A morte do deputado Clodovil colocou em evidência – não apenas para os esotéricos – que há sim uma maldição sobre o Congresso Nacional, que ali não é um lugar para frouxos e nem para frescuras, que o pré-requisito básico para ingressar na política é ter um gene defeituoso, ser mala, bandidão e vaselina. Revejam a trajetória do Deputado Juruna (índio); do deputado Enéias (cardiologista); do deputado Mascarenhas (psicanalista) etc, etc. Não, ali não é lugar para qualquer um. É necessário ter se iniciado no escroquismo moral já lá no grêmio estudantil, se reciclado no DCE das universidades, feito residência nos sindicatos, de preferência ter estudado Direito e claro, já ter tido na família alguém do ramo. Em outras palavras: é necessário ter sido iniciado na bandidagem precocemente, saber dissociar as palavras do significado, assim como a malignidade do afeto e, claro, saber mentir com maestria olhando nos olhos das multidões e até abraçando “ternamente” aos inimigos. Para ser político é necessário ter além de um defeito moral, o estômago para passar anos e anos chamando de excelência a outros escrotos engravatados. Enfim, aquele historiador que conseguir se infiltrar nos subterrâneos e no submundo daquela casa produzirá lá uma obra mais terrível que a de Dante e contribuirá como nenhum outro para os protocolos da psicopatologia. Que o Clodovil, com seus trejeitos e suas plumas flutue em paz pelos labirintos do nada.
Ezio Flavio Bazzo
como é possível que o congresso nacional sofra com os sintomas da unidade e da unanimidade? quantas bocas terão que entortar e contorcer com vãos discursos politicamente corretos? quantos olhos terão que ficar vesgos olhando a pobreza engravatada da vontade e da força? quanta cera de ouvido necessária para tampar os ouvidos dos que tornam abstratos a si mesmo? ao menos clodovil, em seu aristocracismo combatente, deu graças a mais um acaso feliz contra a tirania dos valores tradicionais e ao fim do mundo verdadeiro dos sacerdotes.
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