Chove sobre
Marseille. Da galharia da tal platane (essa árvore esquisita que está
por toda a cidade) despencam flocos de flores ou de folhas secas que, nos dias
de vento e sol são o terror dos alérgicos. O esperado sábado ensolarado foi
para o saco. Na escadaria de Saint Charles, ninguém, só as garrafas vazias. O
trem para Aix-en-Provance já encostou na via C. A gare está mais cheia
do que nunca apesar de pelas portas semiabertas disparar um vento de encolher
os culhões. Dois mendigos vestidos a lá Idade Média atravessam a estação
de ponta a ponta arrastando atrás de si, além das misérias habituais, um fedor
insuportável. Vão com calma, sem estresse, um usando um pequeno chapéu, o outro
com uma cabeleira tipo medusa. Não olham para ninguém, parecem saber o horror
que causam às narinas e aos olhos das “elites”. Vão sóbrios e soberbos fazendo
da marcha uma espécie de meditação.
Daumier teria tido
suas primeiras inspirações por aqui??? Quem, como eu, pensava que haviam
entrado ali apenas para se protegerem da chuva e do frio, se enganou. Chegaram
em frente ao imenso painel, deram uma olhada rápida, o de chapéu falou alguma
coisa para o de cabelo de medusa, dobraram à esquerda, validaram seus bilhetes
numa máquina amarela e entraram na via A, com destino a Côte d’Azur. Seriam convidados especiais de Cannes? Não importa.
Serão o inferno astral e nasal dos que estiverem ocupando o mesmo vagão que eles...
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