terça-feira, 16 de maio de 2023

Mi buenos Aires querida...




 


Buenos Aires, como Brasília, não é para amadores. Aqui, para entender as transações na troca de moedas é necessário ter feito um mestrado em matemática avançada e, mesmo assim......... 

Do aeroporto, em direção à Calle Florida, qualquer um, não sendo cego, e vendo as roupas dependuradas nas janelas e nos muros dos cortiços, lembra logo de Paraisópolis e toma consciência que não está a caminho de Zurich...

E nas esquinas só se  ouve o convite para o tal cambio blue ou black. O dólar! Ah! a moeda sagrada... Tristes trópicos... A moça da livraria - não por nacionalismo - mas por interesse próprio, prevenia um casal de aventureiros: Ustedes pueden ser deportados si aceptaren hacer cambio clandestino. Forçando um pouco a barra isso lembra a Havana dos anos 90... O Chile, o Peru, o México, A Colombia, a Bolívia... etc, etc... e etc... Mas, para compensar, a estante de história e de filosofia em frente, são duas maravilhas:

1. Fobocracia; de Peter Sloterdijk

2. La muerte sin escena, de Nelly Schmith

3. Ni perdón ni talión, do Vaneigem

4.  Apuntes sobre la supresión general de los partidos políticos, de Simone Weill

5. Locos de Dios, de Santiago Kovadloff

6. Apocalipsis, de Karl Kraus

7. Sobre la impotência, de Paolo Virno

8. Dicionário infernal,  de M. Collin de Plancy,

e isso, para mencionar apenas alguns...

As ruínas urbanas são visíveis. Os ônibus parecem querem atropelar alguém... E, numa performance simbólica, amontoaram uns pacotes estranhos junto ao obelisco...





Sim, são nuestros hermanos! É o grito profundo e interminável da América Latina... Mas nada que um café com leche, acompanhado por una media-luna não possa amenizar...

Uma claridade quase amarela invade a cidade na hora do ocaso... (Como diria Borges: El poniente que no se cicatriza aún le duele a la tarde...) Ou, como resmunga um clochard que já perambulou por São Paulo: é o reflexo do Rio de la Plata......... Fingindo não ter rumo, vou vasculhando as esquinas e os cruzamentos, rezando para não ser esmagado por um desses "diablos rojos" - como são conhecidos no Panamá... - e imaginando o Borges, o Arlt, o Piazolla, a Evita ou a Marie Langer ziguezagueando no meio da multidão desvairada...



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