segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Os comerciantes e a farsa carnavalesca... Como não lembrar dos macedônios que embriagavam seus escravos para distrair suas crianças com o espetáculo da embriaguez?



"Os adivinhos te ajudam a ignorar o teu destino..."

(Confúcio)





A cidade, que parecia uma Chernobyl, ia aos poucos se  travestindo... Nada é mais bizarro e melancólico do que um burocrata ou do que um Barnabé  fantasiado...vestido de palhaço, fingindo alegria e rebolando na avenida... 

O Mendigo K, dissimulado de anta, requebrava a lombar no meio da turba... De vez em quando se punha diante dos fotógrafos e da mídia  para gritar: Alegria! Alegria! Liberdade é isso! É poder amar! E mostrava as nádegas para as câmeras e para outros interessados... Os fotógrafos se apressavam em registrar a cena e suas declarações.  Enquanto duas mocinhas adestradas iam a seu encontro para que ele falasse mais das alegrias e da felicidade do carnaval! E ele, cínico, protegido por uma máscara de confetes e de serpentinas completava: Ah! O carnaval é um milagre! Como somos felizes! Como estávamos precisando rebolar, lavar a alma! Ah! nossa felicidade não tem limites...

As repórteres, também fingindo alegria e saltitantes, (mas sem mover  o púbis além do permitido pela CLT, nossa Carta del lavoro) anotavam tudo e repassavam imediatamente as imagens ao redator chefe, pelo WhatsApp... que, por sua vez, intercalando com propagandas, colocava tudo no ar...

E a horda aparecia de todos os cantos e pulava. Se exprimia. As meninas fingiam que eram meninos e os meninos fingiam que eram meninas, enquanto os de outros carnavais fingiam ainda dispor de testosterona e de vitalidade. Se abraçavam, se enfiavam a língua e os dedos entre as pregas, comiam purpurina, hálito e batom uns dos outros...   As mamães (também de outras orgias e de outros carnavais) assistiam de casa, nostálgicas e em surto, a emancipação, a iniciação e a liberdade dos filhinhos... Ah! as bactérias! E saber que amanhã os Postos de Saúde estarão fechados... Chuviscava. Saía sol. As baterias do trio elétrico fraquejavam. Esfaquearam um adolescente... Cheiro de urina e de cachaça que, aliás, se parecem. Os mendigos, apodrecendo sob os viadutos, as beatas e os padres por detrás das cortinas da hipocrisia, espiando... Os hinos e as escolas carnavalescas, como verdadeiras seitas... O octogenário Gilberto Gil declarava lá na Bahia que o carnaval era um verdadeiro milagre! E todos, ao ouvi-lo, jogavam eufóricos seus abadás para o alto e resmungavam: Aleluia!! Aleluia! Deus é brasileiro! Mas e o saneamento básico? E os morros que, com as chuvas, desabam sobre o 'populacho'? E as toneladas de ouro da Amazônia rapinadas pelas dez ou doze famílias de sempre? Ah! Do sul ao norte há vertigens e fé no batuque, nos caches imorais e na carne! E, já que os comerciantes precisam vender papel e confetes, a mídia turbina o auto-engano e o fetiche da felicidade... Embriaga e envenena as massas. Seleciona imagens, mostra o reboleio e as pregas dos subalternos e dos foliões. As hordas seguem aparecendo por todos os lados. Nem o jogo de baralho é mais democrático do que um carnaval. O populacho oculto! Mesmo sabendo que dois dias depois terá que voltar às correntes e à escravidão, a turba se sente participativa. O carnaval, - mentem os patrões e os partidos - como o futebol e as peregrinações, é popular, inclusivo e proletário... E o escravo contemporâneo, crente de que está emancipado, saltita anônimo ao lado do capataz e até tenta imitar o Discreto charme da burguesia. Os micro poderes ficaram invisíveis e para trás... Amanhã é outro dia! Ei, você aí!!! Ninguém é chefe de ninguém. Tudo é carnaval! Trocaram as baterias do trio elétrico bancado pelo Estado. Teu sorriso... Ó quanta alegria... Mais de mil palhaços no estradão... Até na pantomima de alegria a horda vai deixando escapar os sinais de um deficit cognitivo secular... É evidente que as origens desse lero-lero e desse desvario são mais religiosas do que pagãs!

Aliás, a uns mil metros dali, outro bando. Para contrapor o bando profano, recrutaram um bando sagrado. Os pastores e os párocos confinaram suas ovelhas num estádio de futebol. E nem se intimidam em chamar aquele evento de rebanhão. SENHOR! Tenha piedade!!! Sim, são aparentemente de outro pedigree. A lógica e a intenção são de outra natureza, mas o transtorno é o mesmo...

Apesar de toda a desonesta propaganda dessas alienações, o Mendigo K seguia rebolando e lançando confetes na cara suada dos bandos, enquanto pensava nos macedônios que embriagavam seus escravos para distrair suas crianças com o espetáculo da embriaguez... Que farsa!



6 comentários:

  1. O valor do vade mecum é $90 mesmo ?

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  2. Sim. É o capitalismo selvagem que aos poucos vai nos transformando em pequenos larápios, trapaceiros e ladrões. Sem falar dos livreiros que ainda cobram 60% do valor do livro para vendê-lo em seus bric-a-bracs? Que tal? Abraços

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  3. 60% para os livreiros? Mesmo assim livrarias Saraiva e Cultura quebraram pela desmedida ganância.
    Há ladrões por todo canto. Soube que o preço da banana nas feiras livres é 400% - quatrocentos - do que pagam ao plantador. A banca mais lucrativa da feira. E os supermercados cobram mais caro.
    No século passado prenderam o famoso arrombador de cofres das mansões dos milionários, Ido (ou Gino - escrevo de memória)Meneghett, já beirando os 80 anos.
    O repórter:
    - O senhor não sente vergonha,com sua idade, ser preso por tentativa de furto?
    - NÃO, respondeu Ido. O comerciante também furta, mas furta pacientemente.
    Sebastiano Timpanaro

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  4. Somos partidários do Ido. E gostei da analogia entre livros e bananas... Quanto aos livreiros, uma curiosidade: Além de ter que dar a eles 60% do valor do livro e implorar para que não o escondam no fundo das gavetas, (se o livro custa 90,00, 54 é para eles), para receber os 36,00 que lhe cabe, você tem que passar lá quatro ou cinco vezes. Na primeira vez, eles te dizem que precisam fazer um levantamento; na segunda, que o gerente não assinou o cheque; na terceira, ficam se queixando das dificuldades com as vendas, dos mendigos que cagam na entrada de seus negócios, dos impostos, do Bolsonaro que deu prioridade às pistolas ao invés de livros e aos clientes que só querem saber de livrecos esotéricos... e porquê aquele não é dia de pagamento; na quarta eles se escondem e a partir daí, não te cumprimentam mais nem na rua... E os escritorzinhos de merda, assim como os bananeiros, continuam escrevendo e produzindo só por vaidade e para manter viva essa turma...

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  5. A edição de um livro anda cada vez mais cara. Quase impensável. Por isso só alguns poucos se encorajam nesta empreitada ( autores e editores). As pequenas editoras e livrarias já fecharam, as grandes andam cambaleando por aí. As pessoas andam preferindo dedilhar o celular. Os cérebros atrofiando, o pensar vazio... Se continuar assim, amanhã, escrever uma linha será um feito.
    Parabéns, Bazzo, por persistir!

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  6. Não alimente essas hienas Bazzo !
    Coloca no Mercado Livre, o comprador pagando o frete.
    A plataforma só media a venda e tem como fazer anúncios grátis.
    Vendo instrumentos por lá e é super fácil

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