sexta-feira, 12 de maio de 2023

A Coca-Cola, os idiotas e os mistérios da fé e do além...




 NO PRINCÍPIO ERA A COCA...



Neste mês de maio, além do dia do trabalho, das mães e das noivas, se comemora também os 137 anos de existência da COCA-COLA. Dessa garrafa de liquido preto e fervilhante que, aos domingos, está religiosamente tanto na mesa da burguesia; como na dos proletários; tanto na dos doutores como na das toupeiras; tanto na dos roqueiros como na dos criadores de cabras; na das elites, como na da ralé; tanto nos salões grenat dos puteiros, como nas churrascadas místicas paroquiais... cafetões e bispos; balzaquianas e lolitas; mulheres do por-do-sol e madres superioras... Tanto no pátios das penitenciárias como nos retiros dos escoteiros de Cristo... e nos Círculos de São José Operário... tanto no ocidente como do oriente; nos festins do continente africano inteiro; nas assembléias dos contra e dos defensores do imperialismo... todos bebem dessa fórmula ao redor da qual se alimenta um segredo e um mito quase sagrado. Dessa bebida que foi produzida inicialmente para indigestão estomacal, má digestão e etc, por um farmacêutico de Atlanta, Estados Unidos, John Pembertom, 1886 que, como bom farmacêutico - dizem - era dependente de morfina. Sim, a fórmula de tal xarope (como os mistérios de tantas outras seitas ) está trancada a SETE CHAVES numa espécie de sacrário do World of Coca-Cola Museum de Atlanta...

Chegou ao Brasil lá por 1950. Se não a experimentei ainda na mamadeira ou junto às colheradas de elixir paregórico, foi por milagre e por viver numa região que insistia em não abandonar a Idade Média...

Durante as últimas quatro/cinco décadas viemos assistindo uma guerra pueril entre os ascetas e os pelegos do marketing, a respeito de seu uso.

Para os naturistas, os vegetarianos, os macrobióticos, os feiticeiros nativos etc, aquela bebida produzida num outro lugar do mundo e por uma tal de Coca-Cola Company, tinha tudo para ser um engendro do mal. Ah! Um estupefaciente gasoso! Era evidente que o diabo deveria estar contido naquelas bolhas efervescentes... e viciantes... E, pior, os curandeiros juravam que aquilo, que a propaganda associava à felicidade, transformava os homens em "boiólas" e as mulheres em "sapatão"... e, claro: balofos.

Se dizia que os principais malefícios causados por aquela bebida era no pâncreas e que na maioria das lápides dos cemitérios se deveria imprimir a seguinte inscrição: este foi vítima da Coca-Cola...

Que uma bebida gasosa só poderia estar sendo engarrafada nos laboratórios luciferianos e que, como a obesidade começou a crescer vertiginosamente no mundo depois de 1900.....  a responsabilidade só podia ser dela... daquela xaropada produzida com as folhas da coca boliviana... Ah! os Andes! Uma comunidade de demônios deveria habitar o pico dos Andes... E descia de madrugada cheirando a lança-perfume, para cultivar a erva maldita e as flores do mal...

Para uma das centenas de seitas que existiam e que ainda existem por aí, ela era e é a urina de satanás... enquanto para uma legião de velhinhos semi-brochas e quase terminais continua funcionando como afrodisíaco ...

Mais recentemente, o filósofo Olavo de Carvalho pregava a seus discípulos que na preparação da Pepsi (sua irmã gêmea) eram empregados até fetos humanos...

E a última notícia que paranóicos me enviaram na semana passada, é que um outro milionário americano estaria inserindo vacinas mRNA nas garrafas, para controlar o DNA da manada e do planeta... 

Não é impressionante?

E se você lembrar que, as roupas do PAPAI NOEL são uma propaganda velada dessa bebida e que até o Fernando Pessoa, o incensado poeta lusitano, se prestou a produzir para a tal bebida o slogan publicitário: PRIMEIRO ESTRANHA-SE. DEPOIS ENTRANHA-SE, dá para ter uma ideia do grau de infantilidade, de instabilidade, de vulnerabilidade, de porra louquice e de solidão humana que se é obrigado a contemporizar aqui na periferia desse desvairado planeta...

Enfim, entre um trago fervilhante e outro, imaginem: se há todo esse corolário de crenças, de mitos, de fé, de temores, de ilusões, mentiras, de contradições, de paranóias e de esperanças relacionadas a um produto engendrado há pouco mais de um século, imaginem a quantidade de asneiras contidas naquelas ficções metafísicas e espirituais inventadas por ribeirinhos que alucinam e envenenam o mundo há mais de dois mil anos...

Mas relaxem, que Godot haverá de chegar, e que o farmacêutico John Pembertom ainda será canonizado...



 



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