terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Welcome to hell! / Bem vindo ao inferno...

"... Entrañables monstruos del café, pequeños seres sin nombre que se dormían sobre un brazo que les faltaba o escribían algo que no iba a leer nadie jamás..."
F. Umbral








Marquez de Pombal, Saldanha, Aeroporto. O primeiro dia do ano em Lisboa amanheceu com muitos vômitos e alguns bêbados na estação do metrô. Também com casais quase sonâmbulos se enfiando os dedos pelos buracos, com o cheiro e a fumaça da erva indo pelos túneis e a possibilidade dos funcionários do aeroporto entrarem em greve.  Feliz Ano Novo!
Desde Lênin e de Trotsky que as greves tentam surtir algum efeito sobre a escravidão do mundo.., mas os barões já descobriram como torná-las inócuas... E como converter grevistas e insatisfeitos em aliados e até mesmo em alcaguetes... Feliz ano novo! vão gritando niilisticamente uns bêbados no vagão ao lado... E quando alguém do vagão de cá lhes retribui, dão-lhes o dedo e gritam: Feliz ano novo um caralho! 
Todo mundo sabe que esta frase é apenas uma compulsão, uma figura de retórica, uma bobagem e uma enganação mútua, uma espécie de leite condensado - como diria F. Umbral - mas que repetí-la, faz bem. Cria, pelo menos, lá nas entranhas do porvir uma ilusão de fraternidade e uma possibilidade de leveza...
Os oito minutos que antecedem a chegada ao aeroporto de Brasilia são sempre terríveis. O avião sobrevoa aqueles vilarejos, aqueles agrupamentos e cidades periféricas revestidos de miséria, de desencanto e de existencialismo católico, com seus cortiços que lembram cemitérios de automóveis ou tocas de ratos e que, quando há algum prédio, são sempre favelões verticais que se parecem mais bem a instituições carcerárias... e sempre com aqueles traçados e com aquelas arquiteturas vagabundas, pérfidas e sádicas competindo entre si... tanto em horror como em insalubridade...  Um show de burrice e de fracasso, e não apenas social, mas cretino e estético... 
Quando saí do avião avistei lá na cobertura do aeroporto o mendigo K que me acenava com um cartaz que dizia: Welcome to hell! Como sabe que tenho náuseas quando vejo macacos submissos tagarelando no idioma de macacos opressores, virou rapidamente o papel onde pude ler: Bem vindo ao inferno!

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