Nos finais de semana até o chamado Jardim Zoológico de Brasília fica com mais gente de que bichos. Já pela manhã uma longa fila de automóveis, bicicletas e carroças vai se formando ao longo do asfalto, cada um com dois ou três congêneres a bordo que vão passar o dia lá sob as árvores, ao lado da jaula dos leões, das serpentes ou do borboletário. Mesmo aos domingos há filas para tudo nesta cidade que, segundo o próprio Ministro da Justiça, se parece a um autorama stalinista. Nos caixas eletrônicos, nos sanitários, nos restaurantes, nos motéis, nos mercados, nos centros espíritas, na maternidade dos hospitais, nos postos de gasolina, nos açougues, nas casas lotéricas e nas sorveterias, para comungar-se, para autógrafo, para visitar o Congresso Nacional ou o monumento erigido em homenagem ao velho Tancredo etc. é necessário ficar lá atrás de outros dez ou quarenta sujeitos enfileirados... Fico impressionado ao deparar-me com essas multidões desvairadas, multirraciais e multiétnicas que até ontem não sabia que existiam e que por onde passam vão deixando um rastro de odores e de dejetos. Onde moram? De onde vieram? Para onde irão? Ninguém sabe. É a superpopulação descarada. O engravidai-vos uns aos outros. A cidadania em progressão geométrica. Os filhos de Deus. Bandos, manadas, multidões analfabetas e famintas, ricas, pobres, vorazes, esnobes, arruinadas, felizes, esperançosas e libidinosas. Malthus se preocupava com a falta de alimentos, nós nos preocupamos com a falta de oxigênio, de grandeza pessoal, de espaço e de transcendência. Sorte que em 2050, quando a terra terá que haver-se com o horror de 10 bilhões dessa espécie esquisita e desse homo obesus, já estarei bem “pra lá de Marrakech”.
Ezio Flavio Bazzo
como schopenhauer bem caracteriou o domingo: "o dia interacional do tédio". porquê? simples! é um único dia da semana em que, livres do fardo do trabalho, qualquer exemplar da orda dos miseráveis existenciais, pode fazer o que bem entender com seu tempo livre. porém... escravos, assim como os enrrustidos sexalmente, somente conseguem falar sobre liberdade, já vivê-la... não ter hora para acordar; não ter que se acotovelar, seja dentro de um ônibus lotado, ou com seu carro em algum engarrafamento; não ter que realizar os desejos de seus patrões; não ter horas de sua vida sequestradas por empregos que odiamos ter; é incompreensível. a fila acaba sendo o único refúgio de quem não quer pensar no que podem fazer com seus tédios. até para entrarem em lugares cuja sua cadeira já está numerada, vemos a organizada orda de um atrás do outro! nem mesmo encontramos realizada a liberalidade proposta pela semântica de portugal: "estaire, pois, no rabo da bicha". a única revolta possível, pelas suas miseráveis paixões, é direcionada contra alguma pessoa livre que resolve acabar com essa tirania furando a fila. ezio, foste preciso ao continuar pensando a escala evolutiva da humanidade: homo obesus.
ResponderExcluir