Por aqui não se fala em outra coisa além das enchentes, do futebol e, claro, do Natal. Florianópolis, na última semana, por pouco não se transformou num Haiti. Faltou energia, as torneiras secaram, houve inundações, deslizamentos de encostas, acidentes... E as freirinhas da mídia, com um certo sensualismo, noticiavam tudo: as enchentes e as hecatombes, de hora em hora, colocando um ar meio perverso e meio diluviano nos acontecimentos. Sim, parecia haver um certo prazer e a tentativa de exibir um micro poder na fala delas... Convocam os prefeitos, o governador, os engenheiros, os lideres religiosos... para dar explicações, mesmo que sejam abstratas e metafísicas... Mas a demagogia está na cara. A cada catástrofe, um jato de hormônio e um gozo! E a chuva, desmascarando os relatórios, as promessas, as mentiras e as obras sucateadas... Uma ruína aqui, outra ali. Se vão as pontes, os postes, os cortiços, as estradas falsificadas, o lero lero interminável das urnas e dos humanistas... (Assisto a tudo e penso no autor do livro: O tradutor cleptomaníaco: entre 1000 pessoas, 999 são imbecis, palermas bancando os importantes...)
E os hoteleiros, gatunos e vivaldinos, aproveitam para triplicar o preço das diárias. O que é um ladrão? Um comerciante sem testemunhas... Sem falar da mais moderna das trapaças, a tal Airbnb = Air Bed and Breakfest. Naturalmente, sediada nos EEUU.
Uma espelunca ordinária que custava R$: 400,00 - por exemplo - passou, de um dia para outro a custar 1250,00. Os porteiros, a trupe de subalternos e até as camareiras, essas imigrantes latino-americanas em sua escravidão contemporânea (elas que acham sempre tudo gozado) com variantes do mesmo monólogo litúrgico de sempre e a serviço de seus patrões, justificam a fraude dizendo que há um Congresso Médico na cidade, que tudo está ocupado, que essa é a bandidagem legalizada da oferta & da demanda do liberalismo, etc etc. (enfim, da lei principal da putaria & da plusvalia...) Falando dessas simpáticas mulheres latino-americanas que vêm vender sua mão de obra por quase nada, (aqui entre nós) não seria mais patriótico, romântico e dignificante que se escravizassem por lá, mesmo que fosse na administração de um singelo e bucólico randevu, nas encostas dos Andes?
E por falar em randevu, nos hotéis do passado, pelo menos, se podia ouvir, do quarto ao lado, os gemidos dos casais trepando, agora, sabe-se lá por que, blindaram as janelas e as paredes. E, com o tal 'isolamento acústico', não se ouve mais nada, quando muito se escuta o ruído da descarga, os choramingos e as maldições dos casais mais exaltados brigando por uma ou outra bagatela da vida cotidiana... Num hotel, havia vazamento; no outro encontramos até pentelhos entre os lençóis (e que não eram nossos!); e em outro ficamos sem toalhas por umas boas horas. E, claro, para conseguir o dinheiro de volta, se tem que marcar uma audiência com a Suprema Corte ou, em casos de urgência, pedir ao pároco que mande um Whatsapp para o Papa Francisco. E para quem pretender dar um mergulho no mar, as farmácias populares já sugerem um anti micótico especial. Porque, desde os tempos do Marechal Floriano (aquele que emprestou seu nome a esta cidade) as autoridades, dos mais diversos partidos, vêm prometendo construir Saneamento Básico e até mesmo uma Estrada para a Imortalidade, mas...
Curiosamente, com raras exceções, as mulheres com mais de 50 anos se aproximam dos 80 quilos e os homens, na mesma faixa etária, têm o umbigo permanentemente flertando com o púbis... Que tragédia! Mesmo assim, os governos se elegem prometendo garantir 4 ou até 5 refeições por dia! COMER! Única ideologia e única filosofia do populacho! Ora! Um governo realmente revolucionário, trataria de fazer com que seus eleitores (não apenas os pobres, mas também os novos ricos) comessem apenas uma vez por semana... A propósito, falando de barrigas, de obesidade e de futuras bariátricas, (confirmo) está acontecendo na cidade um encontro de médicos (SBAD 2022) especializados no aparelho digestivo. Que deve pensar essa gente, a respeito do menu da cesta básica?
Da janela de fundos de uma mansão ainda inacabada, enquanto olha para a imensidão do mar, um casal de piratas se embriaga em lamentos ouvindo: À casa de Irene...
E sempre as mesmas dez ou doze família aporofóbicas controlando econômica e religiosamente tudo. Não apenas o setor hoteleiro, mas a policia e a máfia aérea. Aliás, quem quiser alterar o horário de um voo terá que desembolsar o dobro do valor já pago. E todo mundo paga, babando e com o rabinho entre as pernas, porque teme o cassetete das milícias judiciárias e porque viajar é cult e da frisson... Mas qual é, afinal, a lógica dessa cretinice, a não ser a dos estafadores? Siglo XXII... cambalacho! Estupido y febril!!! E tudo legalizado, com Alvará e tudo, como se se tratasse de um honrado Sindicato de Ladrões... E a pobre ralé, domesticada e convencida de que pode até vir-a-ser próspera, corre fatigada, de um canto a outro, vendendo porcarias feitas em casa ou produzidas em série e fazendo de tudo, às vezes dando até o rabo, para conseguir participar dessa farsa e consumir algumas migalhas...
Enquanto isso, lá em Brasília, administram a volta Dos de Ontem, jurando que irão fazer nas escolas, nos hospitais, na cozinha dos restaurantes e na alma da plebe, em 4 anos, o que não fizeram em 20!
Ah! e as enchentes tiraram os mendigos das tocas! Ao redor do Mercado Municipal se tem a impressão de estar em Benares... Sim, o mar é o Ganges! E não são só negros, como se costuma pensar. Há loirinhos, quase albinos, implorando moedas e jurando que também seus avós, vindos de Brémen, de Napoli ou da Ilha dos Açores, se entusiasmavam com a música: Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolls Stones...... E, bizarramente todos, como seus ancestrais, insistem no zum zum da fé e da prosperidade... O que, convenhamos, me provoca até um certo tipo de alergia emocional! Observem - me dizia o Mendigo K., - como o moralismo mais cretino ainda se transmite por todos os lados e entre todas as gerações, com a mesma velocidade que a gonorréia entre os adolescentes...
Sim, algo, vindo bem de dentro, tenta convencer-me: Bazzo, depois dos 73 é ridículo querer seguir por essas estradas reinterpretando esse império de desonestidade e nesse nomadismo desvairado!
Mas não me convence...
Então, para acalmar-me, enquanto vou beirando as ondas, saltando por sobre os filetes de esgotos, chutando caranguejos e apaziguando a fúria de minha companheira que está, como eu, prestes a tocar fogo no mundo, recito a frase do Kosztolányi: Babacas! Saibam que "Eu não nasci para salvar a humanidade. Essa legião de despirocados que, quando não é castigada por incêndios, inundações ou pestes, organiza guerras e artificialmente cria os incêndios, as inundações e as pestes..."
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