segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

A guerra religiosa no Brasil...

[... Patíbulos, calabouços e masmorras prosperam sempre à sombra de uma fé. Dessa necessidade de acreditar em algo que infestou o espírito para sempre...]
Emil Michel Cioran



Há uns três anos, ouvi numa das inúmeras ladeiras de Lisboa, de um músico português que havia vivido no Brasil e que tinha como amante uma psicóloga brasileira, esta previsão: O Brasil se destruirá através de uma guerra religiosa interina. Naquele momento achei surrealista e ficcional seu presságio e sua advertência. Mas hoje, com a nova polêmica da Igreja Católica com a letra do samba enredo da Mangueira e com os comentários paralelos sobre o assunto, começo a dar crédito àquele oráculo lusitano.
O Instituto Plinio Salgado, por exemplo, denuncia a existência de uma suposta guerra contra o cristianismo; a sociedade israelita promete não deixar o neo-nazismo prosperar no país; os neo-pentecostais prometem assumir a Presidência da República em breve; na Baixada Fluminense já existe o chamado Bonde de Cristo cujos asseclas estão entrando nos centros de umbanda que há por lá e, com fuzis em punho, determinando sumariamente seu fechamento, enquanto os líderes daquelas religiões juram que nada os deterá. Os homens de ciência já queimam incenso durante suas pesquisas e suas consultas. Os espíritas ziguezagueiam no meio de espíritos milenares. Os beatos discriminam os ateus, os ateus desprezam radicalmente os beatos. O Lula, desde seu anonimato e pensando nas próximas eleições, esta orientando seus testas-de-ferro a cooptar os evangélicos para suas fileiras. Afinal, o voto é laico.  Só os islâmicos ainda não entraram abertamente em cena e nem os ciganos.  
Do dia para a noite surgem igrejinhas, templos, casas de oração, centros hipnóticos e pregadores por todos os lados. E cada um de seus membros aparece mais fanático e mais convicto do que o outro afirmando que Deus lhe deu uma missão e que a cumprirá, custe o que custar. E enquanto isso, os hospícios, os manicômios e as velhas Casas de Orates, ficam cada dia mais lotadas e as multinacionais de medicamentos vivem muito bem às custas da loucura e da fé...
É provável que nenhum dos demiurgos tenha imaginado que essa pobre espécie chegaria a tanto e que descambaria para esse desvario!


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