Tratores, tiroteios e carnaval. O Ceará é aqui...

"Sob o fascismo se podia, pelo menos, ir a cadeia. Porém hoje, até isso é estéril. O fascismo apoiava seu poder na igreja e no exército, que não são nada comparados com a televisão..."

P. P. Pasolini

____________________________

O ópio e a cachaça deste final de semana esta sendo o tiroteio ocorrido ontem lá no Ceará, com seus cinquenta e tantos defuntos. Só se fala nisso! E mais: simulando um certo espanto. Ora! Deveríamos estar acostumados. Pois o mesmo vem acontecendo de ponta a ponta do país, quando não com balas, com surtos histéricos, ameaças, erupções de ignorância. Fascista! Gritam uns. Comunistas! retrucam os outros, e mesmo em se tratando de um rebanho semi-alfabetizado onde não há subjetividade alguma, muito menos para entender o que é o fascismo e o que é comunismo. 

E a mídia, que precisa se manter e que vive disso, coloca seus papagaios no ar, nos horários  'nobres',  para  "interpretar" o caos e para atiçar uns cães analfabetos contra outros. Há uma guerra generalizada e, pior: sem lógica, sem sentido, sem fundamento, sem uma razão de ser. Por puro fanatismo. Imaginem: meio  país brigando para defender o Lula e a outra metade para defender o Bolsonaro. Inacreditável! E o pior é que não há uma terceira via, outra alternativa, e que se houvesse, seria semelhante às outras duas. Defender o Lula? Defender o Bolsonaro? Em função de quê? Mas e o saneamento básico? E os hospitais caindo aos pedaços? E as escolas, pior que prisões? E as prisões? Pior que manicômios? E os manicômios? Pior que os da Idade Média? E as ferrovias, que não existem? E as estradas? Esses corredores da morte? Um show de sociopatia! Brigar e até morrer por um ou por outro? Mas em função de quê? Que pobreza e que miséria! Qual é a filosofia e o saber de um e de outro? Em que eles se diferenciam? Inacreditável! Eis aí um bando de lunáticos reproduzindo os cacoetes psicopatológicos das religiões.   

Não é não!

Creio porque é absurdo! 

Mexeu com um mexeu com todos! 

Tetas e fobias pra cá pra lá! Quê maravilha!

Tudo é carnaval. É evidente que nessas manadas que sambam e que esbanjam "felicidade", observe, há um sinal sutil e assustador de retardamento. 

E os cínicos do Estado, antes de embarcarem para Paris, mandam distribuir camisinhas para a turba. A cada cem metros um burocrata distribuindo preservativos.

Nada é simbolicamente mais canalha do que isso.  Por quê? Porque a mensagem é mais ou menos assim: Vão se foder seus idiotas!, mas cuidado para não se reproduzirem!  

Navios repletos de patetas e de energúmenos chegam de todos os lados do mundo. Já não basta os daqui? Brézil! Brézil! E os repórteres estão lá, cada um mais ávido do que o outro para "dar um furo!" Em casa, até as senhoras carolas interrompem a culinária e ficam excitadas para ver uma conterrânea depilada de cima-a-baixo... Brézil! Brézil! São as aguas do rio Guandu em vertigem...

E todo mundo levanta os braços! Arreganha os beiços. Alegria! Alegria! E todo mundo rebola. Há décadas o traseiro vem ocupando o lugar dos miolos. E todo mundo faz declarações de amor aos trópicos, à carne, a beleza da vida, a pobreza, ao som dos tamborins e às dobras cutâneas... George 

Bataille talvez lamentasse que a burrice não tenha a sensibilidade dolorosa dos dentes.

Abro as janelas para ouvir melhor os gritos e os reboleios da turba enquanto penso na reflexão de Pasolini: "Sob o fascismo se podia, pelo menos, ir a cadeia. Porém hoje, até isso é estéril. O fascismo apoiava seu poder na igreja e no exército, que não são nada comparados com a televisão..."