sábado, 14 de dezembro de 2019

E para onde foi a velha discussão sobre Controle de Natalidade?

"O que o poder sacerdotal pode absolver em termos de falta, se ele não conhece os laços que amarram o pecador?"
Alcuíno
(Citado por M. Foucault in: Os anormais,  p.218)

Pelas razões que todo mundo conhece, o mês de dezembro é o mês em que tudo, tanto nas cidades como nos subúrbios, fica congestionado. Há filas nos ambulatórios, nos restaurantes, nos motéis, nas farmácias, nas toaletes, nas zonas, nos mercados, nas igrejas, nos parques, nos cemitérios, nos estacionamentos, nas delegacias de furtos, nos bancos, nos aeroportos, nas rodoviárias, nas paradas de taxi, nas fábricas de panetones e de brinquedos, na feira dos importados, nos barbeiros, nos pets, nos correios e em qualquer outro lugar que se vá. Um horror! Uma esfregação e uma aberração! Uma difusão de piolhos e de bactérias. Uma usina de intrigas, de discussões, de mal entendidos, de brochadas e de encontros indesejáveis e de desencontros, onde qualquer um, por mais energúmeno que seja, conclui  logo que o problema central do planeta é a falta de controle de natalidade

 Mas então, por que é que a discussão sobre Controle de Natalidade foi riscada das agendas de todo mundo? 
Resposta dos patetas: Porque "sexo é amor", e não sacanagem! Porque a "maternidade é uma graça!" E porque é necessário engendrar mais filhos, porque cada criança significa uma nova alma, um novo recruta, um novo consumidor e pagador de dízimos, de promessas e de impostos. Não é verdade..?

 Apesar desses argumentos infames, há gente demais no mundo!  Duzentos e tantos milhões só em nosso território. Sem falar da turistada louca, entediada e ingênua que lota os transatlânticos lá no outro lado do planeta e que rumam para cá! Sem falar dos milhares de mulheres grávidas que já andam desfilando pelos mercados em busca dos enxovais para os novos habitantes. Um horror! Uma loucura! 
Onde é que se vai parar desse jeito? 
E, pior: com esgotos a céu aberto e com governos que desde Marechal Deodoro não governam porra nenhuma e que só ficam por aí de boca aberta, fazendo demagogia  sem REformular e sem Reinventar absolutamente nada, só ouvindo os cacarejos reacionários das máfias sacerdotais e dos vivaldinos para quem, um filho por ano, é dever de todos os que trepam. Vejam as ovelhas! Vejam os coelhos! Vejam os ratos!
Ora. Que idiotice! 
Na sociedade libertária do futuro - me dizia o mendigo K -  para se ter um filho se terá, antes, que passar por exames psíquicos rigorosos e ter mais de dois será considerado crime hediondo.
E quando, por qualquer motivo, os humanos, para justificar suas misérias, falarem amorosamente de Deus, suas palavras lembrarão  - como diria Leon Bloy - os leões que ficaram cegos e que buscam fontes de água no deserto...

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