terça-feira, 3 de setembro de 2024

Netanyahu, Derrida e o perdão... (Só se pode perdoar o imperdoável!)





"El perdón perdona sólo lo imperdonable. No se puede o no se debería perdonar, no hay perdón, si lo hay, más que ahí donde existe lo imperdonable..."


A cena abraâmica do Netanyahu pedindo perdão aos israelenses por não ter conseguido evitar a morte de cinco reféns explicita ao máximo a miserabilidade e o sem-sentido da condição humana... Coloca em cena o peso milenar de uma culpabilidade imaginária (mas quase endógena) e a necessidade infame da espécie de desculpar-se perante fantasmas... sim, de pedir misericórdia pelo mau caratismo incontrolável, e até por crimes e por pecados nunca cometidos...

A pergunta é unanime: Quando é que o Ilmo Sr. Ministro terá coragem para fazer o mesmo com os quase 50 mil palestinos mortos, e com aquele exército de crianças mutiladas? E quem é que teria cinismo e desfaçatez suficiente para colocar-se no lugar de perdoador? 

Sim, mas já vimos essa cena. Quem é que não se lembra do Japão pedindo perdão à Coréia e à China, pelas barbáries praticadas? Os alemães e o Papa se desculpando perante os judeus incinerados? Claro, na essência, trata-se apenas de álibis diplomáticos e demagógicos, de jogadas comerciais, de artimanhas religiosas, hipócritas e inúteis. Já que, sabemos, ninguém tem huevos e dignidade suficiente para desculpar-se e muito menos para perdoar.

Todos vimos, a cerimônia do Netanyahu foi teatral, melancólica e impotente! Quase uma cerimônia de adeus!

 Teatro do absurdo! 

Que o mundo venha suportando passivamente aquela matança estúpida, entre semitas, por tantos meses, e por "meio metro de terra" é prova de que somos uma espécie nada confiável e de que não valemos grande coisa. 

E depois, arrepender-se? Mas de que? E perante quem?

Como só é possível perdoar o imperdoável, tento voltar à leitura de Jacques Derrida: El siglo y el perdón.

"Porque, se começamos a acusar-nos, pedindo perdão, de todos os crimes do passado contra a humanidade, não sobraria um só inocente sobre a terra. - e portanto, ninguém na posição de juíz e de árbitro -. Todos somos os herdeiros, pelo menos, de pessoas ou de acontecimentos marcados, de maneira essencial, interior e inesquecíveis, por crimes contra a humanidade" 

"Pense no caso da Comissão, Verdade e Reconciliação na África do Sul; No Primeiro Ministro japonês pedindo perdão aos coreanos e aos chineses pelas violência passadas..." 

A propósito do Japão, quem é, daquele país, que conseguiria perdoar os norteamericanos pelas bombas atômicas jogadas sobre Hiroshima e Nagasaki? 

E o Vietnã? Dos vietnamitas que sobraram, quem estaria em condições de perdoar?

"El perdón perdona sólo lo imperdonable. No se puede o no se debería perdonar, no hay perdón, si lo hay, más que ahí donde existe lo imperdonable..."(p.p. 12,13)




 







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