quarta-feira, 6 de julho de 2022

Si me dejan hablar...

" En 1774, La Gazette de Pennsylvanie explique qu'il faut donner à chaque milicien (ou Minute Man) qui n'en est pas encore pourvu une arme à feu, une baïonnette, un étui  à munitions, un havresac et trente boîtes de cartouches et de balles..."

Andrea Barham

(IN: Napoléon n'était pas petit et autres fausses vérités de l'histoire)

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Meu correspondente de NY acaba de comunicar-me, com um dia de atraso, que prenderam por lá o garoto que, em Chicago, da cobertura de um prédio, abriu fogo contra a multidão que comemorava o Dia da Independência.

Segundo ele, ainda não se sabe grande coisa a respeito daquele criminoso juvenil que, todos vimos, parece saído de uma creche e não ter sequer forças para apertar o gatilho daquelas armas poderosas que são vendidas por lá (desde 1774!?) até nos quiosques de hot dogs. E é curioso que para driblar as patrulhas, subir à cobertura do prédio e cometer o crime, disfarçou-se de mulher, exatamente como aquele que meses atrás, em Paris, entrou no Louvre para cuspir sobre a Monalisa, obra santificada e incensada de Michelangelo.  Qual seria a fantasia desses precoces e pequenos bandidos?

Esse tipo de atentados sempre fazem as pessoas de minha geração lembrarem do dia em que assassinaram o Kennedy. Daquela vez, do alto da janela de um depósito de livros escolares.

Por que atiram do alto?

Eu e os de minha geração esperamos durante uns 40 anos para ouvir as razões intimas daquele atirador. Mas ninguém nunca as revelou. Observem: Não se costuma dar voz aos bandidos. E isso é uma espécie de burrice e de perversão paranóide da justiça. Como é possível que a sociedade, os pesquisadores, os criminologos e os demagogos em geral não tenham interesse em ouvir essas pessoas. E não sob tortura, evidentemente, mas nas universidades, no púlpito das igrejas e até nos terraços do Club Méditerranée

Imaginem o que um garoto como esse, que atira sobre uma multidão sem fazer pontaria, não teria a nos dizer e a nos revelar!

E mais: se o continente americano de que fazemos parte, tem uma população de presos e de enjaulados, até maior do que a população inteira de alguns países europeus... Como então, não se interessar por aquilo que eles têm a nos dizer? Ora! Não sejamos babacas! Sem ouví-los, tudo vai ficando sepultado, mais pobre e + medíocre e o processo civilizatório não anda!

 Qual é o problema? Ah!, É que não suportaríamos e não saberíamos o que fazer com suas razões..! Ah! Bom! Mas é até por uma questão pedagógica e de civilismo, que se deveria deixá-los falar...

E por falar em deixar falar, uma das presenças mais marcantes na UNAM (Universidad Nacional Autônoma do México) nos anos 80, foi a de  Domitila Barrios de Chungara, uma boliviana, vestida a rigor, falando Quechua, mulher de um trabalhador de minas, que recém havia lançado um livro com o título: SI ME DEJAN HABLAR, onde retratava o horror vivido tanto por seu marido como pelos camponeses e mineiros daquele país.  Sua presença naquele Campus foi bem mais estimulante e impactante do que as visitas anteriores de Sartre; de Buñuel; dos sábios da Escola de Francfurt; dos gênios ingleses da Antipsiquiatria, e até mesmo do Elias Canetti, quando apareceu por lá para autografar seu Consciência das palavras...

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