Dois anos e meio de violino renderam-me além do prazer imenso de vinte e tantas partituras dores incomodas nos cotovelos e nos punhos, transtorno que os especialistas classificam como DORT ou LER, e para as quais não há remédio pronto, só abstinência, paciência e fisioterapia. Raios infravermelhos, placas quentes, fisgadas eletromagnéticas, bolsas de gelo intercaladas com bolsas de água quente, muitos alongamentos associados as sete ou oito agulhas da acupuntura e às mãos hábeis e pecaminosas da expert em shiatsu. Segundo as inúmeras teses acadêmicas sobre o assunto, quase todos os violinistas sofrem ou já sofreram desse mal. Até já ouvi alguém jurando que esse tipo de dor advém de uma maldição de Paganini, de uma praga daquele louco genial que por ter rejeitado a extrema-unção, recebeu da igreja vingativa da época a proibição de que seu corpo fosse enterrado num cemitério. Daí o fato de seu cadáver ter ficado durante anos a espera de uma cova, até que seu filho conseguiu uma autorização junto ao Papa para o sepultamento. Finalmente foi depositado lá no cemitério de Parma, com todo o luxo e os requintes que um músico de seu calibre merece. Maldição paganiniana ou não essas dores têm servido para esclarecer-me duas coisas:
1) que nosso esqueleto é de uma precariedade lastimável.
2) que o violino não é instrumento para qualquer um, pois não se deixa manipular impunemente...
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