Istambul! Damasco!
Ah! Que despirocada é a condição humana!
Que sina e que destino o nosso, ter que construir nossas moradas e viver na superfície de um rochedo que gira incessantemente pelo meio de outros e sobre si mesmo... E que, de vez em quando, indiferente, cospe sobre nós suas cinzas e suas labaredas ou então nos sacode como um cão sacode as pulgas... e como o bezerro sacode as larvas... Pouca coisa é a terra - dizia Cristovão Colombo -, nem sequer é tão grande como se julga!
Párias de origem duvidosa e desconhecida, como é que se conseguiu resistir até aqui? Dar conta de dissimular, suportar e elaborar tanta fraude, tanto descaso e tanto sofrimento?
O Mendigo K apareceu na padaria mais tarde do que os outros dias, e com sinais visíveis de abatimento. Dizia estar aniquilado pelas imagens que recebia de lá: aqueles escombros!... aquela desolação!... aquela solidão sem remédio e sem solução!... E reclamar a quem? Revoltar-se contra o quê? Perguntava a si mesmo.
No meio de sua visível tristeza, ouvi que recitava para outros mendigos o fragmento de um poema do inglês do século XVII, John Donne: "a morte de qualquer homem (em qualquer lugar do mundo) me diminui, porquê sou parte do gênero humano. E é por isso que não tem sentido perguntar por quem os sinos dobram, eles dobram por ti..."
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