"A rã atira-se à água, como se quisesse suicidar-se..."
Ramón Gómes de la Serna
Meu correspondente de Lagos (na Nigéria), acaba de enviar-me notícias variadas e surrealistas daquela cidade, entre elas a das histórias de feitiçaria (koro, ode ora) relacionadas a roubos mágicos de pênis (esquisitice que os freudianos e os psiquiatras de lá logo se apressaram em rotular de síndrome de retração genital). Quase uma epidemia naquele país entre os anos de 1975 e 1977. De um momento para outro, um sujeito, num ônibus, num mercado ou em qualquer lugar, depois de fazer contato com algum estranho, tinha a sensação de que seus genitais estavam desaparecendo. Apalpava as virilhas e não encontrava nada. Quando "identificava" o responsável e começava a gritar: me roubou o pênis! Me roubou o pênis!, a turma da rua que corria em seu socorro, quase sempre assassinava o culpado... Muitos eram até queimados vivos. Depois, na maca de um ambulatório, a vítima do feitiço, recebia o diagnóstico de que estava tudo bem e normal com suas ferramentas. (!)
O texto entrava em detalhes tão loucos, tão ameaçadores e de um surrealismo nunca imaginado a ponto de, conforme ia lendo, eu mesmo apalpar-me para ver se tudo estava bem.
Concluía seu relato sugerindo-me que lesse o livro de Frank Bures: Geografía de la locura (en busca del pene perdido y otros delírios colectivos), que acabara de enviar-me, sobre assunto tão fascinante, como ameaçador.
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EM TEMPO - Como a relação LOUCURA/GEOGRAFIA E CULTURA, para mim, sempre esteve em pauta. Embrenhei-me na leitura.
"Além do koro, essa síndrome da retração dos genitais lá da Nigéria, - diz o autor - existia um monte de outras pelo mundo, tão bizarras quanto aquela. Na Malásia, - por exemplo - havia o amok, onde a pessoa afetada passava um tempo amargurada, depois entrava em uma fase homicida aleatória e depois não lembrava de nada. Também na Malásia algumas pessoas padeciam de latah, um estado hipnótico provocado por um susto repentino, cujas vítimas passavam a imitar as palavras e os gestos das pessoas ao seu redor. No Japão, algumas pessoas desenvolviam o taijin kyofusho, um pânico aterrador à vergonha alheia e com vários subtipos: sekimen-kyofu (fobia a enrubescer), subo-kyofu (fobia a um corpo disforme), djikoshisen-kyofu (fobia ao contacto visual direto), e jikoshu -kyofu (fobia ao próprio cheiro corporal). Também se diagnosticou entre os jovens japoneses uma espécie de pandemia silenciosa, o hikikomuri, um retiro social extremo. No Camboja, as pessoas sofriam de khydl cap (ataques de vento), uma substância parecida com vento que circulava pelo sangue. Na Índia, os homens temiam ser afetados pela síndrome conhecida por dhat, depois da perda de uma grande quantidade de sêmen, e na região do Rajastão o problema era a síndrome de gilhari cujos pacientes chegavam aos hospitais com a queixa de estarem com a nuca inchada causada por um tipo de lagarto que se movia por sob sua pele..."etc, etc, etc, etc... (páginas 58 e 59)
Diante de uma espécie tão louca e tão à flor-da-pele, é bom lembrar o conselho daquele médico e feiticeiro suíço conhecido por Paracelso: O médico deve ser um viageiro inveterado, pois deve inquirir permanentemente as loucuras mundo...
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