sábado, 17 de dezembro de 2022

PERU: De Atahualpa e Túppac Amaru a Fujimori, a Castillo... a Dina Boluarte...



"...É possível reduzir a três todos os princípios que impelem o homem a agir: egoísmo, maldade, compaixão..."
Schopenhauer




E a insistência em martirizar-se persiste...

O roubo, o envenenamento e a maldição lançada pelo espanhóis sobre os Incas peruanos, foi em tal dose que, mesmo depois de séculos, depois de Atahualpa, de Tupac Amaru, das imensas plantações de coca e de todos os sacrifícios ao altar de Viracocha eles não conseguem curar-se e nem apaziguar-se. A cruz, a espada, os cachorros e o chicote dos invasores (garimpeiros de ouro, prata e almas) os empurraram para um desequilíbrio tal, que agora já não dispõem de lógica suficiente para interromper essa aparente "sinarchía" e essa luta permanente contra si próprios. Se elegem e se deselegem... Conspiram! Entre si e contra si! Chegaram até a eleger um japonês. Ah! quem sabe, uma alma budista! O Zen Budismo! Mas Fujimori, malandramente, foi mais samurai do que monge: massacrou a guerrilha e os movimentos campesinos. Lembram do Sendero Luminoso? Foi ele que exibiu o Abimael Guzman numa jaula... 

E o Deus Inti, lá no alto dos Andes, no meio daquelas pedras misteriosas e da Velha Montanha (Machu Picchu), apenas observa os enfrentamentos, com mais raiva do que pena... Enquanto isso, as elites, (os espanhóis que não se foram e que se fixaram), vão indiferentes, perfumados e falando inglês em direção ao San Juan de Miraflores ou ao Maido, dois dos melhores restaurantes do mundo, apreciar um ceviche... 

Lá fora, pode-se ver pela vidraça, sob a vigilância dos guardas, uma família recém descida das geleiras (ou chegada das minas), que mendiga e entoa em suas flautas a mesma canção com que, antigamente, pretendia atrair o olhar e a benevolência de Manco Capac e até de Viracocha... Insiste em não acreditar que la no alto dos picos nevados, além das próprias geleiras, de uma ou outra lhama e de um ou outro quéchua expulso do mundo, não há absolutamente mais nada... Que até os espíritos se foram e que o céu parece estar deserto...

No mármore da toalete, ironicamente, um pensamento de Cesar Vallejo, o maior poeta peruano, aquele que quando percebeu a loucura local, caiu fora, foi viver e morrer como um pária em Paris. A frase é de um de seus versos: Hoy, me rasco la barbilla y me voy! Mais ou menos como: Hoje apalpo meu queixo em retirada... Em outros tempos fotografei sua tumba lá no Cemitério de Montparnasse, em Paris. Sobre sua lápide havia este outro pensamento, bem mais radical do que aquele esculpido no mármore da toalete de Miraflores: Cuando yo naci, dios deberia estar enfermo...








 





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