quarta-feira, 13 de setembro de 2017

E o mendigo K., começa a falar de literatura... Que decadência!

"Hoje à noite venho urinar nesta porcaria, para ver se ao 
menos nasce uma flor..."
Campos de Carvalho clique aqui

Hoje o encontrei meio assustado com o clima de sinistrose, com a falência social e com as misérias do presente, bem na entrada da Biblioteca Nacional (praticamente fechada desde que foi inaugurada).
Antes de falar-me sobre qualquer outra coisa, apontou para o carrinho de um vendedor de picolés que estava estacionado à sombra de um obelisco e murmurou com sarcasmo: se os tiras do Ministério Público resolverem investigar a vida desse cara, do dono dessa porcaria, com certeza o levarão preso por transgressão e por corrupção! Picolés contaminados, vencidos, com muito mais açúcar do que o permitido, superfaturados, enrolados em papel inadequado, derretidos e congelados várias vezes e sendo vendidos sem Alvará!!! E, pior: com o vendedor que não se lava as mãos desde às cinco da manhã... E explodiu numa gargalhada. 
Depois fez o mesmo comentário ao ver passar um pastor, um jornalista, uma secretária do Ministério da agricultura, um sujeito todo empetecado, de óculos escuros e travestido de doutor, um mendigo (colega seu), uma mocinha saudável e delicada vestindo uma blusinha branca de seda transparente e falsificada que circula por lá todas as tardes sem nenhuma fantasia de empoderamento, apenas interessada na caça de seus burocratas e de seus executivos para faturar seus 70 euros diários. Em seguida, murmurou com um humor absolutamente amoral: Tudo está corrompido my brother! Passou-se quinhentos anos corrompendo, pervertendo, adestrando, adoecendo, enlouquecendo, depravando, prostituindo, aviltando, adulterando, mediocrizando, nivelando por baixo, catequizando, confundindo e pisoteando as massas, (tanto a burguesa como a plebeia) e agora se finge espanto diante do descortinamento de tamanha exiguidade e de tamanha podridão... Agora é tarde!
Em seguida tirou de dentro de um saco plástico um livro de capa branca, escrito em francês por um tal Philippe Pastorino, com o seguinte título: La fabrique des fous. Abriu-o com certa dificuldade na página 30 (estava com uma das mãos machucadas) e pediu-me para ler uns dois parágrafos que ele havia achado pra lá de atual e interessante. Como eu estava sem meus óculos, ele fez uma ironia, encostou-se no paredão da biblioteca e ele próprio iniciou a leitura, fazendo tradução simultânea: [Um meteoro caiu numa noite, próximo a uma pequena vila de província. De início os habitantes nem tomaram conhecimento, ignoraram completamente o fato até que, pouco a pouco, as irradiações emanadas daquele meteoro começaram a atacar seus órgãos sexuais. Os homens começaram a ver seus pênis descascando, apodrecendo e se desfazendo até cairem como frutos maduros, ao mesmo tempo em que o clitóris das mulheres começaram a crescer, a ficarem duros e inflados até tomarem proporções monstruosas. Por fim, os homens tornaram-se mulheres e as mulheres seus maridos...]
Mesmo faltando umas cinco linhas para concluir o texto sublinhado, fez um ponto, olhou para os lados e perguntou-me, novamente, com um descarado cinismo: será que a cidade, o país e o mundo estarão sendo vítimas de alguma irradiação desse tipo?

2 comentários:

  1. bazzo fala algo sobre o escandalo da exposição do Satander ou Santander kkkk

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    1. http://eziobazzo.blogspot.com.br/2017/09/a-exposicao-de-porto-alegre-e-o-assedio.htm

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