(anônimo)
Nesta terça-feira, que amanheceu ameaçando um diluvio, com as confrarias judiciárias queimando incenso umas para as outras (com relação à prisão dos matadores da Marielle), de saco cheio com toda essa dialética mambembe, abri ao acaso o volume que minha empregada deixou cair junto a um balde de trapos recém lavados. De quem era? Daquele portuguesinho melancólico e esquisito, beirando ao ridículo, que ficava mais esquisito ainda sob aquele chapéu, atrás daquele nariz, daquele bigodinho de púbis invertido, daquelas sobrancelhas e daqueles óculos). Na página que me foi ofertada pelo acaso havia isto, que li:
[ Eu, que sou mais irmão de uma árvore que de um operário,
Eu, que sinto mais a dor suposta do mar ao bater na praia
Que a dor real das crianças em que batem...
Eu, o fumador de cigarros por profissão adequada,
O individuo que fuma ópio, que toma absinto, mas que, enfim,
Prefere pensar em fumar ópio a fumá-lo
E acha mais seu olhar para o absinto a beber que a bebê-lo
Eu, este degenerado superior sem arquivos na alma,
Sem personalidade com valor declarado,
Eu, o investigador solene das coisas fúteis
Que era capaz de ir viver na Sibéria só por embirrar com isso,
E que acho que não faz mal não ligar importância à pátria
Porque não tenho raiz, como uma árvore, e portanto não tenho raiz...]
Eu enfiaria uma agulha! E depois ateava fogo nele vivo!!!
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