E a América Latina inteira, chafurdando.., grunhindo e à espera de Godot...

Foto: jornal Le soleil (Québec)

"O mundo é redondo. 

Qualquer uma de suas partes pode ser o centro".

Primeiro ministro da Malásia

 Independente da pandemia, a América Latina beira à indigência. Da Patagônia ao México, passa-se meses em discussões inúteis sobre a construção de uma mísera ponte sobre um mísero córrego ou sobre os pilares de uma segunda torre numa paróquia de periferia... Os argentinos contentam-se em lembrar que "emplacaram" um papa e que o tango é Patrimônio Imaterial da Humanidade; os chilenos acreditam que a Nova Constituição os iluminará; os uruguaios estão felizes com as novas diretrizes sobre a erva; os bolivianos esperam pela volta do Evo Morales como em Portugal se espera pela volta de Dom Sebastião; no Equador, está todo mundo fascinado com o galo que recentemente anunciou a volta de Cristo; na Nicaragua, começam a sentir nostalgia pela família Somoza; na Venezuela há cada dia mais cachorros abandonados nas ruas e também esperam pela volta de Hugo Chaves e no México, ainda estão atordoados com a aparição da Virgem nas paredes de um estacionamento... No geral, a América Latina inteira ainda acredita que se salvará através de peregrinações, das plantações de  coca e de outros derivados... E, no Brasil, estamos há 50 anos discutindo a demarcação de terras dos Ianomamis; o uso de pesticidas nas lavouras; se as mulheres podem abortar ou não; se a esquerda fica do lado esquerdo e se a direita fica do lado direito; se se constrói o Museu da Bíblia ou não; se se reforma a rodoviária ou não e se é mais aconselhável assistir ao Faustão, ao Silvio Santos ou ao Edir Macedo nos domingos à tarde. Enquanto os hermenêuticas, em seus Institutos, reconstroem e traduzem papiros mentirosamente encontrados no deserto para, finalmente, concluir se os coelhos também têm alma, ou não; se devemos torcer pelo Trump ou por Biden; se nossas escolas devem adotar Paulo Freire ou Madame Blawatski... etc, etc, etc...

Enquanto isso, logo ali, nos países do "misterioso e perigoso" Sudeste Asiático, sobre o qual até os mendigos costumam falar com preconceito, já em 1997 estavam com os seguintes investimentos em pauta:

Construção do metrô de Taipe: 17 bilhões de dólares;

30 usinas, 7 das quais nucleares: 50 bilhões de dólares;

Novo aeroporto de Hong  Kong: 20 bilhões de dólares;

Nova capital na Malásia: 66 bilhões de dólares;

5 milhões de linhas telefonias na Indonésia: 7,5 bilhões de dólares;

1 nova estrada de ferro HongKong/Pequim: 3 bilhões de dólares;

Investimento de Shangai na cidade: 100 bilhões de dólares, etc, etc, etc... (Ver: 21 O século da Asia, de  Pepe Escobar) 

E nós, cheios de preconceitos com a vacina chinesa.., ronronando em casa e esperando Godot...