Sexta-feira, 04 de dezembro. Muita gente ainda amanheceu escandalizada com a proposta de um grupo de promotores de São Paulo, querendo prioridade de vacinação. Reivindicavam o direito de serem vacinados em primeiro lugar. Tudo bem... É compreensível. Como ficar indiferente ao exótico movimento dos hospitais e dos cemitérios..? Sabemos que o confinamento faz emergir todo tipo de transtornos de personalidade. E que a idéia de vir-a-morrer é ridícula e estúpida, principalmente para eles que, num país com 80% da população vivendo no limite, vivem uma realidade à parte. Em outras palavras, é o misticismo das castas ou a tal luta de classes que os apóstolos de Krishna e de Marx não se cansam de bradar. A India é aqui!
Estando na padaria da esquina ouvindo o Mendigo K relatando suas costumeiras bravatas, surgiram duas senhoras discretas e decentes. Passavam de mesa em mesa recolhendo assinaturas numa espécie de Abaixo assinado. Pensei que se tratasse de moradoras aqui dos arredores buscando ajuda para suas delirantes filantropias. Mas não. O Mendigo K que diz conhecê-las de longa data, depois de cumprimentá-las e ler o tal Abaixo-assinado, me confidenciou que são de um puteiro improvisado que há nas proximidades e que estavam, como os promotores de São Paulo, reivindicando e justificando que deveriam ser elas as primeiras a tomar a vacina antes de qualquer outro grupo. Diziam: a prioridade deveria ser para nós, nós que trabalhamos na rua, todas as noites, que prestamos serviços vaginais, anais, bucais, manuais e até psicológicos a gente de todos os tipos. A jovens alucinados, a velhos caquéticos, a operários, a licenciados, a mulheres e até a alguns pets...
Pensei logo na luta de classes e nas castas. Nos burgueses, nos proletários e no lupemproletariado... Enfim, em todos os Condenados da terra...
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