"La terre est polypharmaque et polygène des produits les plus terribles..."
(De natura animalium, IX,15)
E os comentários, as criticas, as opiniões, as maldições, os louvores, não param de surgir contra e a favor do Ministro Zanin, a respeito de seus últimos votos em assuntos que dizem respeito à população trans e, principalmente, à maconha. Homem ou mulher? Libera ou não libera? Vinte gramas ou vinte baseados? É quase transcendente ver o tal Zanin, com toda aquela assepsia e aparência de pároco, (aquela batina, uma ou outra palavra em Latin e atrás, na discreta parede, aquele crucifixo...) opinando sobre os 'pecados capitais' e sobre dois assuntos tão antigos como o mundo. Lembram dos transviados? E das vovós, queimando a erva em seus cachimbos estilizados? Tudo numa boa!
Para o Mendigo K, que é historiador dos alucinógenos, a humanidade não suportaria a mediocridade da existência sem estar, de uma maneira ou de outra, (química ou espiritual) embriagada. E mais: sustenta, com uma vasta bibliografia que inclusive as religiões, das mais fuleras até as mais sofisticadas, todas foram edificadas por feiticeiros alucinados sob o efeito de narcóticos e seus alcalóides... Preste atenção: Daí as tantas "passagens misteriosas e incompreensíveis dos textos sagrados..." (ivresses dionysiaques et délires prophétiques transformados em dogmas!!!)
Se essa discussão sobre a maconha parece não ter fim, fico imaginando como será quando os ilustres ministros tiverem que decidir sobre o uso ou não das sementes de mandrágora, do ópio, da heroína, da morfina até mesmo da Kawa-Kawa... E quando descobrirem, enfim, a fórmula química e a história do uso do café, do tabaco, do chocolate, da erva mate (d'Ilex paraguayensis) e do chimarrão, do chá preto com os biscoitinhos suíços da 17:00 horas;, do bétel, do guaraná, etc, etc, etc, todos alucinatórios e alguns deles, inclusive, com mais alcalóides que outras drogas proibidas e todos capazes de provocar toxicomania...
O famoso poeta persa Firdusi, relata a cesariana de uma menina "Belle comme un cyprès", usando álcool como anestésico e chanvre indien (maconha) como cicatrizante... É curioso que a Suprema Corte, ao invés de ficar perdendo tempo treinando cachorros para perseguir jardineiros e usuários, ainda não tenha tido a idéia de perguntar: Por que essa necessidade de drogar-se? De onde vem esse fascínio dos homens por essa farmacopeia 'satânica?' E essa obsessão por um paraíso?
Leio: "... L'odyssée (IV-5) nous raconte la venue de Télématique à Sparte à la cour de Ménélas.Pendant le banquet qui suit son arrivée, on évoque le destin d'Ulysse e tous les participants sombrent dans la plus profonde mélancolie. Hélène ordonne alors à ses servantes de verser dans les coupes le népenthés, 'un breuvage donnant l'oubli de la douleur et de malheur... (...) Rachel, désespérée d'être stérile, épia sa soeur Léa, femme de Jacob et la vit manger des fruits de mandragore cueillis par son fils Ruben. Rachel, après l'avoir initié, fut remarquée para Jacob et, l'ayant connu, dit la bible, en conçut Joseph..." (ver: Jean Louis Brau, in: généalogie de la drogue).
E é bom saber que não é só nossa espécie que é vidrada por narcóticos e que passa a vida inteira sonhando com paraísos artificiais e com a Terra Prometida. Muitos outros animais (de insetos a cavalos e búfalos) passam suas breves vidas viciados, alucinados e dependentes. Sabe-se, por exemplo, que as casas de fumadores de ópio, frequentemente eram visitadas por abelhas, aranhas e ratos já dominados pelo vício. Que muitas espécies de formigas cultivam pulgões em suas colônias dos quais sugam licores inebriantes. Que na Australia, no México e nos EEUU, tropas de cavalos, búfalos e ovelhas andam quilômetros e mais quilômetros para deliciar-se com as folhas alucinógenas do Astragalus spicatus... E qual o fumador de cachimbo que ainda não presenciou o pouso e a "viagem" de uma abelha (dessas fazedoras de mel) sobre sua piteira? etc, etc... Enfim - indaga a esposa do mendigo K - se é assim, lá na lenda de Adão e Eva, nos confins do shangri-la, a tal árvore proibida, teria sido realmente uma macieira, ou uma "maconheira"? ( O Zanin daqueles tempos, foi implacável, expulsou o casal do paraíso...) E por falar em embriaguês e psicodelismo, qual é o beato que não se lembra dos porres de Salomon e que o próprio Cristo, chegando numa festa de casamento onde não havia droga nenhuma, apressou-se em transformar um barril de água em vinho? E quem é que ainda não ouviu falar dos fiéis da Christian Peyote Church, lá em Oklahoma? Dizem aqueles índios alucinados pelo peyotl: "O homem branco vai à igreja e fala DE Jesus, mas nós, vamos à nossa, falar A jesus..." (A propósito, apesar da mesquinha competitividade, o transtorno alucinatório é o mesmo!)
E daquelas mulheres que drogaram o pai (Ló) para transar com ele? E quem é que tendo entrado numa pulqueria de Cuauhtémoc (na Ciudad de Méjico), não lembra de ter visto lá, no meio das garrafas, uma estatueta de Macuil-Tochtli, o deus da ebriedade? E quem é que não se lembra daquele famoso happening de 1967, no Central Park de NY, com aquela multidão de adolescentes beatniks, mergulhados numa embriaguês mística enquanto fumavam cascas de bananas secas? E daquele jovem negro do Harlem que declarava: "Le Seul moyen pour foi d'être dans le vent, c'est la schnouf" (heroína).
A propósito, já ouviram falar da Hyoscyamus niger? Que os alemães conhecem por Hühnrtod?
Sinceramente, quando ouço esses párocos laicos falando sobre a maconha, a Belladona, a mandrágora ou outro 'estupefaciente' qualquer, além de perder as esperanças numa nação vigorosa e num porvir soberbo, menos envenenado por superstições, penso imediatamente na Hyoscyamus niger, nela que é conhecida por droga das galinhas. Explico: dizem que os ciganos e outros ladrões de galinhas semeiam essa planta em seus acampamentos e que antes de assaltarem os galinheiros jogam suas sementes no interior dos quintais. Quinze minutos depois, as galinhas e o galinheiro inteiro estão mergulhadas num sono idílico e no auge de uma viagem astral... e sem despencar dos poleiros... Também em algumas regiões da Ásia os ladrões de porcos usam os cogumelos Ganoderma lucidum, conhecidos por "nâmlin", para adormecer as vítimas... E la nave va, finché non si scontra con una stella...
Bela música, dr. da alma! Também dr. em alucinógenos!! Bela músia!!
ResponderExcluirhttps://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2023/08/5120772-professores-sao-alvos-de-operacao-por-trafico-de-drogas-no-df.html
ResponderExcluirhttps://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2023/08/5121047-de-ambulantes-a-taxistas-grupos-transformam-feira-de-drogas-no-centro-da-capital.html
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=YQZq_6bjNlI
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