quarta-feira, 8 de maio de 2013

Antes que o trem chegue...

As páginas do Jornal de Notícias dizem que a emigração de portugueses para a Alemanha subiu 43%, (vão ser escravos por lá também!?) e que ontem, uma mulher vinda do brasil foi pega no aeroporto de Lisboa com 20 mil doses de cocaína. Só um detalhe: por debaixo dos panos, "brasileira" aqui já virou adjetivo. 4 páginas do referido jornal são dedicadas à propaganda e anúncios de sexo: mulheres, travestis, etc., etc., a diferença aí da colônia, é que aqui cada anúncio traz uma foto "erótica" do referido produto. A propósito (1), duas senhoras do Mercado Bolhão ironizavam seus velhos maridos a respeito do viagra. A propósito (2), está em cartaz, por aqui, Teatro Nacional São João, A mulher sem pecado, de Nelson Rodrigues. Hommo Sapiens! Hommo fodedor! Também nestes dias será debatido na Assembleia da República o cultivo próprio da maconha e a criação de clubes para apreciadores da erva. Deve ser nostalgia dos lusitanos dos tempos em que deambulavam pelos fumatórios de ópio da velha China... Hoje abrirá a Feira Medieval em Matosinhos... 
Vir a Portugal é quase sempre um retrocesso, não apenas no tempo, mas em tudo. Se estão falidos, como dizem, não sei, mas mesmo que lhes faltassem os euros, ainda poderiam contar com as sardinhas, com Fernando Pessoa e com o Padre Vieira... Para alguns, até com a Florbela Espanca que, num dia qualquer, jogou-se ao mar. Que belo e romântico final para uma poetisa! 
Agora, uma viagem a Braga em trem é uma maravilha. Tanto Braga quanto o trem e as vinte estações que se cruza são impecáveis. Há parreirais, casais sarreando junto às paredes das estações, ovelhas pastando, casinhas em pedra, galinhas ciscando na terra cinza, cavalos felizes com crinas crespas, mulheres de avental colhendo couves e espiando o trem passar e água, água em abundância do Rio Douro que vem lá da Espanha. Por falar em terra cinza, desconfio que uma de nossas tragédias brasileiras (sociais e estéticas) é ter a terra vermelha. É ela que dá às nossas cidades e principalmente às nossas periferias esse clima de sujeira e de inferno. O homem de uns 60 anos que está sentado ao meu lado vai lendo um livro da portuguesa Hélia Correia, cujo título é: A terceira miséria. Presto atenção no momento em que sublinha um dos textos que diz: [Nós, os ateus, nós, os monoteístas, nós os que reduzimos a beleza a pequenas tarefas, nós, os pobres adornados, os pobres confortáveis, os que a si mesmo se vigarizavam olhando para cima, para as torres, supondo que as podiam habitar. Glória das águias que nem águias tem. Sofremos, sim, de idêntica indigência, da ruína da Grécia...] 
E por falar em livros, a livraria mais famosa daqui parece que ficou só na fama. Virou um ponto turístico, com suas escadas e seus balcões em sucupira. Não entendo por que tanto rigor em proibir fotografias! Além de livros vende sabonetes, lavandas e azeite de oliva da Quinta do Vallouto, também algumas bobagens de arte. O dono, ao informar-me que não dispunha de nenhum título de Abilio Forjaz de Sampaio, agregou: - Sabias que esse gajo era viado? Como não entendi, ele repetiu a pergunta em bom tom: - Sabias que o tipo era viado? Mantendo o mesmo nível intelectual da conversa, retruquei: - O senhor está dizendo que o autor de Palavras Cínicas era chegado numa pica? - Isso mesmo! Retrucou e concluiu no meio de uma gargalhada: - Agora já sabes mais uma coisa... 
Se você fizer alguma pergunta sobre a cidade, um endereço, metrô etc., a dois portugueses juntos, podes saber que eles passarão a discutir e a quase brigar entre eles e que, depois de muito tempo, acabarão por dar-te uma informação duvidosa. Como no próximo domingo é o tal dia das mães, a coisa por aqui, como por aí, virou quase uma febre. Nas proximidades do Museu Guerra Junqueiro na parede onde estava beatamente escrito: Mãe, só temos uma!, alguém rabiscou um pouco baixo: Por sorte!

Um comentário:

  1. A o gozo! - http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/15943-fieis-em-brasilia#foto-274057

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