quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

08 DE DEZEMBRO DE 1949...

Uma das pessoas que me felicitou pela data de hoje, fez questão de lembrar-me, maliciosamente, claro, que nasci numa aldeia chamada Santa Helena, no Estado de Santa Catarina e no dia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, portanto, estava evidente que havia existido uma espécie de conspiração para que eu me tornasse um lunático, um frade, um cardeal ou no mínimo um coroínha... Senti minhas orelhas pegando fogo! Imaginem se esse sujeito soubesse que minha família fazia questão de dizer-se Católica Apostólica Romana e que rezava diariamente a Salve Rainha na penumbra e em latim!

SALVE Regina, - ouvia-se ao cair das tardes - Mater misericordiae, vita, dulcedo, et spes nostra salve.Ad te clamamus, exsules filii Hevae;Ad te suspiramus, gementes et flentes in hac lacrimarum valle. Eia ergo, advocata nostra illos tuos misericordes oculos ad nos converte. Et Jesum, benedictum fructum ventris tui, nobis post hoc exilium ostende. O clemens, O pia, O dulcis Virgo Maria. Ora pro nobis, sancta Dei Genitrix.

Outro correspondente, com a mesma ironia, recordava-me que nasci no mês de dezembro (mês do suposto nascimento de Cristo) e, ainda por cima, no dia 8, número que para a Opus Dei primitiva era considerado símbolo da ressurreição e cuja perfeição se refletia no octógono da pia batismal ou do batistério como expressão do feminino, do seio da igreja etc. Senti meu coração fora de ritmo. Imaginem se soubesse que nasci exatamente às 08:00 da noite! Um judeu mexicano mandou-me três linhas apenas para informar-me que, por motivos cabalísticos, a circuncisão é feita sempre no oitavo dia depois do nascimento. Uma senhora esotérica cuja casa parece um bunker budista enviou-me uns folhetos onde aparece a famosa roda-simbolo do budismo com seus 8 raios e ao lado uma flor de lótus com suas 8 folhas. Essa mesma senhora escreveu no rodapé, em letras maiúsculas, que são 8 os caminhos que conduzem à perfeição, etc, etc. Um dos antigos discípulos de Rajneesh mandou-me uma estatueta de Vishu (o deus hinduísta) com seus 8 braços, enquanto o velhinho acupunturista, ao mesmo tempo em que me enfiava a oitava agulha no cotovelo esquerdo ia resmungando que no Japão, o número 8 é considerado o número de grandeza fundamentalmente incomensurável...

Por fim, um homem de ciência, ou quase, um psicólogo que já está a um passo do manicômio, bateu-me calorosamente nas costas e, dando voz a Aristóteles e a Pitágoras, querendo fazer-me acreditar que eu era mais do que era, lembrou que o 8 é um número perfeito, o primeiro número cúbico e que a perfeição de um número é alcançada sempre na terceira potência... Uffa!!!

No final do dia estava verdadeiramente exausto e apavorado com tantas bobagens e até mesmo com minha longinqua e obscura entrada no mundo. Nas horas que passei refletindo sobre esse assunto, conclui que o acontecimento mais importante desses momentos todos e que talvez tenha sido verdadeiramente decisivo para que eu não me tornasse um babaca fervoroso, foi o fato (e isto é quase um segredo) de o médico-parteiro aquele que me arrancou das entranhas de minha mãe ter um sobrenome bizarro e profano: chamava-se, sem brincadeira, Dr. Picanço.

3 comentários:

  1. Parabéns, Bazzo. FELIZ TUDO!!! Ah, oito é o símbolo do infinito (rsrsr).

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  2. Vc não é mais nem menos, não é nada como todo mundo. É muito simples: as pessoas gostam (muito) de vc e pronto. Ah, o oito - 8 - me lembra sempre o rebolado de uma mulher na hora do coito. Bj

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  3. MÔNICA PRADO TORRES12 de junho de 2015 às 10:56

    hahahahahahahahahahahahahahahaha... Muito bom !!! Dei boas gargalhadas com tudo isso...kkkkkk... Parabéns, porque? Nunca entendi essa comemoração...Porque comemorar o envelhecimento e tempo passado? Talvez seja para dizer que falta menos tempo vivo nessa merda...kkkkkkkk...

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