sábado, 7 de março de 2009

Prostitutas, bruxas, donas de casa


Quando se aproxima o dia 08 de março a imprensa, a igreja, as congregações feministas, os comerciantes, as Delegacias de Mulheres, as Ongs etc, (todos movidos por suas respectivas culpas) se excitam e se apressam em trazer a tona (tendenciosamente) a velha lengalenga da mulher coitadinha, vítima, pobre coitada etc., colaborando, com essa choradeira tola e paroquial, para o aumento da distorção que já há entre o que verdadeiramente acontece nos bastidores, na penumbra e na vida privada entre os homens e as mulheres. Nós que trabalhamos com a saúde mental sabemos que a coisa não é bem como o populacho pensa e que:

"Escrever sobre as mulheres sempre foi e é uma das neuroses mais recorrentes, fúteis e antigas do mundo masculino. Uma via sofisticada e às vezes até eficiente para colocar-se a salvo. Para lidar com as frustrações interpessoais e com as mais variadas perversões ligadas sempre e sempre a um hipotético desejo, ao taboo universitário da equidade de gênero e aos frívolos catecismos sócios clericais institucionalizados. Em outras palavras: um intento de explicar-se a si mesmo num mundo cada vez mais cheio de escroques intelectuais, de misticismos esdrúxulos e de perversidades cívicas. Escrever sobre elas não passa de um ardil para justificar-se, para tentar colocar-se à altura destes últimos séculos descaradamente infames e bordelines onde se corre o risco de viver transitando alucinadamente da idolatria à misoginia e da bucetofilia para a bucetofobia. E como tudo neste mundo passa pelo lero-lero das palavras e da linguagem – vejam o martírio de Saussure, Freud, Lacan e de tantos outros que gastaram suas vidas batendo inutilmente nesta tecla - ofereço aos leitores este “Léxico adequado para a vida cotidiana das donzelas” escrito pelo pequeno marginal belga: Pierre Louys. Leiam-no atentamente como se fosse um prólogo, pois ele pode ser de grande utilidade aqui neste reino de trapaças e de falsa devoção onde vivemos:

[Não digas: “minha buceta”, digas: meu coração. Não digas: “tenho vontade de foder”, digas: estou nervosa. Não digas: “acabo de gozar como uma louca”, digas: sinto-me algo cansada. Não digas: “vou masturbar-me”, digas: volto em seguida. Não digas: “quando tenhas pêlos no cu”, digas: quando sejas adulto. Não digas: “prefiro a língua que o pau”, digas: só gosto dos prazeres delicados. Não digas: “entre as refeições só bebo esperma”, digas: faço um regime especial. Não digas: “as novelas moralistas me excitam”, digas: gostaria de ler algo interessante. Não digas: “goza como um cavalo que mija”, digas: é muito exaltado. Não digas: “quando lhe recomendo um pau fica zangada”, digas: é uma original. Não digas: “é uma moça que se masturba como louca”, digas: é uma sentimental. Não digas: “é a mulher mais puta que conheci”, digas: é uma garota encantadora. Não digas: “se deixa foder por todo mundo”, digas: é muito coquete. Não digas: “eu a vi fazendo frente e verso”, digas: é uma eclética. Não digas: “tem ereções como um cavalo”, digas: é um bom moço. Não digas: “tem um pau demasiado grande para minha boca”, digas: sinto-me como uma criança quando falo com ele. Não digas: “eu gozei na sua boca e ele na minha”, digas: tivemos um intercâmbio de impressões. Não digas: “quando o chupo ele goza rapidamente”, digas: é muito vivo e muito espontâneo. Não digas: “tenho doze consoladores em meu quarto”, digas: nunca me chateio estando sozinha. Não digas: “goza três vezes”, digas: tem um caráter muito forte. Enfim, evite comparações arriscadas. Não diga duro como um caralho, redondo como um ovo, molhado como uma xota, salgado como o esperma, do tamanho de minha concha e outras expressões não admitidas pela Academia]".

(Texto contido nas orelhas do livro Prostitutas, bruxas, donas de casa, de minha autoria, reeditado em 2009 pela Editora LGE)


18 Mandamentos da Mulher:



3 comentários:

  1. "Revolutionary Road" (2008), com o Leonardo DiCaprio e a Kate Winslet: mulher tenta desesperadamente fugir do vazio, do tédio, de um destino inexorável...

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  2. aileen carol wuornos de "monster - desejo assassino". ou, valerie solanas: mendiga em nova york, prostituta, lésbica, atriz, aluna brilhante na universidade, junkie e ainda atirou em andy warhol, como ninguém é perfeito... segundo ela mesma: "eu considero isso um ato moral. imoral foi eu ter errado. deveria ter treinado mais".

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  3. Sei lá, não gostei muito do livro, achei que não foi um elogio as mulheres, como o meu professor de filosofia disse. Bom mais acho que cada um tem a sua opinião, e que ele não pode se imposta e que não tem como obrigar as pessoas a concordarem comigo. Mas apesar de tudo admiro o seu trabalho, são poucos que são unicos como o senhor !

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