"...O hipocondríaco morreu de fresco ar montesino, de cantos de cotovia, de perfume de rosas..."
Grün
Como aquela pomba das anedotas bíblicas que voltou à Arca de Noé, para comunicar a aquele velho carpinteiro que a vingança celeste estava se aplacando e que as águas estavam baixando, hoje pela manhã, lá pelas 6:00 horas, um carcará pousou na janela de meu quarto com um ramo de jatobá chamuscado no bico. Deixou-o delicadamente sobre o parapeito da janela, olhou-me ameaçadora e fixamente com aqueles olhos de rapina, deu meia volta sobre si mesmo e com um movimento impressionante de suas potentes e invejáveis asas, desapareceu.
Cheirei e examinei aquele pedaço de jatobá queimado... Realmente, pelos lados das piscinas da Água Mineral (piscinas que atraíram para cá, nos tempos da construção da cidade, hippies, vagabundos, hidroterapeutas, esotéricos, naturistas, astrólogos, jogadores de Tarô, psicanalistas, ciganos, burocratas, pistoleiras, discípulos de Rajneesh, de Gurdief, de George Oshawa, de Helena Blavatski, de Le Corbusier, de Clarisse Linspector e etc, etc,) podia se ver um imenso cogumelo cinza que, (guardando as devidas proporções), lembrava aquele causado pelas bombas que os norte-americanos lançaram, primeiro sobre Hiroshima e em seguida sobre Nagasaki. E a mídia, também excitada, turbinava o inconsciente satânico e a hipocondria popular, mostrando o linguajar das labaredas avançando implacavelmente pelas raízes e cupinzeiros, de um lado para outro, dos buritis aos babaçus, sem nenhuma lógica, e até em direção a uma moradia em que os monarcas republicanos, com suas amantes despirocadas, costumam passar feriados em dias de Bonanza e de tardes primaveris...
Não dá para negar: o espetáculo do fogo é mágico e místico. Entre os ciganos, por exemplo, só é permitido que acendam fogueiras aqueles membros mais iniciados e sábios... E perguntem sobre essa mística e sobre esse tabu, também aos nossos indígenas, eles que durante séculos vagavam pelas florestas, numa solidão do caralho, com um tição fumegante como custódia contra os assombros da mata... Sim, a chama, entre todos os povos e rebanhos humanos sempre simbolizou a vida humana, a suposta, efêmera e luminosa alma. E foram os colonizadores portugueses (aqueles inveterados comedores de sardinhas) que trouxeram para cá, além das velas, os provérbios: "quem brinca com fogo, urina na cama'; quem cospe no fogo fica tísico; quem queima couro fica pobre; quem queima os cabelos fica doido; quem urina no fogo, morre de moléstia nos rins ou na bexiga, etc, etc.
É evidente que os piromaniacos (que a polícia anda procurando) são todos religiosos fanáticos, mais ou menos como aqueles que incendiaram a Biblioteca da Alexandria em 48 a.C e os que tocaram fogo em Roma (em 64 d.C).
E depois, no meio desse exagerado frenesi, é importante lembrar também da existência da famosa luta de classes. E de que, ainda antes de Marx e de Bakunin, entre as fantasias mais frequentes nos projetos dos fodidos e dos excluídos da terra, estava a de, um belo dia, poderem atormentar a burguesia colocando fogo no mundo...
Ao invés de ficar todo mundo cacarejando desgraças, andando com um tubo de oxigênio às costas, esperneando, queimando incenso aos bombeiros e se preparando para o juízo final, seria melhor que se perguntasse ao judiciário, depois de já ter banido o X, quando é que se incluirá as caixas de fósforos, os cachimbos e os isqueiros entre as armas revolucionárias de maior letalidade?
Eu, confesso que não me deixo abalar demasiado por essas fogueiras destruindo o cerrado. Como já assisti outras, de mesmo porte, e sei que depois da primeira chuva, brotarão ali no meio das cinzas e dos esqueletos de animais, umas florzinhas misteriosas e estupendas, esperarei com ansiedade o dia em que poderei estar lá, com minha câmera...
https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2024/09/6943889-concentracao-de-poeira-no-df-e-11-vezes-maior-do-que-o-recomendado-pela-oms.html
ResponderExcluirPerto do fogo, eu queria ficar perto do fogo... como faziam os hippies, como na idade média... quero queimar minha erva, quero estar perto do fogo...
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