os velhos, depois os menos velhos, depois os professores e os presidiários...
Por ironia, olhando para as janelas e para as varandas, ele repetia cínico e com ênfase: depois os professores e os presidiários...
Estaria insinuando algo que compromete a pedagogia?
Nenhuma melodia se compara a Serenade de Schubert. Música dos anjos...
ResponderExcluirAniversário... comemorar o quê né Bazzo...
ResponderExcluirDia bom pra ler do Inconveniente de ter nascido
hahahahahahah