"Casaco de peles? Um pelo que mudou de animal..."
(Zamacois)
Do pedaço de osso que Cain usou para assassinar Abel até a detonação dos pagers, de ontem que explodiram nos bolsos, na barriga e na cara dos libaneses, o que fica cada dia mais evidente, é que somos uma espécie criminosa e desprezível...
Apesar de todo mundo estar fingindo horror diante desse atentado, ele nem é tão mais terrível e nem tão mais cruel do que o das bombas incendiárias recentemente jogadas sobre crianças nas tendas dos campos de refugiados.
O que mais tem impactado o populacho a respeito deste ataque é que ele desencadeou sobre todos, a ambiguidade e a dúvida: até onde esse aparelhozinho de merda que todo mundo leva enfiado entre as tetas, ao lado dos bagos ou sobre os glúteos, também, não está com a bateria 'infectada' por umas gramas de explosivo?, e que pode nos mandar pelos ares, no momento em que estamos idílica e tranquilamente comprando meia dúzia de ovos caipiras ou de aspirinas, no mercado.
Sim, os estragos que esse tipo de terrorismo causa sobre uma espécie romântica, moribunda, filo e onto geneticamente paranóide, e que espera ardentemente por Godot, é imenso.
E depois, o que agrava o problema, é que (apesar de nossas escolas) quase todo mundo tem, pelo menos, uma vaga ideia de que a história, até aqui, foi uma epopéia inútil, ilustrada por um rio de intrigas, de vendetas, de disputas, de ódios, de guerras, de traições e de sangue, levada a cabo através de artimanhas, de pauladas, de envenenamentos, de maldições, pedradas, drones ou, como ontem, por explosões de pagers...
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