E todos invocam a LEI! É LEI! Esta na LEI. Na constituição! No Estatuto dos comerciários! No caralho!Não devolvemos o dinheiro! Comprou, comprou. Não vai viajar? Foda-se! Não vai hospedar-se? Foda-se! É LEI! Esta na LEI!
Neste primeiro sábado de fevereiro encontrei o mendigo K. comendo uma tapioca na padaria da esquina. Estava com a mochila sob a mesa e novamente furioso. Não poderia viajar para onde havia planejado e nem o hotel e nem a companhia aérea estavam dispostos a devolver-lhe o dinheiro. O Coronavírus, a hipocondria e a picaretagem planetária haviam vencido! A superpopulação, todo mundo sabe, (seja de ratos ou de humanos) engendra uma epidemia atrás da outra. De onde nos vem essa obsessão pela reprodução? Mostrou-me a reserva do hotel e a passagem e as justificativas dos larápios para não devolver-lhe o dinheiro. Negociar com essa gente é fazer parte de um estelionato contra si mesmo! Dizia.
E o rebanho segue cabisbaixo, submisso, derrotado, explorado e vencido. Remexeu na bolsa e tirou dela uma obra de Bakunin e leu alguns itens com a mesma metafísica romanticizante que os Filhos de Jeová recitam a Bíblia. A garçonete, sem nenhum senso de gravidade, veio recolher os pratos.
Ele olhou para ela e perguntou: me diga, moça: como é que aqueles putos foram tomar sopa de morcegos? Ela saiu meia desnorteada.
Acalmou-se por uns instantes e lembrou de um breve diálogo entre um galo e um morcego que esperam o nascer do dia. Diálogo contido - segundo ele - lá na Cabala. O galo dirigindo-se ao morcego:
"Eu estou esperando pela luz porque a luz é minha, mas para que você precisa da luz? "
Repetiu a frase três vezes, explodiu numa gargalhada e saiu cantando: um bilhão e tanto de chineses et moi, et moi, et moi...
Crônica inteligente só para pessoas inteligentes! Aplausos!
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