Às 5 da manhã, Buenos Aires foi despertada por trovoadas, ventos e chuva. A camareira chegou molhada.
Amanhã é dia 25. Grandes expectativas para as manifestações partidárias na Praça de maio. Lá pelo meio dia já havia gente lá montando o cenário. A famosa Casa Rosada ficou praticamente num segundo plano, escondida atrás de cercas e de tendas...
Ouvi uma cigana da romenia dizendo a um estrangeiro: se de tanto ir e vir pela Calle Florida e por Corrientes, o tênis te está machucando o dedão do pé, vai até a Farmacity ali da esquina, suba uma escadinha que há lá no interior e, na sobre loja, poderás comprar um "capucho"( um dedal) de silicone. Enfias o dedo nele e tudo estará resolvido..
Mas se estás cansado e de saco cheio com esta cidade, desça até o Café London City (Peru com Avenida de Mayo), entre no café, sente na primeira mesa à esquerda, peça um Lágrima doble; um, pastelito qualquer e fique ali assistindo aquele bando que passa, uns apressados; outros quase parando,;uns desocupados, outros ocupados demais... Casais brigando, mendigos profissionais, trapaceiros de todos os naipes e homens octogenários de braços dados com mujercitas em vias de emancipação econômica...
Um gole no café, um pedaço do pastelito... Parece que vai chover. Alguém bate delicadamente no vidro e pergunta: Câmbio?
Resmungo: câmbio um caralho!
Milhares de pessoas, há décadas, sobem e descem pelas esquinas da Avenida de Mayo com Perú... O espetáculo é emocionante, mas, afinal, o que pretendem com essa vidinha de mierda?
Outro gole. O que há de mais poético na Argentina é essa maneira de pedir um café com leite: Me veas un lagrima doble!
Nem o Borges, com sua japonesa a tiracolo, foi tão romântico...
E por falar em romantismo, sabem como chamam a calcinha de mulher, por aqui?
Bombacha.
Caralho! Quem é que não pensa logo naqueles gaúchos bobalhões dos pampas e que não é tomado de imediato por uma brochada???
E depois não sabem por que a desilusão amorosa e sexual no mundo hispânico, está no auge.
Mas dizem que já há um projeto na Academia Argentina de Letras para resolver essa aberração...
Voltando a falar da Praça de Mayo, enquanto os sindicalistas e os operários iam levantando faixas, testando o som e preparando o ambiente para amanhã, vinte ou trinta travestis e trans faziam uma manifestação no lado oposto à Casa Rosada. Entre os discursantes se podia identificar que havia resquícios da língua lusitana... Um grupo de simplórios, (não sei de que país latino-americano) os olhava de longe, com malícia e desconfiança. Que deveriam estar pensando?
...
Nenhum comentário:
Postar um comentário