Entre
todos os espetáculos que a cultura (entenda-se o comércio & as religiões)
tem promovido e tornado obrigatórios na vida do populacho (nascimento,
casamento, bodas disto e bodas daquilo, aniversários etc.,) não apenas nas
classes mais endinheiradas, mas até mesmo entre os fodidos da terra, o funeral
é um dos mais caros, dos mais exóticos e o mais transcendente... A morte de uns mobiliza a indústria
das UTIS, do check up, dos medicamentos inúteis, da mega-industrialização
do câncer, das funerárias com seu mármore e granito falsificados, das
floriculturas, dos voos de helicópteros com aquela chuva de pétalas murchas,
das mais diversas mídias, da máfia dos advogados que levará 10% sobre o
inventário, dos cartórios com seus donos anônimos, dos lacaios ou dos vassalos
da casa que aproveitam para surrupiar do ex-patrão, um anel aqui e um colar de
brilhantes acolá e, claro, dos religiosos das mais diversas facções que na
sacristia ou no camarim disputam o direito de derramar suas melancólicas exéquias
sobre aquele abastado corpo já quase putrefato... sempre com a esperança de que
o morto tenha deixado uma doação milionária para sua seita, para com ela bancar seus vícios e suas
taras celibatárias... Isto, sem falar do chamado "mundo dos artistas",
o conhecido bando dos narcisistas e de puxa-sacos, essa corja e legião de
petimetres que está sempre lá ao lado do caixão de alguma "estrela"
se promovendo mutuamente num coorporativismo indecente, dando beijinhos nos defuntos, consolando os
inconsoláveis, soltando pombos brancos e fazendo elogios impróprios aos que já partiram desta para
pior... E sempre com as frases prontas, os ternos e os tailleurs
pretos, aquelas cabeleiras propositadamente despenteadas, os óculos da moda
para ocultarem uma tristeza contrafeita...
Já, quando
o morto é um anônimo e um fodido qualquer, as coisas mudam, mas o ritual da
morte continua oferecendo um espetáculo imperdível. O morto, fulminado por um
infarto, por uma overdose de cana ou por uma peixeira, fica horas e horas lá no
meio da rua coberto por um jornal ou por uma toalha de bar... As moscas logo
aparecem. A horda fica ao redor do cadáver falando alto, esbravejando, conjecturando,
dizendo bobagens, inventando hipóteses esotéricas, fazendo orações incompreensíveis... A
polícia foi avisada mas não aparece. O coveiro, com sua sabedoria fúnebre, já
deixou um buraco aberto para poder tomar tranquilamente uns tragos no final de
semana sem ser importunado... Neca de flores. Neca de declarações
bombásticas... Ninguém querendo exibir seu Armani.... Nenhum poetinha querendo resmungar seus versos ou um seminarista cantando uma estrofe... É apenas um morto que nem sequer leva identidade no bolso e que, ao contrário do morto burguês, foi desta
para melhor! Quando coincide de passar um helicóptero da polícia por sobre o
féretro, a turba se excita, mas logo descobre que é por pura coincidência, a nave está levando o governador ou algum outro
mandatário para outro endereço, um churrasco ou alguma jogatina... Raramente há
lágrimas e muito menos selinhos insalubres naquela boca mais do que maldita. Ao invés de pombos, abutres. Nunca há
padres e nem pastores interessados em ir até lá apenas para endereçar aos
fundos do inferno aquele ser desalmado... E o pior: em seu inventário nunca há nada destinado ao Estado e nem para a Igreja... Esta é a sua última e impotente vingança.......
Na semana passada eu estava resmungando em voz alta (coisas de quem está exilado), sobre o enterro da minha Bá, ou Bia. Uma senhora negra, obesa, que já com quase cinquenta anos, resolveu "criar" os filhos de outra família. Ela tinha orgulho de repetir a frase: - "Toma, cuida que essa menina precisa de atenção e cuidados especiais, é tua" - Frase dita pela D. Carmem, quando eu cheguei de alguma maternindade, com apenas dois dias de vida... A Bá levou aquilo a sério, e cuidou de mim até eu ficar adulta e ir embora para Brasília. Quando ela já estava com um pouco mais de oitenta anos, os abutres da minha família, literalmente a jogaram na rua, o que não era de se admirar, sendo quem são... No dia seguinte, eu rodei 1200 km, e vim buscá-la, o que já era planejado, mas foi antecipado, faltava eu me estabelecer fisicamente em Brasília. Meu "apertamento" era pequeno, mas dividi a sala em dois cômodos, e montei um quarto para Bá. Durante os últimos dezessete anos cuidamos uma da outra, lógico que ela já estava idosa, mas a raça negra é muito resistente, e ela viveu com saúde até fevereiro desse ano, quando morreu por envenenamento... Em 2006, quando me transferiram para o Rio de Janeiro, ficamos morando fisicamente afastadas, por causa da distância do trabalho. Sofri vários golpes financeiros devido à perseguição, e perdi a minha casa para alguns "mercernários"... Não satisfeitos, acharam que se a matassem eles ficariam com a humilde casa que ela estava ocupando, mas o imóvel não é meu... O mandante do assassinato está aqui pertinho de mim, dentro da Empresa, só observando os meus passos... Eliminaram todas as pessoas com as quais eu tinha vínculo afetivo: meu irmão, minha filha, e agora a minha querida Bá que apesar de ter falecido com mais de noventa anos, lúcida, talvez chegasse a um século se tivessem a deixado ficar comigo... Foi o único velório que eu presenciei na minha vida, e só...
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=ua2ye7GxSyU
ResponderExcluirNão sabemos cuidar da vida, logo não sabemos cuidar de mais nada; não sabemos e nem agregamos valor a ritual algum e as passagens são inutilmente espetaculosas. Tudo ilusão da pior qualidade...
ResponderExcluirE no fim..., todos se vão foder na mesma!
ResponderExcluir#Deragnu