(Etienne Rey)
O vento que escorrega na vidraça de minha janela, parece aquele que, de vez em quando, quase sempre de madrugada, chega lá em Pequim, partindo do deserto de Gobi... Me faz bem. Gosto das ventanias e das tempestades. Os raios e os trovões, então, me dão uma sensação de ereção e de imortalidade... Por instinto, sempre admirei mais àqueles que ao invés de semear vento, semeiam tempestades...
A cidade amanheceu envenenada por fofocas, por desânimos, culpas e por mentiras.
O Mendigo k, depois de dar uma boa tragada numa garrafa de Vermouth, (trazido de Turin), resmungou: Hoje, Bazzo, minha decepção chegou ao ponto máximo. Os fiascos de ontem foram demais. Primeiro, o fiasco dos bolsonaristas; depois o fiasco da policia e por fim, o fiasco da mídia. É cada dia mais evidente que estamos mergulhados numa grave enrascada cognitiva. Numa torre de Babel onde um diz uma merda e o outro entende outra merda.
As manifestações de ontem, dos tais bolsonaristas, foi melancólica. Depois de estarem quase por dois meses acampados por aí, tendo visões, delirando frente aos quartéis, rezando e jurando que iriam incendiar a cidade, não foram além de cinco ou seis atos medíocres de desobediência civil, e ainda com o pretexto de estarem querendo libertar um pobre índio xavante que está temporariamente enjaulado.. (Sinceramente, ninguém pode negar que ver os ditos bolsonaristas colocando a própria vida em risco para arrancar da prisão um porra-louca indígena, é um ato quase transcendente...).., E por falar nisso, imaginem o impacto mental que deve acontecer num sujeito que migra da aldeia para uma de nossas penitenciárias medievais... Onde estão os discípulos de Rousseau, que não dizem nada? Ou não leram Le bon sauvage? Eu e meu cachorro, fazendo nossa parte, resmungamos um para o outro: Exigimos que esse homem, independente de seus 'crimes', seja imediatamente devolvido para sua tribo!
A respeito das manifestações, sinceramente, mesmo os espíritos mais pacíficos aqui da cidade, esperavam e se preparavam para algo bem mais significativo e implacável. O incêndio da Caixa Econômica, por exemplo, uma implosão em série nas estações do metrô, a derrubada daquela casca de tartaruga construída pelo Niemayer ali ao lado da catedral e etc. Mas não. Queimaram um ônibus aqui, outro ali; derrubaram um ou outro poste, jogaram cadeiras nas vidraças de uma delegacia... e nada mais. Atos que minha turma de ginásio fazia com muito mais vigor quando recebia uma nota abaixo de zero, em educação cívica...
Por outro lado, a polícia que foi convocada para enfrentar os "terroristas", apareceu por lá armada até os dentes, com uniformes de selva, fazendo pose e atirando freneticamente para os lados e contra um ônibus em chamas e desgovernado... Sinceramente, fiquei me perguntando como se comportariam se estivessem diante de quatro ou cinco estagiários do Bin Laden?
Mas o fiasco maior veio da mídia. Investiu todas as metáforas, hipérboles, metonímias e outras perversões da linguagem para transformar aquela palhaçada em um ato terrorista, grave, de ameaça à pátria, às parturientes, aos velhinhos aposentados, à gerontocracia, ao presidente eleito, à Constituição, à democracia, ao direito de ir-e-vir, e à turba que saia do shopping cheia de porcarias para o Natal... Uma dessas simpáticas repórteres passou meia hora descrevendo a carcaça e as cinzas de um dos ônibus incinerados... Sempre tentando turvar as águas para dar impressão de profundidade... Fiquei imaginando como seria a cobertura jornalística se estivéssemos diante de uma tsunami (de um movimento tectônico brusco no assoalho de nossos mares) ou de um apocalipse... O que é que se está esperando para fazer um recall nas escolas de jornalismo?
Tudo um fiasco humilhante.
E tudo isso, logo depois da cidade ter assistido, emocionada, à diplomação do presidente Lula que chorou pela terceira vez, e sempre quando se lhe apresenta o diploma de eleito. Ora! Até quando iremos assistí-lo chorando por uma bobagem dessas? É necessário que alguém de seu entorno o convença de que nada é mais burguês do que um diploma universitário e de que, se hoje, um diploma universitário vale menos do que um atestado de datilografia.., imaginem em sua época... Mas entendo. Esse sentimentalismo e essa debilidade é mais uma das misérias que se nos apresentam na velhice. Eu mesmo, já caí em prantos várias vezes, a principal delas, ao ver um carcará que, ao perseguir uma patativa cinza, se desequilibrou no ar, e veio rodopiando em direção ao solo, até chocar-se brutalmente na carcaça de uma barco abandonado nas margens do Rio São Francisco...
E por falar naquela solenidade, quem é que não ficou admirado de ver além do Sarney, aquelas jovens senhoras da primeira fila, felizes, quase autistas, aplaudindo como se tivessem dedos de cristal, como se tivessem passado a noite lendo a Montesquieu e como se pertencessem à ala revolucionária de gênero... e todas de tailleurs novinhos, de nove mil para cima. Sim, como dizia o pederasta Oscar Wilde: qualquer mulher é feliz quando pode mostrar dez anos menos do que a filha! Ah! mas o poder está tomado só por velhos! Ora! para essas beldades homem rico é jovem em qualquer idade, assim como o homem sem dinheiro é velho aos 28 anos... E aplaudem sem ter a mínima idéia daquilo que o diplomado está dizendo, porquê, assim que seus "esposos" forem nomeados, embarcam para Champs Elysées... Ah, Champs Elisées!
E muitos invejosos estão criticando a festança que aconteceu por aí, madrugada-a-dentro, em alguma mansão, depois da diplomação, na qual, dizem, estava o próprio diplomado, alguns membros da Suprema Côrte e etc. Ora! não sejam idiotas! Por que não festejar? Vocês não festejariam sabendo que há uma PEC no forno, e a vosso favor, de quase 200 bilhões?
Nojento!!!
ResponderExcluirFiquei em dúvida se o adjetivo está endereçado a mim; ao caos vigente, ao diplomado; ao Oscar Wilde; ao Etienne Rey ou ao nosso porvir. E se seria uma agressão de classe, de gênero, de seita ou apenas literária? Trata-se de um nojo físico ou moral? Nojento é aquele que causa nojo e nojo, no Antigo Testamento, você deve saber, era sinônimo de luto, tristeza e etc. Enfim, escreva mais. Tente desenvolver teu pensamento e principalmente teus sentimentos. E se teu nojo for demasiado, procure ajuda, pois ele sempre está presente nos casos de histeria. E não esqueça: nada é mais estúpido do que uma linha reta!
ResponderExcluirAcho que o anônimo sentiu nojo da:situação do Brasil.
ResponderExcluirPor que sentiria nojo de vc, Bazzo?
😎
ResponderExcluirbela cronica caro Ezio
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