sábado, 31 de dezembro de 2022

Sejamos realistas: os necrologistas da mídia já estão enchendo o saco com a morte do Pelé...




 "Este é o destino lógico para a pessoa totalmente desamparada; quanto mais temor sente pela morte e mais vazio sente em seu interior, mais enche seu mundo com figuras de pais onipotentes e de ajudantes mágicos... (Ernest Becker, in: El eclipse de la muerte, p. 222)

_________________




Ninguém em sã consciência poderia negar as façanhas do Pelé, e não apenas nos palcos infanto-juvenis e nas piruetas mambembes dos estadios, mas na vida real. Sua capacidade emocional para sair do Nada e ir soberbamente até o Tudo, foi admirável. E digo isso não pensando só em sua efêmera intimidade com aquele pedaço redondo de couro; com grandes políticos, com grandes milionários e grandes estafadores ao redor do mundo, mas por ter tido até a Xuxa nos braços... Mas o cognome e o título de rei, isso me incomoda. Parece um resquício patético de vira-latas e uma nostalgia da plebe pelos trapaceiros monarquistas, elogio que o coloca virtualmente ao lado de tantos outros sujeitos coroados e abomináveis que, na história, só fizeram fundar seitas, roubar e cuspir sobre o rebanho... (portanto, sempre que ouvir alguém se referir ao Pelé como rei, saiba que estás diante de um palhaço e de um bobalhão...)

Homenageá-lo, tudo bem. Mas, convenhamos: a mídia já está enchendo o saco com esse assunto, aproveitando sua morte, o alvoroço e a comoção da periferia para (além de tentar apaziguar uma angústia pessoal diante do destino miserável da espécie), cumprir pautas necrológicas e moralistas do jornal, exibir seus arquivos, manipular a turma e captar anunciantes. Sim, é compreensível. A morte é, realmente um horror, o único problema antropológico sério. E não importa quantos gols o sujeito tenha feito. Se chutava com os dois pés ou só com o direito... Se havia nascido num palácio ou numa mansarda. Se era estrábico, branco, amarelo, preto ou albino... Se usava a camisa 10 ou Zero. Isso tudo são ficções e bobagens de gente limítrofe, para tentar driblar o tédio do dia-a-dia e a angústia da traição inexorável de morrer. Qual o sentido, afinal, de toda essa  merda? E quando é que os mortos ilustres, enrolados em bandeiras ou em sudários, no meio de toda a pantomima, poderão levantar-se do caixão e dar uma banana, não apenas a essa cambada sedentária de oportunistas, mas mesmo para quem ainda terá que permanecer por aqui, protegido por paletós e por óculos escuros, com o destino inexoravelmente marcado e com a boca cheia de dentes, esperando seu dia chegar?

Para garantir a dignidade e a tragédia do morto, tanto de gente sem atributos, como de homens ilustres, como ele, o dia do Juízo Final de cada um deveria acontecer sempre em segredo e em sigilo. E que o rebanho só fosse tomar conhecimento dele, no Censo Demográfico dos anos seguintes... Aqui entre nós: quem é que neste aprisco de 8 bilhões, realmente, faz alguma falta?

Volto à leitura de Ernest Becker:  "Necessitamos un objeto concreto para nuestro control, y lo obtenemos como podemos. A falta de personas para tener un diálogo de dominio, podemos usar aun nuestro cuerpo como objeto de transferencia, como lo mostró Szasz. Los dolores que sentimos, las enfermedades reales o imaginarias nos ofrecen algo para relacionarnos, y nos impiden huir de este mundo, hundirnos en la desesperación de la soledad y el vacío totales..."(p.217)



quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Uma singela elegia ao Lirio da Amazônia... (Distraídos venceremos...)




O dia amanheceu quase radiante. O Lirio da Amazônia que hidrato há décadas, só com água Perrier, abriu sua primeira flor branca, em forma de estrela, e na direção do sol... Como existe gente que duvida que a terra é redonda (eu mesmo não tenho provas suficientes do contrário), existe também gente que, mesmo depois de Copérnico, ainda tem dúvidas se é o sol ou a terra que giram por aí, um ao redor do outro, na imensidão dessa loucura e dessa fraude que é o universo...  

Do predio vizinho ouço o zum zum zum de orações. Não consigo entender completamente o conteúdo das frases mas, pela sonoridade, sei muito bem do que se trata. Ouvia a mesma lenga lenga e o mesmo zum zum zum, e até em outro idioma, ainda quando era apenas um pobre, voraz e afoito bebê, implorando para não desgrudar daquelas nostálgicas tetas...  

Presto atenção. Digamos que é uma poesia em prosa, sonetos parnasiano/luciferianos, executados em grupo, paródia mixuruca de um ato psicodramático. Parnasiano? O que é isso?  Humildes e patéticas paixões! Vejam como se fabrica um louco: 

"Cristiano,

Recuerda que hoy tienes a

Tu Dios para servir y glorificar,

Tu Salvador Jesús para imitar,

La Virgen, su madre, para rezar,

Tus pecados para expiar,

Tu alma para salvar,

La muerte, tal vez, para sufrir,

El infierno para evitar,

El Cielo para ganar" (P. Solignac, p. 7)

Enquanto meu cachorro levanta a perna esquerda sobre as raízes de uma árvore do cerrado, afino os ouvidos. Seriam cristãos? Budistas? Testemunhas de Jeová? Da turma do Seicho no-ie? hinduístas? Adeptos de Hare Krisna?  Do Rajneesh? Do Xico Xavier? Beatos do Vale do Amanhecer? Fiéis da Cova de Jacó? Gnósticos? Ateus fundando uma nova seita? Escuto. Passei uns 30 anos sendo domesticado e adestrado para ouvir, para escutar o inaudível, para prestar atenção à alma das entrelinhas daquilo que os outros pensam que estão dizendo... Parece que são vozes só de mulheres. Uma choradeira sem intermezzo. Alguém teria morrido? Penso na carreira das carpideiras profissionais! Teriam carteira assinada? E onde estariam os machos domésticos? Os energúmenos? Mistura de ressentimentos e de agradecimentos. E no meio dos soluços se ouvia a palavra paz. Paz! Paz! Eu e meu cachorro pensávamos imediatamente em Maquiavel, que dizia: "a paz como escravos é mais pesada do que a guerra como homens livres..." E rezam para quem, afinal? Para si mesmas. E afasto de mim a ideia maligna de que quando mais de duas mulheres rezam juntas, estão sempre rezando contra outras... Ah! mas é fashion acreditar e propalar os efeitos positivos e milagrosos da reza sobre a alma dos rezadores e, mais ainda, sobre os fragmentos de espírito dos pecadores. Ouço a frase: Perdoai os nossos pecados! Tenho alergia por essa frase. Se não se trata de comerciantes - fico pensando - que pecados essas pobres e castas beatas poderiam ter cometido? E, admitindo que existissem, quem é que teria a presunção e a arrogância de perdoá-los? 

Ah, mas é terapêutico! Ali no Campus da universidade, frequentemente fotografava um grupo de mulheres (todas  descompensadas, despirocadas e pra lá de Marrakesh) que se reuniam ao redor de uma árvore imensa, frondosa, onde, num dos galhos mais robustos, havia o iglu de um João de barro, e que se punham a rezar, a choramingar e a martirizar-se com a justificativa de que aquilo era terapêutico. Eu, temeroso e com todo o cuidado, lhes lembrava de Spinosa: nenhum sofrimento voluntário será recompensado! Elas me ignoravam com um rio de lágrimas que lhes descia por sobre as carótidas e pela gola das blusinhas hermeticamente abotoadas... E os doutores, que passaram três ou quatro 'Anos Sabáticos' zanzando pelo mundo, respaldavam aquele desvario e aquele frenesi com os argumentos mais cretinos que se possa imaginar... E o mesmo se diz da poesia, das canções e mesmo do pranto. Não se diz que quem canta seus males espanta? (E quando se trata dos Cantos Gregorianos, então, há até relatos inverossímeis de verdadeiros milagres...) E quem é que ainda não se deparou com aqueles grupos de lunáticos que passam de hospital em hospital incomodando os internos e rezando em voz alta sob as janelas ou pelos corredores, com o pretexto delirante de estar curando os doentes? De onde teria surgido essa melancolia e essa neurose? E como curar-se? Não, não há solução. O que importa mesmo, agora, no auge de toda essa babaquice, é seguir acreditando que, - como diria o Paulo Leminski, no meio de um haikai e de uma bebedeira -: "distraídos venceremos!"  

Um ambiente embasbacado, onde uns ficam descrevendo o martírio de suas vidas e extorquindo a cumplicidade dos outros... Sim, rezar, cantar e até chorar faz bem... Me dizia a esposa do Mendigo K. Um bem que, evidentemente, não advém dos céus ou dos infernos e nem de outro lugar além das entranhas de si mesmo. Trata-se de um malabarismo pulmonar. Experimente: Esvazie seus pulmões. Empurre a fumaça do incenso, as penas e os ácaros do travesseiro e a poeira do mundo para fora e dirija suas rezas ou seus lamentos a qualquer coisa, a uma das mil divindades oficiais, a uma árvore, a um guarda roupa ou a uma pedra e verás que o alívio é sempre o mesmo, imediato e fugaz... Já que até a tristeza e a depressão também são fraudes e que o corpo, afinal, é uma geringonça vagabunda e condicionada... Faça esse teste, mas sem ficar pensando naquele velho e cabotino adágio espanhol que ameaça: Detrás de la cruz está el diablo...

 







Enquanto isso... Malandro é malandro e Mané é Mané...




terça-feira, 27 de dezembro de 2022

COVID... 1 billion de chinois... et moi et moi et moi...


"Nosso senso de medida não suporta o imensurável. Após um certo ponto, até o sofrimento se torna hilário. O unhappy end é tão inverossímil como o happy  end..."
Dezsö Kosztolányi
_________________________



Nesta tarde de chuviscos, e de lendas políticas, a cidade experimentou outra tarde patética. Como está todo mundo alucinado com a posse do "novo" Presidente, pela ideia de terrorismo e pelo sentimento trágico da vida, uma mochila abandonada ali nos fundos do setor hoteleiro, mobilizou todas as polícias... Bizarro! Se fosse em Telaviv ou em Damasco, tudo bem, mas aqui... 
Enquanto aqueles homens fardados se enfiavam dentro daqueles escafandros, a peãozada, os taxistas, as 'belas da tarde', os funcionários públicos, velhinhos aposentados e os estagiários da mídia olhavam a mochila de longe como se de dentro dela pudesse, de um momento para outro, escorregar uma serpente (todo paraíso tem uma serpente!) ou até mesmo, por que não, o Leviatã de Hobbes? A noticia se espalhou rapidamente, e todas as hipóteses convergiam contra os ditos bolsonaristas que ainda estão acampados por aí, esperando por Godot. E por falar em Bolsonaro, amanhã - dizem - ele viaja para a Disney World... Seria um sonho de infância? Ah! o Zé Carioca! Ah! o Tio Patinhas! Ah! a Margarida... Quem é que irá lembrá-lo de que o gato, para onde quer que vá, leva consigo as pulgas? E três autoridades nordestinas (O Ibaneis, do Piauí; o Dino, do Maranhão e o Múcio, de Pernambuco) estiveram reunidas hoje, por um bom tempo, ali num dos palácios, fizeram pose de estadistas, deram entrevistas e etc, tudo para tratar da segurança da cidade, do país e, principalmente, da de outro nordestino, o Lula... Seria a República Nordestina? Quem é que não se lembra da recente República de Curitiba? Seria um contraponto? Atenção: de contraponto a contraponto se pode estar bordando, costurando ou tecendo a perenização da infâmia... Sempre que falo em 'bordar', em 'costurar', ou em 'tecer', penso obsessivamente em Penélope... E o tempo passava. A mochila (como uma réplica da caixa de Pandora) estava lá, imóvel. Os paranormais e os paranoicos do establishment se puseram de plantão. Quê mistérios deveria ocultar? O que estaria dentro dela?
Só no final da tarde, as mocinhas da mídia, cada vez mais assexuadas pelos protocolos da corporação, (porquê é preciso ter cuidado para não despertar a libido, o imaginário e as fantasias dos espectadores!) anunciaram, aliviadas, que ah! era apenas uma mochila. Sim, às vezes, como diria Freud, um cachimbo é apenas um cachimbo e uma mochila é apenas uma mochila! A polícia desativou a operação, saiu dos escafandros quase envergonhada e as mocinhas não revelaram o que havia dentro da tal sacola e nem a identidade de seu dono. Pela experiência, o Mendigo K, apostou que foi esquecida por um desses escravos contemporâneos da construção civil e que dentro dela não deveria haver mais do que uma marmita vazia de isopor, cuecas usadas, um pano de prato, um bilhete de loteria ainda do Natal de 2021, maçarocas de papel higiênico, fragmentos finais de um baseado e dois garfos de plástico.  O que, convenhamos, para os gatunos oficiais e para os proto-humanistas de turno, deveria ter um significado e um efeito moral muito pior do que o de uma bomba!!!  

Enquanto isso, a China, com seu bilhão e tanto de habitantes, no meio de uma nova onda de COVID e de funerais, volta a abrir as fronteiras. E os chineses, netos e bisnetos de Mao Tsé Tung, lotam as ferroviárias e os aeroportos, como se estivessem revivendo a gloriosa Grande Marcha (do mestre) e se lançam pelo mundo... Ah! o ocidente! Ah! a América! Ah! O charme do imperialismo! Ah! o neoliberalismo ocidental! Ah! os perfumes, a lingerie e os vícios secretos da burguesia! Sim, eles também têm um sonho de vir à Disney World... Por enquanto, só o Japão e a Índia estão colocando limites na circulação desses camaradas. Para não correr o risco de ver a história se repetir como tragédia e, principalmente, como farsa, é importante ficarmos ligados. A propósito, a ANVISA, não diz nada? E os chefões da OMS, vão ficar novamente embriagados em suas tertúlias? E os trilhões que foram investidos em supostos infectologistas? E em supostas pesquisas? Et moi et moi et moi??? 


domingo, 25 de dezembro de 2022

E o Dia seguinte... (E il giorno dopo...)



"...Não, não há fortaleza inexpugnável, 

se pode entrar nela um burro ou uma vaca carregados de ouro..." 

(Alexandre Magno)




O dia amanheceu extremamente silencioso. Há uma certa plenitude na matilha que passa lá em baixo, conduzida por um velhinho aposentado... Das Arniqueiras e dos Ipês exala um aroma quase esotérico... É dia 25. Parece que até  os carcarás estão piando diferente! O que teria sentido o homenageado? E quando é que ele e Godot, chegarão, afinal? Sim, a festa e a Santa Ceia foram ontem à noite, mas muita gente já está na fila dos mercados para trocar um salame com data vencida, uma garrafa de cachaça com pêlos de ratos ou mesmo para comprar um Sal de frutas ENO... Segundo a velhinha armênia, com seu lenço italiano amarelo enrolado no pescoço, foi tudo magico & lindo! Veio gente até de outros países... Ah, a  famíglia reunida!... Haverá algo mais humano do que a famíglia reunida, com os joelhos se tocando sutilmente sob a mesa e ao redor do mesmo menu de cem anos? No meio da mesa sempre o peru, naquela posição pornográfica do Kama Sutra. E quando chegava o leitão assado, era impossível não lembrar do Mito del niño asado, sobre o qual, os psicanalistas argentinos não se cansavam de cacarejar... 

A farofa; as frutas e, claro, as imaculadas rabanadas! Aquelas fatias de pão passadas em ovos, manteiga e açúcar... Ah! e a sagrada maionese, que nossas avós juravam que muitos dos que estão nos cemitérios foram vítimas dela... e com todos os membros atuando a mesma pantomima, com os ressentimentos sufocados para não correr o risco de repetir o fiasco que ocorreu lá, entre os ribeirinhos, no Horto das Oliveiras... De todos os prédios vizinhos o lero lero do Jingle bell... jingle Bell (mas, curiosamente, não se ouvia sino nenhum...)

Um horror! Sem falar do Panetone Bauducco e das estatuetas do Papai Noel (feitas de chocolate vagabundo e em série, para intoxicar a plebe)... Ou daqueles superfaturados (também feitos com chocolate vagabundo) mas envoltos em um papel especial, para turbinar o festim da ex-plebe, das castas superiores e das máfias estabelecidas...

E calma... calma que daqui a uma semana, tem mais...

O Mendigo K estava introspectivo, na padaria, fingindo ler o livro: Confesiones del estafador Felix Krull, do Thomas Mann.

Quando me viu, colocou-se de pé e resmungou: Bazzo, Feliz Natal e um Próspero Ano Novo! Repetiu: UM PRÓSPERO ANO NOVO!  E gargalhou...


 


quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

De Zapata à agroecologia... Assim falou o cristão Pedro Stedile... (Ou, seria a esperança de se poder vir a comer pimentões sem herbicidas?...)




Quinta-feira com o sol à meia-bomba e o ribombar dos sinos do Natal...


"Primeiro alongou o meu dedo indicador, esticou, para ficar do tamanho do dedo medio, porquê os batedores de carteira só atuam com esses dois dedos..."
Dezsö Kosztolányi




Nestes dias que antecedem o Natal, até os mendigos se estressam, se deprimem, ficam ansiosos e excitados. Os casos bordelines triplicam...  Ah! mas o tão conclamado amor também parece florescer e até no coração dos estripadores! Magicamente, até os maiores trapaceiros e estelionatários (aquele tipo de gente que você jamais vai ao encontro sem levar um revolver no bolso), até eles, do dia para a noite, milagrosamente, parecem virar santos... Claro, com exceção dos donos de confeitarias, de adegas e de mercados, esses trapaceiros oficiais que acordam cedo para dobrar os preços de seus  bibelôs, bagatelas e enfeites...

Ah! e os ilustres ministros soltaram o Cabral! (Ele que conseguiu a façanha de cumprir 465 anos em 6...) E exatamente um dia antes de turbinarem os próprios salários. Uma mão lava a outra! E é dando que se recebe, não é verdade? Ah! e como a fraternidade é linda e emocionante... Até parece haver algo de divino nela... 

O que irão dar à sua prole? O Mendigo K, por exemplo, que  diz ter 5 ex esposas, 14 filhos e uns 32 netos, sem falar das dúzias de parentes que aparecem em caravanas vindas, do sul e do norte e até de tribos vizinhas... está em choque. Com os comerciantes e os padres inventando festinhas e "comemorações", o que fazer? De onde arrancar dinheiro para preparar o tradicional leitão ao forno e para bancar todo esse delírio? E, pior: não há solução! É verdade, como diz a filósofa Jojô Toddynho: nem os pobres têm sossego nestes dias...

Nesta manhã, a discussão entre os mendigos, ali na padaria, era sobre o significado desta data, sobre a lenda do homenageado, e sobre o mistério de seu nascimento.

Um dos participantes, recém chegado de um estado periférico, tomou a palavra para afirmar: Sim, Cristo nasceu sem a participação sexual de um homem, mas não pensem que foi o único. Há dezenas de lendas semelhantes pelo mundo-a-fora. Todos ficaram curiosos e ele foi narrando:

Segundo a mitologia planetária, são inúmeros os povos que acreditam que seus heróis foram paridos por mulheres virgens.

 Na China, dizem, o grande Yu, nasceu de uma virgem; entre os tártaros de Précops, o rei Ulanus também veio ao mundo através de uma mulher virgem. Julio César teria sido filho de Apolo com uma virgem. Esculápio, Hercules e inclusive até o pinguço Baco, teria brotado de senhoritas... Sem falar de Platão; de Pitágoras; do inca Manco-Capac; do mexicano Tezcuco; do japonês Hideyoshi e praticamente de todos os trapaceiros e fundadores de dinastias asiáticas. Todos, segundo as lendas, nascidos de mulheres virgens. Entretanto, uma curiosidade: naqueles mesmos tempos, na Indonesia, a moça que tivesse um filho de pai desconhecido era condenada à morte e só se salvava se declarasse ter concebido por obra de um Espírito Santo... (?!)

 1. Na China, - outro exemplo - se acredita que a dinastia Mandchú foi fundada pelo filho de uma mãe-virgem. Ela teria descido à terra e, ao banhar-se num lago no vale de Odoli, viu cair sobre seus seios um fruto vermelho. Comeu o fruto e sentiu-se grávida. Deu à luz um filho que já nasceu falando, enquanto uma voz vinda dos ares anunciava que ele tinha o céu por pai, que deveria chamar-se Aishin-Goro e que teria sido enviado para reunir muitas tribos num só povo. E isto teria acontecido  no ano 1375...

2.  Entre as tribos australianas de Melbourne, todos acreditavam que o Primeiro homem havia nascido de uma mimosa...

3.  Na Idade Média a vida era turbinada pela lenda de que as mulheres que comessem a flor-de-lis, ficariam grávidas (sem, evidentemente, terem que passar pelos braços de um brutamontes e sem o desconforto de uma trepada)...

4.  Entre os pimas, da California, corria a lenda de que uma virgem que habitava as margens de um lago, avessa às sacanagens libidinosas, certo dia, foi surpreendida por uma tempestade que ensopando seus mamilos, a engravidou, nascendo daí um grande homem, um Salvador daquela tribo...

5.  Na Índia, gente de todas as castas acredita que a própria esposa de Vishnu, nasceu misteriosamente das ondas (Seria do mar ou do Ganges?)...

6. Na mitologia da Finlândia, está registrado que uma tal Marjata - a virgem de Kalevala - ficou grávida sem transar com ninguém, pelo simples fato de ter engolido uma flor...

7. Na Alemanha antiga, as crianças aprendiam que os primeiros bebês surgiram do buraco de um velho tronco... Já, na Inglaterra, (tanto da Tatcher como da Rainha) muita gente ainda acredita que as crianças nascem das salsas...

8. No Egito, aquele país das múmias, se acredita que a Deusa da Justiça e da Verdade (Maat) foi concebida pelo ar...  Outros alucinados desse mesmo país acreditam que foi dos ovos de serpentes e de rãs que surgiu o Deus-Sol, ele que criou o mundo e as coisas... e que, claro, veio para nos salvar... (Mas salvar de quê, fratelos mios?)

9.  Já o Deus Eros, aquele que tinha 4 cabeças e que dava urros escandalosos, teria nascido de um ovo de prata na escuridão cósmica...

O mendigo que ia relatando essas besteiras, parecia feliz ao perceber que era ouvido por todos. Fez um breve intervalo, tomou o último trago frio de capuccino e concluiu:

Mas a melhor de todas essas lendas é a da Coréia: Dizem que o Primeiro rei de lá teve uma filha que foi fecundada pelo sol e que deu à luz um ovo gigante que "ao ser atirado aos porcos e aos cães, foi por eles rejeitado e que, ao ser abandonado no meio de uma estrada, foi evitado pelos bois e pelos cavalos que dele se desviavam e que, ao ser atirado no deserto, foi protegido pelas aves reunidas e que, finalmente, ao quebrar-se, dele saiu Tchau-Mong - o Filho do Sol e Neto do Rio-Ho..." Que veio só para salvar essa despirocada humanidade...

Todos gargalharam e lá fora o sol ameaçava aparecer...

(Ver a Obra Completa de Max Sussol)

________________________________________

EM TEMPO: Disse que o Natal está sendo a discussão principal na cidade, mas não é verdade. O que está até tirando o sono dos burocratas, por aqui, foi o ocorrido na semana passada num banheiro da Universidade de Brasília. Dizem que uma mocinha entrou no banheiro feminino e que quando já estava baixando as vestes, deparou-se lá com um sujeito também de vestido, mas barbudo e que, instintivamente gritou: O que é isso cara? Este é um banheiro feminino! Ao que o barbudo, apoplético, teria respondido: Me respeite, eu não sou cara, eu sou mulher! A menina, confusa, que, ninguém sabe se realmente era menina, juntamente com o barbudo, confuso e que ninguém sabe se menstruava ou não, misturaram seus gritos de solidão e de indignação e o caso está sob segredo eclesiástico e sendo abafado pela confraria... E todo mundo fala desse caso em voz baixa, com medo que o STF escute e os condene a 6 meses de cadeia por racismo e homofobia...

Eu, diante de fatos como este, sempre volto à minha estante, onde está Darwin e a Origem das espécies, e me perguntando: Que informações esse malandro nos teria omitido?


segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

A festa surreal dos argentinos é prova de que a América Latina continuará ainda por muito tempo sendo um parque de diversões das grandes coorporações e das grandes potências....


"Quando um passarinho engaiolado se 

põe a gorjear, está dando graças a deus por não estar pior..." 

(Trilussa)


Assistir a histeria e a loucura dos argentinos, do país inteiro, por terem feito mais gols do que a França num mísero e patético jogo de futebol, é realmente perder todas as esperanças de que a espécie venha a ser algo diferente do que é, pelo menos nos próximos séculos. 

Ridículo! Uma vergonha! Algo de dar pena! Só falta o Papa desembarcar amanhã, junto aos jogadores, para participar da festança e jogar benções sobre aqueles energúmenos e sobre toda aquela babaquice. Como é possível? E não pensem que se trata apenas de crianças.., não, são velhos e velhas, nonos e nonas... Com o país mergulhado há décadas, numa crise econômica crônica e terrível e, inclusive, com a ex Presidente a caminho da cadeia... Um horror! O que é que passa pela cabeça dessa gente? Imaginem então, como seria se tivessem derrotado os ingleses nas Malvinas... 

E saber que a Argentina, nos anos 1970 e 1980, se orgulhava de seu Teatro Colón, com uma acústica comparável ou até mais perfeita que a do Scala, de Milão... E por onde passou Maria Callas... Que tinha mais livrarias do que puteiros; que era considerada uma capital culta, erudita, subversiva, intelectualizada, com as amantes mais caras dos trópicos e que a melhor lã do mundo era a das ovelhas da Patagônia... A propósito, quem é que não leu La Patagônia rebelde? (https://www.youtube.com/watch?v=i56UdTCk8bg&t=5039s) 

Um país que tinha um Borges, uma Marie Langer e um Arlt...  E também a Evita Perón, que não apenas as donas de casa mas até os maestros consideravam "una gran madre" e mesmo "una gran santa"... Uma nação que tinha Gardel e os Motoneros... Era um país de onde saiam os mais aptos psicanalistas e onde até os sapateiros liam de Kropotkin a Freud e de onde emergiu até o Che Guevara... Que miséria!

E, pior: enquanto 90% da América Latina ainda não dispõe de saneamento básico e, às vezes, nem de papel higiênico, o mundo inteiro já está pensando na Copa de 2016! Que mentalidade de costureiras! E que vergonha!

______________________

EM TEMPO - Segundo os jornais, a túnica que enfiaram nos ombros do Messi por uns momentos, lá naquela pantomima do Qatar, está quase valendo e fazendo mais milagres do que o antigo Sudário lá da Catedral de Turim...


 

domingo, 18 de dezembro de 2022

Do Messi, do Borges... e do François Villon...


"Recordemos la reverencia que el Islam tributa a los idiotas, porque se entiende que sus almas han sido arrebatadas al cielo; recordemos aquellos lugares de la Escritura en que se lee que Dios escogió lo necio del mundo para avergonzar a los sabios..."(Borges, p.p 260,261, Obras Completas, EMECÉ, Vol. I)

___________________________



Quem conhece os argentinos e os franceses na vida cotidiana, no submundo dos cambalachos, no dia-a-dia e nas entrelinhas, está seguro de que seria providencial se o jogo de hoje acabasse empatado e tivesse que ser decidido na espada... Em Buenos Aires, sob o rasqueado de uma milonga e diante do templo edificado em memória a Maradona; e em Paris, sob o som  da Marselhesa e diante dos restos de François Villon......( Estão excluídas desta ironia as empanadas estupendas, - de carne apimentada e de maçã -, as melhores de minha vida, que são feitas e servidas por uma porteña, ali a duas quadras de minha casa).

 Segundo o Mendigo K, os que ficam inebriados, cacarejando sobre a suposta genialidade do Messi, deveriam ser enjaulados por charlataneria metafísica e por messianismo... e, no calabouço, durante uns 40 anos, serem obrigados a ler e a reler a Obra Completa do J.L.Borges. 

Por falar em Borges, ainda o ouço resmungando:


" Un lapso que muere y otro que surge... Más vil que un lupanar de carne charra y mármoles finales con la remota majestad de un ídolo..."

"Llegamos ahora a la palabra más sabia y antigua, el nombre inglês de la pesadilla: the nightmare, que significa para nosotros "la yegua de la noche'."

"Es asombroso el hecho de que cada mañana nos despertemos cuerdos - o relativamente cuerdos, digamos - después de haber pasado por esa zona de sombras, por esos laberintos de sueños..."

"Quizá el destino humano de breves dichas y de largas penas, es instrumento de Otro..."

"Considerad los cuervos, qui ni siembran ni siegan; que ni tienen cillero, ni alfolí; y Dios los alimenta. Cuanto de más estima sois vosotros que las aves?"


 

 .

sábado, 17 de dezembro de 2022

PERU: De Atahualpa e Túppac Amaru a Fujimori, a Castillo... a Dina Boluarte...



"...É possível reduzir a três todos os princípios que impelem o homem a agir: egoísmo, maldade, compaixão..."
Schopenhauer




E a insistência em martirizar-se persiste...

O roubo, o envenenamento e a maldição lançada pelo espanhóis sobre os Incas peruanos, foi em tal dose que, mesmo depois de séculos, depois de Atahualpa, de Tupac Amaru, das imensas plantações de coca e de todos os sacrifícios ao altar de Viracocha eles não conseguem curar-se e nem apaziguar-se. A cruz, a espada, os cachorros e o chicote dos invasores (garimpeiros de ouro, prata e almas) os empurraram para um desequilíbrio tal, que agora já não dispõem de lógica suficiente para interromper essa aparente "sinarchía" e essa luta permanente contra si próprios. Se elegem e se deselegem... Conspiram! Entre si e contra si! Chegaram até a eleger um japonês. Ah! quem sabe, uma alma budista! O Zen Budismo! Mas Fujimori, malandramente, foi mais samurai do que monge: massacrou a guerrilha e os movimentos campesinos. Lembram do Sendero Luminoso? Foi ele que exibiu o Abimael Guzman numa jaula... 

E o Deus Inti, lá no alto dos Andes, no meio daquelas pedras misteriosas e da Velha Montanha (Machu Picchu), apenas observa os enfrentamentos, com mais raiva do que pena... Enquanto isso, as elites, (os espanhóis que não se foram e que se fixaram), vão indiferentes, perfumados e falando inglês em direção ao San Juan de Miraflores ou ao Maido, dois dos melhores restaurantes do mundo, apreciar um ceviche... 

Lá fora, pode-se ver pela vidraça, sob a vigilância dos guardas, uma família recém descida das geleiras (ou chegada das minas), que mendiga e entoa em suas flautas a mesma canção com que, antigamente, pretendia atrair o olhar e a benevolência de Manco Capac e até de Viracocha... Insiste em não acreditar que la no alto dos picos nevados, além das próprias geleiras, de uma ou outra lhama e de um ou outro quéchua expulso do mundo, não há absolutamente mais nada... Que até os espíritos se foram e que o céu parece estar deserto...

No mármore da toalete, ironicamente, um pensamento de Cesar Vallejo, o maior poeta peruano, aquele que quando percebeu a loucura local, caiu fora, foi viver e morrer como um pária em Paris. A frase é de um de seus versos: Hoy, me rasco la barbilla y me voy! Mais ou menos como: Hoje apalpo meu queixo em retirada... Em outros tempos fotografei sua tumba lá no Cemitério de Montparnasse, em Paris. Sobre sua lápide havia este outro pensamento, bem mais radical do que aquele esculpido no mármore da toalete de Miraflores: Cuando yo naci, dios deberia estar enfermo...








 





sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Charles Perrault e o uso patético do dedo polegar... Ou, como diziam os antigos chineses: "quem conhece o seu coração desconfia de seus olhos..."

 


Ah! o pequeno polegar!

Sinceramente, sem querer colocar em dúvida o caráter, a honra e a competência desses personagens, confesso que tenho um preconceito incurável sobre esse gesto. Sobre esse maldito polegar voltado para cima... O que quer verdadeiramente dizer, afinal? E o que acontece com o fotógrafo, ele que, se supõe, seria um  expert em compostura e em estética, que não emite uma senha aos fotografados, informando que só fará o clic depois que eles enfiarem esses malditos dedos em outro lugar? Aliás, e quando é que os governos terão uma espécie de ombudsman no reino da fotografia? Sim, porquê essas posturas e esses gestos são ridículos e comprometem. E vejam que alguns deles, cheios de entusiasmo, até levantam o das duas mãos! Deveriam, inclusive, saber que em alguns lugares do mundo esse gesto cretino é interpretado como um grave insulto e que mesmo entre nós, induz o expectador, de imediato, a pensar no Homem sem atributos, do Musil, ou, pior: no Barão de Münchhausen, ou até mesmo em Charles Perrault com seu patético conto de fadas... Ridículo! Além disso, olhando-os bem, quem é que não se lembra dos tempos do grêmio estudantil, num sábado à tarde e no meio de uma bebedeira? Ou então, do sujeito que entra ziguezagueando na contramão e que, para justificar-se, faz cinicamente uso desse mesmo gesto?  Sim, apesar de todo o charlatanismo vigente na área, o corpo fala.

E os discípulos da seita, para justificar a trupe, arrancam Nero e os gladiadores das catacumbas... Ora! Tudo bem! Mas Nero era Nero e lá, pelo menos, o dedo era quase sempre virado para baixo, enquanto que aqui, é sempre para cima...(!?) A esposa do Mendigo K me olha bem nos olhos e decreta: melhor com o polegar para cima do que aquelas fotos, onde todo mundo parece estar protegendo sua "genitália"... Outros vigaristas tentam dissuadir-me dizendo: Bazzo, dê graças a Deus de que, pelo menos, por enquanto, não estão mostrando o dedo do meio...

E só interrompi os afazeres domésticos para vir fazer este breve registro neste 'breviário', porquê se trata de pessoas relevantes para a vida do país e que, daqui para diante serão eles que controlarão nosso dinheiro; o preço dos remédios; as dimensões de nossos barracos; o conteúdo das cestas básicas; o que é fake e o que é vero; a espessura do asfalto em nossas estradas; o pedigree e o peso do chicote de nossos chefes; a quantidade de inseticidas em nossos pimentões; nossos pensamentos, nossa furia e, claro, o cassetete das polícias, etc etc... E mais: que administrarão o ORÇAMENTO SECRETO!

Enfim, com dedo ou sem dedo, todos sabemos que é sempre melhor Reinar no inferno do que Servir no paraíso!

E la nave va...

 

 



quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

FUTEBOL & COLONIALISMO... Marrocos & França...


Para entender a derrota do Marrocos pela França, (não basta jactar-se de jogar futebol desde os três anos de idade; de só fumar haxixe produzido em Tanger; de ter assistido Casablanca 8 vezes... e de ouvir A time goes by, antes de dormir...), é necessário ter lido, pelo menos, o prólogo de Sartre para o livro LOS CONDENADOS DE LA TIERRA, do psiquiatra martinicano Frantz Fanon... (todo o resto, a respeito, é mistificação, bebedeira da hora do Angelus, idealização e alienação Infanto-juvenil...).






terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Hoje, dia 13. Um balanço dos três fiascos de ontem...



"Nada há de mais estúpido do que uma linha reta..."

(Etienne Rey)








O vento que escorrega na vidraça de minha janela, parece aquele que, de vez em quando, quase sempre de madrugada, chega lá em Pequim, partindo do deserto de Gobi... Me faz bem. Gosto das ventanias e das tempestades. Os raios e os trovões, então, me dão uma sensação de ereção e de imortalidade... Por instinto, sempre admirei mais àqueles que ao invés de semear vento, semeiam tempestades...

A cidade amanheceu envenenada por fofocas, por desânimos, culpas  e por mentiras.

O Mendigo k, depois de dar uma boa tragada numa garrafa de Vermouth, (trazido de Turin), resmungou: Hoje, Bazzo, minha decepção chegou ao ponto máximo. Os fiascos de ontem foram demais. Primeiro, o fiasco dos bolsonaristas; depois o fiasco da policia e por fim, o fiasco da mídia. É cada dia mais evidente que estamos mergulhados numa grave enrascada cognitiva. Numa torre de Babel onde um diz uma merda e o outro entende outra merda.

As manifestações de ontem, dos tais bolsonaristas, foi melancólica. Depois de estarem quase por dois meses acampados por aí, tendo visões, delirando frente aos quartéis, rezando e jurando que iriam incendiar a cidade, não foram além de cinco ou seis atos medíocres de desobediência civil, e ainda com o pretexto de estarem querendo libertar um pobre índio xavante que está temporariamente enjaulado..  (Sinceramente, ninguém pode negar que ver os ditos bolsonaristas colocando a própria vida em risco para arrancar da prisão um porra-louca indígena, é um ato quase transcendente...).., E por falar nisso, imaginem o impacto mental que deve acontecer num sujeito que migra  da aldeia para uma de nossas penitenciárias medievais... Onde estão os discípulos de Rousseau, que não dizem nada? Ou não leram Le bon sauvage? Eu e meu cachorro, fazendo nossa parte, resmungamos um para o outro: Exigimos que esse homem, independente de seus 'crimes', seja imediatamente devolvido para sua tribo! 

A respeito das manifestações, sinceramente, mesmo os espíritos mais pacíficos aqui da cidade, esperavam e se preparavam para algo bem mais significativo e implacável. O incêndio da Caixa Econômica, por exemplo, uma implosão em série nas estações do metrô, a derrubada daquela casca de tartaruga construída pelo Niemayer ali ao lado da catedral e etc. Mas não. Queimaram um ônibus aqui, outro ali; derrubaram um ou outro poste, jogaram cadeiras nas vidraças de uma delegacia... e nada mais. Atos que minha turma de ginásio fazia com muito mais vigor quando recebia uma nota abaixo de zero, em educação cívica...

Por outro lado, a polícia que foi convocada para enfrentar os "terroristas", apareceu por lá armada até os dentes, com uniformes de selva, fazendo pose e atirando freneticamente para os lados e contra um ônibus em chamas e desgovernado... Sinceramente, fiquei me perguntando como se comportariam se estivessem diante de quatro ou cinco estagiários do Bin Laden?

Mas o fiasco maior veio da mídia. Investiu todas as metáforas, hipérboles, metonímias e outras perversões da linguagem para transformar aquela palhaçada em um ato terrorista, grave, de ameaça à pátria, às parturientes, aos velhinhos aposentados, à gerontocracia, ao presidente eleito, à Constituição, à democracia, ao direito de ir-e-vir, e à turba que saia do shopping cheia de porcarias para o Natal... Uma dessas simpáticas repórteres passou meia hora descrevendo a carcaça e as cinzas de um dos ônibus incinerados... Sempre tentando turvar as águas para dar impressão de profundidade... Fiquei imaginando como seria a cobertura jornalística se estivéssemos diante de uma tsunami (de um movimento tectônico brusco no assoalho de nossos mares) ou de um apocalipse... O que é que se está esperando para fazer um recall nas escolas de jornalismo?

Tudo um fiasco humilhante.

E tudo isso, logo depois da cidade ter assistido, emocionada, à diplomação do presidente Lula que chorou pela terceira vez, e sempre quando se lhe apresenta o diploma de eleito. Ora! Até quando iremos assistí-lo chorando por uma bobagem dessas? É necessário que alguém de seu entorno o convença de que nada é mais burguês do que um diploma universitário e de que, se hoje, um diploma universitário vale menos do que um atestado de datilografia.., imaginem em sua época... Mas entendo. Esse sentimentalismo e essa debilidade é mais uma das misérias que se nos apresentam na velhice. Eu mesmo, já caí em prantos várias vezes, a principal delas, ao ver um carcará que, ao perseguir uma patativa cinza, se desequilibrou no ar, e veio rodopiando em direção ao solo, até chocar-se brutalmente na carcaça de uma barco abandonado nas margens do Rio São Francisco...

E por falar naquela solenidade, quem é que não ficou admirado de ver além do Sarney, aquelas jovens senhoras da primeira fila, felizes, quase autistas, aplaudindo como se tivessem dedos de cristal, como se tivessem passado a noite lendo a Montesquieu e como se pertencessem à ala revolucionária de gênero... e todas de tailleurs novinhos, de nove mil para cima. Sim, como dizia o pederasta Oscar Wilde: qualquer mulher é feliz quando pode mostrar dez anos menos do que a filha! Ah! mas o poder está tomado só por velhos! Ora! para essas beldades homem rico é jovem em qualquer idade, assim como o homem sem dinheiro é velho aos 28 anos... E aplaudem sem ter a mínima idéia daquilo que o diplomado está dizendo,  porquê, assim que seus "esposos" forem nomeados, embarcam para Champs Elysées... Ah, Champs Elisées!

E muitos invejosos estão criticando a festança que aconteceu por aí, madrugada-a-dentro, em alguma mansão, depois da diplomação, na qual, dizem, estava o próprio diplomado, alguns membros da Suprema Côrte e etc. Ora! não sejam idiotas! Por que não festejar? Vocês não festejariam sabendo que há uma PEC no forno, e a vosso favor, de quase 200 bilhões?


 



segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Parole... parole... parole... (E o Estado ordinário...)





... quando Calígula decidiu desmontar a estátua de Zeus, obra de Fídias, para instalá-la em Roma, ela “gargalhou de forma tão terrível que o pedestal rachou e os operários fugiram...





domingo, 11 de dezembro de 2022

O FUTEBOL - essa praga emocional...



 "Le reste est sport, amusements, marottes..."

(Herbert Marcuse)


"Esse dogma pós-moderno - que vai da esquerda da moda à direita canibal - encontrou hoje seu terreno preferido na apologia cínica do esporte em geral e do futebol em particular. A Copa do mundo de 1998 foi, deste ponto de vista, um bom indicador da extensão da lobotomização que conquistou os intelectuais, os 'líderes' de opinião, particularmente os jornalistas de 'esquerda' que entre as legiões de pensamento esportivo único são considerados vedetes do show biz, estrelas multimídia, grandes pensadores de nosso tempo, anunciantes de negócios; apresentadores servis de ready-to-think e outros artistas do realismo. Todos torcedores raivosos, loucos por futebol, fetichistas de campo, fanáticos por couro e grama..." J.M. Brohm e M. Perelman, p.5




"Sabemos que a educação moderna faz grande uso do esporte para desviar a juventude da atividade sexual: seria mais correto dizer que ela substitui o gozo especificamente sexual pelo que o movimento provoca, e que regride a atividade sexual a um dos componentes das atividades masturbatórias." Sigmund Freud, Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (nota adicionada em 1910) Paris Gallimard, 1974, p. 183



"No campo da filantropia, entretenimento e esportes, a burguesia e a igreja são incomparavelmente mais fortes do que nós. A juventude trabalhadora só poderá ser arrancada das mãos deles pelo programa socialista e pela ação revolucionária... " L. Trotsky. Où va la France, Quarta Internacional, 1935.






sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

O futebol, a roda gigante, o Zoo e os transtornos no desenvolvimento...

"Se o rei comer a maçã no pomar de seu súdito, os servos, atrás dele, arrancarão a árvore..."

Saâdi




Primeiro, o longo período da pandemia; depois os meses da disputa eleitoral e agora os dias da Copa do Mundo, têm explicitado algo que algumas pessoas já suspeitavam, mas que ninguém falava: um subdesenvolvimento humano - ou, como dizem os trapaceiros da academia, um handicap -  generalizado e no planeta inteiro... 

Uma falta de razão, de sentido e de maturidade. Em outras palavras, um infantilismo deplorável que, se não justifica, explica nosso atraso e a maioria de nossos conflitos, não apenas sociais, mas psicológicos... E não é por acaso que hoje, está sendo inaugurada em São Paulo a maior Roda Gigante da América Latina e que os canais de televisão ocupam 90% de seus programas com imbecilidades e com esportes... dirigidos essencialmente para essa gente mais ou menos obnubilada, que passa a vida em busca de brinquedos e de parques temáticos... Distrair-se! Observem: cada grande cidade tem obrigação de ter sua Roda Gigante! Quem é que não deu uma volta e não fez uma foto na de Londres? Na de Paris? Na de Dubai e mesmo na de Pequim, a mais alta do mundo, lá no Parque de Chaoyang? Será que até grande Marcha de Mao Tsé Tung teria acabado, melancolicamente, numa roda gigante? Muitos religiosos que conheço me confidenciam que anseiam por um paraíso e por uma vida eterna repleta de tirolesas, de mesas de Ping-pong e de sinuca, estádios de futebol e, claro, de Rodas gigantes... E não apenas as crianças, mas até os velhos, as velhas e as próprias autoridades ficam girando nelas como palhaços, mostrando os dentes como cabras e gritando aos que passam histéricos, ao lado, na Montanha russa... enquanto outros 22 idiotas, para distrair o planeta, vão e vem atrás de uma bola. Aliás, o uruguaio, Eduardo Galeano, aquele da 'terapia do abraço', em sua apologia ao futebol, até cita a frase de um desses bobalhões, sobre a felicidade: Quer fazer uma criança feliz? Diz, dê a ela uma bola... Pronto, o segredo da felicidade está desvendado... Que miséria...

Mas é inútil seguir tagarelando, tanto sobre este, como sobre outros dogmas. Agora tudo está dominado e é demasiadamente tarde. Talvez a burrice seja até algo de nossa natureza... E os jornais confirmam que hoje, nesta sexta-feira 09, os patrões liberaram seus servos das correntes, bem mais cedo...

Torcer! Como diz um outro idiota da mídia: o  que o povo brasileiro mais sabe, é torcer!!!

Vamos! Vamos abrindo os sofás, esfregando as mãos, mastigando uns torresmos, enfiando uma losartana nas tripas e abrindo mais uma garrafa, porque daqui a pouco, nossos heróis, os representantes da raça, estarão se enfrentando com os heróis da Croácia... Inacreditável! Sim, meu irmão e meu semelhante, apesar de sua justa incompreensão, esse frenesi e essa porra-louquice, que de uma hora para outra se converte em pranto e em choro, denuncia, além de um fundo de psicopatia, o fracasso da espécie!

Ah! O futebol! Ah! a Roda Gigante! Ah! A Montanha russa... Ah! o autorama de beócios que é o mundo! Ah! que lindas que são as luzinhas de natal e que emocionante que é deslizar numa tirolesa! Ah! o Jardim zoológico...

Enfim, como já dizia Lupercio Leonardo de Argensola, em 1559: 

Lastima grande que sea verdade tanta miséria!!!


 








terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Poincaré e Nossa Senhora do Desterro ou Santa Catarina de Alexandria...


"Oh mágico sonho!

Oh ave confortável!

que pousas sobre o tormentoso mar da mente

até que ela se cale e sossegue..."

Keats



Ia me esquecendo de registrar que nos últimos dias que passei em Florianópolis, fiquei hospedado numa espelunca que fica nos arredores da Catedral Metropolitana, dedicada à Nossa Senhora do Desterro ou Santa Catarina de Alexandria. Achei fascinante o nome dessa santa! Do desterro?! Havia sido desterrada de onde? Da Alexandria?

Sempre que passava por lá, pela rua Miguelinho, era abordado por um mendigo barbudo, com olhar de serpente, com uma espécie de boné enfiado até o meio da testa e que, nos degraus daquele templo com as paredes já meio sépia e meio amareladas, tentava vender um pequeno e antigo livreto aos que entravam nela, quase sempre homens e mulheres arqueados sob o peso de alguma desgraça e marcados pela ficção da fé e da eternidade... ("gente que só trepava ao som ou depois de ouvir os sinos...")

Que livreto seria aquele?

Numa daquelas manhãs misteriosas em que se acorda com uma alegria e uma paciência infinita, quando até o chuá chuá interminável das ondas parece nos alucinar, pedi para ver o livro: Tratava-se de um pequeno tratado sobre matemática, do conhecido filósofo Henri Poincaré.

Caralho!

Aquilo me pareceu demais! 

Um mendigo recomendando Poincaré!? Em outras épocas, eu havia fotografado sua tumba lá no cemitério do Père-Lachaise, em Paris...

Enquanto, meio emocionado, manuseava o livreto já com as folhas impregnadas de cannabis, de bactérias e de maresia, ele me lançou esta frase implacável: A igreja, com seus padres, suas freiras, suas beatas, seus coroínhas, seus diáconos e suas trapaças, não deveria administrar a comunhão a quem não conhecesse Poincaré e a quem não sabe matemática! E deu uma gargalhada...

A viagem estava salva!




 






sábado, 3 de dezembro de 2022

Empresários & comerciantes... Ou esse eterno sindicato de ladrões...


"Eu não nasci para salvar a humanidade, que, quando não é castigada por incêndios, inundações ou pestes, organiza guerras e artificialmente cria os incêndios, as inundações e as pestes..."( Denso Kosztolányi, IN: O tradutor cleptomaníaco, p. 14)





Por aqui não se fala em outra coisa além das enchentes, do futebol e, claro, do Natal. Florianópolis, na última semana, por pouco não se transformou num Haiti. Faltou energia, as torneiras secaram, houve inundações, deslizamentos de encostas, acidentes... E as freirinhas da mídia, com um certo sensualismo, noticiavam tudo: as enchentes e as hecatombes, de hora em hora, colocando um ar meio perverso e meio diluviano nos acontecimentos. Sim, parecia haver um certo prazer e a tentativa de exibir um micro poder na fala delas... Convocam os prefeitos, o governador, os engenheiros, os lideres religiosos... para dar explicações, mesmo que sejam abstratas e metafísicas... Mas a demagogia está na cara. A cada catástrofe, um jato de hormônio e um gozo! E a chuva, desmascarando os relatórios, as promessas, as mentiras e as obras sucateadas... Uma ruína aqui, outra ali. Se vão as pontes, os postes, os cortiços, as estradas falsificadas, o lero lero interminável das urnas e dos humanistas... (Assisto a tudo e penso no autor do livro: O tradutor cleptomaníaco: entre 1000 pessoas, 999 são imbecis, palermas bancando os importantes...)

 E os hoteleiros, gatunos e vivaldinos, aproveitam para triplicar o preço das diárias. O que é um ladrão? Um comerciante sem testemunhas... Sem falar da mais moderna das trapaças, a tal Airbnb = Air Bed and Breakfest. Naturalmente, sediada nos EEUU.

Uma espelunca ordinária que custava R$: 400,00 - por exemplo - passou, de um dia para outro a custar 1250,00. Os porteiros, a trupe de subalternos e até as camareiras, essas imigrantes latino-americanas em sua escravidão contemporânea (elas que acham sempre tudo gozado)  com variantes do mesmo monólogo litúrgico de sempre e a serviço de seus patrões, justificam a fraude dizendo que há um Congresso Médico na cidade, que tudo está ocupado, que essa é a bandidagem legalizada da oferta & da demanda do liberalismo, etc etc. (enfim, da lei principal da putaria & da plusvalia...) Falando dessas simpáticas mulheres latino-americanas que vêm vender sua mão de obra por quase nada, (aqui entre nós) não seria mais patriótico, romântico e dignificante que se escravizassem por lá, mesmo que fosse na administração de um singelo e bucólico randevu, nas encostas dos Andes?

E por falar em randevu, nos hotéis do passado, pelo menos, se podia ouvir, do quarto ao lado, os gemidos dos casais trepando, agora, sabe-se lá por que, blindaram as janelas e as paredes. E, com o tal 'isolamento acústico', não se ouve mais nada, quando muito se escuta o ruído da descarga, os choramingos e as maldições dos casais mais exaltados brigando por uma ou outra bagatela da vida cotidiana... Num hotel, havia vazamento; no outro encontramos até pentelhos entre os lençóis (e que não eram nossos!); e em outro ficamos sem toalhas por umas boas horas. E, claro, para conseguir o dinheiro de volta, se tem que marcar uma audiência com a Suprema Corte ou, em casos de urgência, pedir ao pároco que mande um Whatsapp para o Papa Francisco. E para quem pretender dar um mergulho no mar, as farmácias populares já sugerem um anti micótico especial. Porque, desde os tempos do Marechal Floriano (aquele que emprestou seu nome a esta cidade) as autoridades, dos mais diversos partidos, vêm prometendo construir Saneamento Básico e até mesmo uma Estrada para a Imortalidade, mas...

Curiosamente, com raras exceções, as mulheres com mais de 50 anos se aproximam dos 80 quilos e os homens, na mesma faixa etária, têm o umbigo permanentemente flertando com o púbis... Que tragédia! Mesmo assim, os governos se elegem prometendo garantir 4 ou até 5 refeições por dia! COMER! Única ideologia e única filosofia do populacho! Ora! Um governo realmente revolucionário, trataria de fazer com que seus eleitores (não apenas os pobres, mas também os novos ricos) comessem apenas uma vez por semana... A propósito, falando de barrigas, de obesidade e de futuras bariátricas, (confirmo) está acontecendo na cidade um encontro de médicos (SBAD 2022) especializados no aparelho digestivo. Que deve pensar essa gente, a respeito do menu da cesta básica?

Da janela de fundos de uma mansão ainda inacabada, enquanto olha para a imensidão do mar, um casal de piratas se embriaga em lamentos ouvindo: À casa de Irene...

E sempre as mesmas dez ou doze família aporofóbicas controlando econômica e religiosamente tudo. Não apenas o setor hoteleiro, mas a policia e a máfia aérea. Aliás, quem quiser alterar o horário de um voo terá que desembolsar o dobro do valor já pago. E todo mundo paga, babando e com o rabinho entre as pernas, porque teme o cassetete das milícias judiciárias e porque viajar é cult e da frisson... Mas qual é, afinal, a lógica dessa cretinice, a não ser a dos estafadores? Siglo XXII... cambalacho! Estupido y febril!!!  E tudo legalizado, com Alvará e tudo, como se se tratasse de um honrado Sindicato de Ladrões... E a pobre ralé, domesticada e convencida de que pode até vir-a-ser próspera, corre fatigada, de um canto a outro, vendendo porcarias feitas em casa ou produzidas em série e fazendo de tudo, às vezes dando até o rabo, para conseguir participar dessa farsa e consumir algumas migalhas...

Enquanto isso, lá em Brasília, administram a volta Dos de Ontem, jurando que irão fazer nas escolas, nos hospitais, na cozinha dos restaurantes e na alma da plebe, em 4 anos, o que não fizeram em 20!

Ah! e as enchentes tiraram os mendigos das tocas! Ao redor do Mercado Municipal se tem a impressão de estar em Benares... Sim, o mar é o Ganges! E não são só negros, como se costuma pensar. Há loirinhos, quase albinos, implorando moedas e jurando que também  seus avós, vindos de Brémen, de Napoli ou da Ilha dos Açores, se entusiasmavam com a música: Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolls Stones...... E, bizarramente todos, como seus ancestrais, insistem no zum zum da fé e da prosperidade... O que, convenhamos, me provoca até um certo tipo de alergia emocional! Observem - me dizia o Mendigo K., - como o moralismo mais cretino ainda se transmite por todos os lados e entre todas as gerações, com a mesma velocidade que a gonorréia entre os adolescentes...

Sim, algo, vindo bem de dentro, tenta convencer-me: Bazzo, depois dos 73 é ridículo querer seguir por essas estradas reinterpretando esse império de desonestidade e nesse nomadismo desvairado! 

Mas não me convence...

Então, para acalmar-me, enquanto vou beirando as ondas, saltando por sobre os filetes de esgotos, chutando caranguejos e apaziguando a fúria de minha companheira que está, como eu, prestes a tocar fogo no mundo, recito a frase do Kosztolányi: Babacas! Saibam que "Eu não nasci para salvar a humanidade. Essa legião de despirocados que, quando não é castigada por incêndios, inundações ou pestes, organiza guerras e artificialmente cria os incêndios, as inundações e as pestes..."