Confesso que tenho vergonha de seguir escrevendo as mesmas coisas que escrevia lá na década de 70 quando vivia em Curitiba e depois em Londrina. Aqueles cafezais imensos, as repúblicas de estudantes, os papos neuróticos e persecutórios dos jornalistas, as farras, os trotes estudantis, as putas eufóricas com os novos ricos, os presos políticos, os modismos orientais. Trinta e nove anos depois e tudo segue igual. De que falávamos mesmo naquela época? Dos hospitais sucateados e dos médicos carniceiros; do analfabetismo generalizado e das escolas vagabundas; dos professores pilantras; dos psicologismos, da mídia cortesã; do envenenamento cultural transmitido pelas novelas e pelos programas televisivos. Falávamos dos agrotóxicos, de Wilhelm Reich e de suas caixas de Orgon, da burocracia, do enlouquecimento coletivo, dos Rolls Stones, de macrobiótica, de cocaína, de maconha, do ácido lisérgico, de Bakunin, de Marx, de Sacco e Vanzetti, de Pinochet, da reforma agrária, da desnutrição, da mortalidade infantil, da inflação, da dívida externa, da corja política, do imperialismo americano, de Che Guevara e deste ou daquele intelectual narcisista. Chile, Argentina, Bolívia, Uruguai, as ditaduras latino americanas conectadas. Matavam um chileno aqui, no outro dia um brasileiro era torturado lá, na semana seguinte um argentino acolá. Discursos, justificativas, asilos políticos, mentiras, razões, ideologias, teologias, moralismos. E no meio de toda aquela merda fardada, atrasada e reacionária a Cordilheira dos Andes, soberba e indiferente a tudo. Missas por todos os lados, festas para os filhos que passavam no vestibular, o ensino primário, médio e superior mergulhado na indigência. Mendigos e guerrilheiros enterrados clandestinamente. Comer, engordar, vencer na vida... A juventude aloprada lendo castañeda a bíblia e dando o rabo. A lua como meta. Os Panteras negras, as Brigadas Vermelhas, o arroz integral no armazém do Michio Kushi. O famoso AI5. O Congresso. A corrupção silenciosa, a construção de vinte ou trinta famílias de corruptores. No fundo da mochila o livro de Thomas Szasz com esta frase sublinhada duas vezes: Le pouvoir corromp. L’ impuissance aussi.
Ezio Flavio Bazzo
al-sayed haroun ibn hussein al-makhzoumi, um médico árabe que viveu entre os anos de 1137 e 1193, na arábia saldita, nos diz acerca da impotência ("al u'nnah"): "pois aquele que é por ela afetado deixa de ser um praticante dos prazeres desta vida, (...) é transformado em objeto de piedade e talvez de ridículo e desprezo. (...) nesta situação , homem pode dedicar mais tempo aos prazeres da mente e do espírito (...)". em outro trecho, ele diz: "expor um pênis ereto ligado a um corpo trêmulo, encarquilhado e seco só pode aumentar a repugnância e a repulsão das mulheres". portanto, dediquemos às artes copulatórias e à pornografia política (do tipo a que fez marques de sade) enquanto temos sangue quente correndo pelas nossas veias.
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