"Se a recitação persiste e o ator percebe o bocejo, logo o estirar-se e finalmente o contorcer-se, além de inúmeros outros índicios das angustias mortais que o infeliz ouvinte experimenta, nem por isso se cala ou lhe dá descanso, mas cada vez mais feroz e obstinado, continua a bradar e arengar por horas, antes, quase que por dias e noites inteiras, até tornar-se rouco e até que, tendo durante longo tempo mortificado o ouvinte, sinta-se exaurido, embora não saciado. Certo é que experimenta um prazer quase sobre-humano e prodigioso em torturar dessa forma e durante esse tempo o próximo, porquanto tais pessoas, por este, deixam todos os outros prazeres, esquecendo o sono e o alimento e desaparecem-lhes dos olhos a vida e o mundo. E esse prazer consiste na firme convicção do homem em despertar admiração e dar prazer a quem ouve: do contrário tanto valeria recitar ao deserto como às pessoas. Ora, como afirmei, cada um sabe, por experiência, qual é o prazer de quem ouve (digo propositadamente ouve, a não escuta) e quem recita é capaz de reconhecê-lo, mas eu digo que a um prazer tal muitos haveriam de preferir males físicos tremendos. Até as mais belas criações e as de maior preço tornam-se terrivelmente enfadonhas se recitadas pelo próprio autor; a este propósito, um filólogo meu amigo observou que se Otávia, ao ouvir
Virgilio ler o canto VI da Eneida, tenha
realmente perdido os sentidos, é provável que isso se desse, não tanto pela memória do filho Marcelo, como
dizem, mas pelo tédio da leitura..."
Virgilio ler o canto VI da Eneida, tenha
realmente perdido os sentidos, é provável que isso se desse, não tanto pela memória do filho Marcelo, como
dizem, mas pelo tédio da leitura..."
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