Mesmo que você tenha 120 anos, já tenha vindo a Buenos Ayres umas 50 vezes e deteste o roteiro preferido da turma, é inevitável dar uma passadinha pelo Caminito, ver a turma do futebol que vai queimar incenso a La Bombonera e acender uma vela ao Maradona. A propósito da morte do Maradona, um cartaz pregado aos muros sugere que "no faleció, lo mataron..."
Claro que a decadência está visível, tanto nas casitas como nos ex hippies, agora com seus 60 ou setenta anos, morando ainda com la mamãe e vendendo pulserinhas de arame... (sim, há um certo prazer no espetáculo das ruínas!)
Logo que se coloca os pés ali, se é abordado por duas ou três "tangueras" balzaquianas que te enfiam um chapéu na cabeça, um cachecol branco no pescoço e um casaco cheio de cheiros, te agarram e te ensinam a simular uns passos dessa dança de bandidos - segundo Borges -. Enquanto isso, uma delas faz fotos para, em seguida, ser enviadas ao teu Whatzap... Tudo em minutos! Quando te das conta, já fizeste esse papel de babaca e já lhes passaste, pelo menos mil pesos (sorte que mil pesos não são nada!) O resto, é ressaca dos anos 70, dos hippies, dos artesãos, dos idólatras do fumo... E a turistada vai e vem com seus celulares em punho... Ao fundo das precárias vivendas, o som dos bandoneones... e uma ou outra antiga cortesã tentando fisgar algum pobre Don Juan aposentado... Como não pensar na estupenda opereta de Piazzolla: Maria de Buenos Aires?... Uma delas, que estava lendo Memorias de una beatnik (de Diane di Prima), me confidencia que suas 4 filhas dançam tango em Amsterdam... Eu, finjo acreditar, porque, afinal, acreditar não custa nada... E depois, apesar dos cambalachos, a vida é bela!
Nos fundos de uma casa minúscula e prestes a desabar, a pichação: Me fundieron las mujeres ligeras y los caballos lerdos...
Enquanto vou circulando, circulando, circulando, não esqueço que amanhã, terei que tomar o metrô (que aqui chamam subte) e ir até Belgrano, para comprar o livro de Doris Lessing: instruccciones para un descenso al inferno...
Da radiola antiga, instalada na sobre loja de um restaurante se ouvia a este clássico da fé, da depressão e da da boemia argentina...
Lluvia! Carajo! Kkkkk
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