domingo, 5 de maio de 2013

CALA-TE UM BOCADO! Diz um pai a um filho.


Não tem jeito, as cidades estão sempre e ad eternum em reforma. Podes ir de um extremo a outro do globo que encontrarás máquinas, tratores, escavadeiras, pedreiros, poeira, britadeiras, cheiros e desvios. Apesar de ter sido um assunto cult nos últimos anos, a construção das cidades pode ter sido o maior dos erros da espécie, o fim da errância e o marco zero da preguiça e do sedentarismo. Um lugar onde floresce a promiscuidade entre  descargas e onde se misturam os esgotos... Aliás, quando a hóspede do quarto de cima resolve sentar-se no vaso é como se estivesse colocando em risco minha sobrevivência. Se não fosse tão impróprio, nesta hora pelo menos, poderia descrever (escatologicamente) em detalhes a abertura e o fechamento de seus esfíncteres... Mas a cidade do Porto é interessante. Num domingo como este você pode ir da Ponte do Infante para a Igreja dos Grilos, para a Feira do Fumeiro, para o Castelo do Queijo ou para a Marisqueira dos Pobres e, claro, dando uma parada de vez em quando numa confeitaria para devorar um doce chamado telha. Ele redime os lusitanos de todas as idiotices que andaram fazendo pelo mundo... E nem precisa falar da Ribeira com seus prédios quase despencando... O amor dos portugueses pelas ruínas sempre me chamou atenção. E eles são inconfundíveis. Os com mais de 50 anos, então... são identificados em qualquer lugar do mundo. Sempre desconfiados, sempre prontos para dar uma cusparada e sempre olhando para o chão como se estivessem a procura de alguma moeda. Parecem os inventores do bullying e transitam com naturalidade de uma aparente ingenuidade para a mais feroz das malignidades... Mistura de ciganos, de mongóis, de mouros, de visigodos, de extraterrestres?... Saber que foram eles que instituíram os cânones principais aí no Brasil e ainda ter alguma esperança, é realmente não dar crédito nenhum à tirania dos genes...
Mas a noite foi excelente! A camareira jogou um edredom quase da espessura do colchão sobre minhas pernas, apagou a luz e forçou a porta só até ouvir o clac da fechadura. A uns 100 metros daqui, descendo uma escadaria como a da Torre de Babel, chega-se às margens serenas do Rio Douro...

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