sexta-feira, 7 de setembro de 2012

AS ELEIÇÕES PAULISTANAS E AS HARPIAS DE LEOPARDI...



Segundo meus correspondentes, muita gente em São Paulo está apavorada com a ascensão do Russomanno, principalmente agora com o engajamento à sua candidatura dos 500 pastores e das 260 igrejas da Assembleia de Deus Ministério em Santo Amaro. Dizem que ele, o próprio Russomanno, já declarou que defende a tese de uma igreja em cada quarteirão da Paulicéia desvairada. Ora, melhor para os paulistanos que a partir de 2013 poderão estar bem mais seguros de entrarem na glória e nos latifúndios dos céus... E depois, quem elegeu, reelegeu, voltou a reeleger por várias vezes um homem eclético e holístico como Maluf não deveria estranhar mais nada, não é verdade? Aliás, o próprio PT nasceu praticamente na penumbra das sacristias paulistanas, o que reforça tanto a convicção de que política e religião sempre andaram enrabadas uma na outra como o quanto é difícil separar esses dois transtornos. O que não é novidade para ninguém é que para militar numa como noutra é necessário, antes de tudo, ter feito um longo percurso pelas estradas da mentira e do cinismo... Agora.., é evidente que o suposto espanto com a ameaça de infestação de igrejas na cidade é pura crocodilagem demagógica que está servindo como instrumento eleitoral para os adversários do dito cujo... Seria a mesma choradeira e o mesmo escândalo se o tal candidato ou qualquer um dos outros sete prometesse, por exemplo, abrir um bordel em cada esquina. Ou então, um templo ao deus da maledicência, um cassino, uma guilhotina, uma lojinha de cannabis, uma funerária... Pura artimanha para hipnotizar o rebanho! O que realmente caberia perguntar é onde esses personagens foram buscar legitimidade para se candidatarem? Quem lhes deu passagem para pleitearem o governo e a administração dos cofres da cidade? De onde vieram e como chegaram aos palanques? Por que não foram plantar batatas? Apenas uma curiosidade: só um dos 8 candidatos, o Paulo Pereira da Silva parece ser nativo, vejam os sobrenomes dos outros: Russomanno, Serra, Haddad, Marmo, Chalita, Gianazzi, Levy Fidelix... Quando é que teremos um Kaingang ou um Krenak no trono da prefeitura???
Enfim.., o que é mais patético nesse bolero de Ravel político, é que pelo que se vê, a inteligência planetária bem como os intelectuais e acadêmicos de nossa pátria sucumbiram verdadeiramente num sono endêmico e não têm dedicado tempo algum na tentativa de pensar ou de inventar outro modelo de administração das aglomerações humanas e das cidades, como se Platão tivesse colocado uma pedra sobre o assunto obrigando-nos a assistir esse espetáculo patriótico, corrupto e pueril se repetindo de tantos em tantos anos e provocando, principalmente em nós, mas também na imensa maioria, o que provocava "aquela espécie de sujeira que as harpias vomitavam por inveja sobre as mesas troianas..." (Leopardi)

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