segunda-feira, 4 de março de 2024

Em breve, nos bares, nas esquinas e nos semáforos...





 

Em seus manuscritos de 1858 (Grundrisse), o velho Marx, atormentado por suas ideias e por seus furúnculos, escrevia: O tempo é tudo, o homem já não é nada: quando muito, é a carcaça do tempo”. Se isso foi em 1858, imaginem agora, quando os sinos dos campanários, os celulares, os despertadores, os semáforos, as campaínhas das escolas, os relógios de pulso, os hidráulicos, os de sol e as clepsidras estão por todos os lados e governam não apenas o Poder Central, os Comitês Ditatoriais, mas também as ditas Assembleias Constituintes e Democráticas...

Atenção: O cronômetro deriva do Deus Kronos, daquele devorador do tempo e dos próprios filhos. Olhe a hora! Olhe o tempo! Olhe o Rolex cravejado de diamantes! Olhe o canto dos galos! Olhe o despertador na mesinha do michê, programado para tocar em, no máximo, sete minutos, tempo em que o cliente já deve ter se livrado de todas as suas fantasias, taras, neuroses e sonhos...(pagar e partir...)

Iniciei este panfleto com a única intenção de falar sobre o relógio que tenho em minha casa, pregado na parede da cozinha, sobre o fogão, o qual, segundo minha ‘empregada’, com sua mentalidade paroquial, já está com os ponteiros tão engordurados, que o faz atrasar vinte ou trinta segundos por ano... o que, segundo ela, é uma heresia perante o Big Ben de Londres, o astronômico de Praga e perante todos os obsessivos compulsivos do globo...

Além disso, os vinte ou trinta leitores que tenho espalhados pelo mundo, sabendo de minha empreitada, ficaram insistindo para que eu, em se tratando do relógio de sol, da ampulheta e da clepsidra, não deixasse de consultar ao Borges. Outros, com medo que eu acabasse produzindo outra espécie de Ketchup enlatado, me recomendavam a leitura de Henri Bergson (A ideia de tempo). Uma senhora que fez uma brilhante tese sobre o assunto, insistia, até de madrugada, para que eu me debruçasse sobre Paul Ricoeur...... E recomendações para que eu visitasse a Proust, não faltaram. Sem falar de Djavan. Sobre o tempo, ouça Djavan! Um ex-coroinha recomendou-me a Sinfonia do relógio, de Joseph Haydin. Confira os relógios contorcidos de Dali e os do pintor polonês, Jacek Yerka, escreveu-me um vidraceiro do MoMA, de New York. E, apesar de minhas respostas nada simpáticas, não paravam de me encher o saco: Bazzo, para não correr o risco de produzir um caldo de galinha, veja as teses de Heidegger, de Deleuze, de Franco Basaglia... Um admirador anônimo, chegou a sugerir-me que fosse lá no ATO V de Hamlet, rever a discussão travada no cemitério, entre dois coveiros (?) Sim, eu sei, e foram tantos os poetas abduzidos pelo tempo, que, querendo se passar por gênios, se ocultaram por detrás dessa abstração! Resultado: a questão do tempo passou a ser uma verdadeira plegaria. Ah, o tempo! Ah! a aurora e os crepúsculos! Vivaldi e as quatro estações! Ah, a física quântica! Aqueles tempos! Ah! as maravilhas e os sonhos da infância e os pesadêlos da terceira idade! O horror do tic tac. O tempo passa! O túnel do tempo! A memória vã! A arca de nóe! O Smartwatch. A volta do messias! O Alzheimer! Os calendários! O papa Gregório! O estatuto do escravo moderno! A cumplicidade do relógio com o espelho! O horário das telenovelas! A guerra! As 8 horas dos escravos modernos! A conspiração! O prazo de validade do Gorgonzola, o mundo conspiranóico! Einstein e sua equação E=mc2, que resultaram em Hiroshima em Nagasaki e no bombardeamento de Dresden e, quem sabe, hoje ou amanhã à noite, na Faixa de Gaza e em Jerusalém ... Até um velho stalinista, para que vejam, pediu-me, gentilmente, para incluir no livro a menção que Gramsci faz do relógio de um campanário lá da ilha de Ustica, onde esteve preso.. Só os mendigos parecem não compactuar com essa corrida ridícula e estéril contra o tempo, que é a mesma coisa que a corrida contra a morte. Para eles, que estão cagando para as horas, não adianta aumentar as doses de vodka, das Salve Rainhas, ou do ansiolítico e nem arrancar os ponteiros, para se ter uma ilusão de eternidade...

Por isso, você que está aí lendo está orelha, e que, certamente, também está com o tempo contado, olhe para os lados e lembre-se de que Marx, já naquela época de horrores, tinha razão: O tempo é tudo! O homem já não é nada. Quando muito, é a carcaça do tempo... Enfim, por mais cretino e invejoso que você seja, será impossível continuar o mesmo depois desta leitura. (orelha do livro)


 


 


4 comentários:

  1. Tenho pensado muito seriamente que essa é a soluçao para aquela barbárie...uma bomba "H" sobre israel!!! Se o detonador estivesse a meio palmo não duvidem; já era aquele "território " de MERDA!!!
    "Contra o mal um mal MAIOR."
    Onde já se viu assassinar crianças!!!? Bando de FILHOS DA PUTA!!! e antes que algum imbecil venha me criticar afirmo: eu não sou nada absolutamente; nem cristão, nem mulçumano, nem judeumotherfucker...to mais pro vodu caralho!!! Kkkkk

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  2. https://blogs.correiobraziliense.com.br/nosso-parque-da-cidade/voce-sabia/o-relogio-do-sol-e-historia/

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  3. Que beleza um novo livro Bazzo. E por falar em livro, sua loja virtual está fora do ar quando se clica no "loja" aqui do site

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  4. A loja virtual foi à bancarrota.
    Agora, pedidos podem ser feitos por aqui mesmo, vou providenciar uma forma de receber a grana e comunico (...!?)
    Abraços

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