terça-feira, 12 de outubro de 2010

Outono de Praga - 1

Se não fossem os turistas Praga seria uma maravilha! Depois de pisoteados por Hitler e humilhados pelos soviéticos os tchecos parecem fascinados e felizes com os encantos da malandragem capitalista. Manadas de todas as raças e cores se acotovelam na ponte Charles, em frente ao relógio astronômico que marca além das horas o clima, o mês, o dia etc. Depois vão sedentos ao castelo e mais tarde comer um salsichão de meio metro lá na esquina da Nove Mesto e que custa 50 Coronas. Para fotografar o cemitério judeu 350,00 coronas. Kafka pra cá e Kafka pra lá, sem falar do Mucha e do Dvrak. Dizem que Dvorak – antes de ser compositor – foi aprendiz de açougueiro. Trocar moeda nas casas de câmbio sem ser roubado é quase um milagre. Aqui e ali tudo a mesma coisa, mas o que fazer se esse é o perfil da canalha capitalista? Você fala alemão? Você fala tcheco? Não! Então melhor ir para Cochabamba... As manadas comprando porcarias, bonequinhos, roupinhas, copinhos da bohemia, caixinhas de fósforos. A globalização, além de  tudo, acabou com o charme de ir ao fim do mundo e trazer de lá uma pedra ou um instrumento único e exótico. Agora, com a turba se arrastando pelo planeta a fora, tudo está condenado à mediocridade. Salsichas, vinhos, absinto, goulash e a neblina cobrindo tudo lá pelas seis da manhã, deixando vazar apenas uma réstia de luz para uma foto quase perfeita. Quando você vier para cá, lembre-se de meu conselho: o que há de melhor em Praga é um doce conhecido por "trolo", lá na rua Karlova 146.

Um comentário:

  1. Ézio, tenho lido os seus artigos, e percebo que você tem uma vasta experiência em "andar" pela Europa com o olhar crítico, e que tal se você publicasse, aqui no blog, um roteiro para os estudiosos de primeira viagem? Talvez pudesse ajudar, ou até mesmo amenizar a perda de tempo pelos locais "turísticos comerciais", e teriam um aproveitamento melhor de suas viagens, baseado na experiência de quem sabe...

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