"O que é um Homem de Estado?
É aquele que em tempos de guerra, não vacila em dar a "tua" vida pelo seu país" (anônimo).
Basicamente para ouvir o Pablo Marçal, tenho acompanhado os debates entre os candidatos à prefeitura de São Paulo. Trata-se do mitômano mais genial que conheço, ele que, por deixar zonzos, confusos e perturbados a seus adversários, (também mitômanos, mas menores), merece ocupar o trono na prefeitura daquela Babilônia.
Enquanto fico ouvindo aquela papagaiada voraz, infanto-juvenil e sem sentido dos candidatos, sobre a cidade, sobre os votos, os orçamentos, sobre os monumentos, os crimes, o trânsito, a arquitetura, sobre os assaltos, a bandidagem, a prosperidade, sobre os desejos e os medos da pequena burguesia, sobre o porvir dos zumbis do crack, sobre as frustrações dos herdeiros quatrocentões e donos da cidade, sobre as espumas do Tietê e etc, fico pensando: não é possível que ninguém vai citar ou fazer menção, mesmo que seja só para impressionar a platéia e ganhar votos, ao arquiteto e antropólogo Flavio de Carvalho!
Não é possível que não saibam que Flavio de Carvalho (1899-1973) em se tratando de arquitetura e urbanismo, foi o mais genial e subversivo que SP já conheceu. Naturalmente, foi eclipsado pela patota de sempre e empurrado para o anonimato.
Segundo o Mendigo K, foi ele que, no IV Congresso Panamericano de Arquitetos, no Rio de Janeiro (1930), apresentou a tese da Cidade do homem nu. O homem despido dos preconceitos da civilização burguesa.
E que, lá por 1920, (quando SP ainda era um vilarejo de deserdados e de bandoleiros), apresentou os projetos mais revolucionários de 'intervenção urbana' para a cidade, tipo a Fachada de alumínio para uma loja situada na esquina das ruas Barão de Itapetinga com Dom José de Barros; a ideia para um arranha céu (1928), mais ou menos tão gigantesco como esse que o Marçal jura que irá construir; a modernização do Paço Municipal, com viveiros de aves; o prédio do Congresso do Estado de São Paulo, com canhões e salões de dança,1929. Foi ele que, no concurso para a construção do Farol de Colombo, construído na República Dominicana, quem apresentou o croqui e o esboço mais audacioso e modernista etc, etc. É dele também o monumento Em memória das vítimas do hidro avião Santos Dumont (1928); o último abraço (1930), este em exposição no MAM da Bahia; o Monumento à Garcia Lorca (1968), instalado na Praça das Guianas (logo depois destruído pela ditadura) e, por fim, foi ele, a quem os candidatos não mencionam, que apresentou aos paulistanos até um projeto de roupa tropical...
{... Convido os representantes da América a retirar as suas máscaras de civilizados e por à mostra as suas tendências antropófagas, que foram reprimidas pela conquista colonial, mas que hoje seriam o nosso orgulho de homens sinceros, de caminhar sem deus para uma solução lógica do problema da vida da cidade, do problema da eficiência da vida...} F. de Carvalho
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