quinta-feira, 6 de abril de 2023

O combate à violência e o pensamento mágico das 'autoridades'...





"...Talvez haja razão para censurar ao bom Deus por ter feito os homens perversos; cumpre, porém, louvá-lo sem reserva, por ter posto, como contrapeso a essa perversidade, a sua extraordinária bestialidade que não deixa dúvidas... "(Courteline)





 


Apavorados e impotentes, diante de cada massacre que acontece nas escolas, ou fora delas, os tais "representantes do povo" se apressam em solidarizar-se com os parentes das vítimas, como se isso servisse para reparar alguma coisa. E quase sempre, no meio de tanto 'entulho cultural', fazendo promessas delirantes e dizendo bobagens inverossímeis, tanto sobre a infância, como sobre a vida, a existência e, principalmente, sobre as escolas, esses lugares, segundo Jules Celma, " lúgubres, esses templos de docilidade, de abdicação e de escravização que ainda enganam uma multidão inumerável de pessoas, de educadores e de pais. O adulto - diz - tendo perdido a consciência dos seus desejos primeiros, ignora a existência destes nos seus descendentes...(...) Lugar onde se aprende a aceitar a visão fajuta do mundo de que as pessoas se dividem em dois campos: os senhores e os escravos, os empregados e os empregadores, os poderosos e os fracos, os educadores e os educados... (...) Prestem atenção, como o professor  está para o guarda, assim como a sola está para o calçado. Como o  Poder engendra o Professor. E como os Professores engendram o Poder... Como o Educador não é senão a "Voz  do seu Mestre"... etc etc "

Medidas urgentes? Mas como?, se 

"A escola é o Departamento de Seleção de Pessoal da Fábrica. Se ela constitui a Alma da sociedade, sendo o Corpo, a parte de produção. Se a escola tornou-se obrigatória e gratuita apenas porque esta solução correspondia, então, aos interesses de classe da burguesia. O desenvolvimento econômico capitalista exigia uma mão-de-obra mais instruída; o mesmo que, hoje em dia, industrializa o ensino superior (...) Se a tal e piedosa Cultura Popular é a casca ideológica que recobre este novo e invasor mercado dos Lazeres? Se a Civilização dos Lazeres é o último reduto prospectivo do Poder? Se a vida tornou-se uma grande prostituição? (...) Prestem atenção, como essa educação dessociabiliza os alunos, os culpabiliza, os complexiliza, os neurotiza, os imbeciliza, os submete, os despontaneiza, os sadiquiza, os masoquiza, os robotiza, os industrializa, os cidadaniza, os patriotiza, os fossiliza, fá-los esmagar. (...) O Poder, para assegurar sua existência, quer pessoas dóceis, manipuláveis, controláveis, etiquetáveis. São lhe necessários pais e mães de família, trabalhadores. Ele precisa e encontra pessoas capazes de esmagar para manter e salvaguardar a sua escravização; ele precisa e encontra pessoas capazes de sofrer durante uma vida inteira sem dizer nada e as pessoas apodrecem no mais perfeito silêncio para o prazer duvidoso de uma minoria possuidora, tão moribunda quanto a maioria que a sustenta..."

Medidas urgentes, ilustre Presidente? Mas quais? E quem é que o assessorará nesta epopéia? 

É importante lembrar que não se constrói e nem se destrói um bandido do dia-para-a-noite... e muito menos uma legião de bandidos... 

Que existe a história, e a gênese dos problemas... E que a história, não necessariamente, como gostava de iludir-se o camarada Fidel, nos absolverá... 

Além disso, existe também, a necessidade compulsória dos sujeitos, - mais do que comprovada -, de repetir em alguém aquilo que ele próprio experimentou e sofreu... E não pensem que isso seja apenas balelas dos apóstolos Psi, ou das freirinhas, ou das poetisas... 

Quem não se lembra que o cão costuma voltar ao vômito?

E que os maiores sádicos e torturadores são sempre recrutados lá entre os sobreviventes de uma grande chacina???

É importante entender que com a violência acontece algo parecido à pedofilia? O sujeito que foi abusado tem uma tendencia em abusar, independente das 'medidas emergenciais'; do lero lero das Portarias governamentais; da exaltação dos redatores; da policia de plantão e armada dentro das escolas e das Novenas das tias... (E que ninguém estranhe se esse matador de Blumenau tente (como todos que o antecederam) justificar seu crime dizendo que quando criança alguém o ameaçou com um machado...) Por tanto, o buraco é mais embaixo. Bem mais embaixo e vem de longe, de muito longe. Apenas a título folclórico e ilustrativo, lembrem daquele conto de fadas onde havia um sujeito que se chamava Cain? Ontem, já era tarde...

E depois, é indiscutível que as circunstâncias (não apenas econômicas) em que o sujeito nasce e cresce vão torná-lo mais ou menos violento e vingativo. Sem falar que a criança (as crianças), desde sempre, foram alvos de gente transtornada. Lembram, naquele mesmo conto de fadas, de um outro personagem, de nome Herodes? Sim, em qualquer uma das clássicas brochuras de fake-news vigentes, se pode constatar que o filicídio e o infanticídio estiveram sempre presentes na civilização judeu-cristã... (sem falar, inclusive, de muitas de nossas singelas e panteístas tribos...)

Portanto, principalmente nesses casos de loucura manifesta, mesmo de cara para o abismo, é conveniente voltar a ler as histórias de barbárie contra crianças, barbáries que nunca deixaram de fazer parte do mundo e da trajetória da espécie... E, se possível, começar a admitir que, apesar de todas as "medidas urgentes" e de todos os disfarces, não somos boa gente! Pelo contrário: na primeira oportunidade colocamos em cena o ladrão, o trapaceiro e o assassino que ocultamos... não é verdade?

Faz sol e as nuvens, estacionadas sobre a urbe, tentam imitar a Magritte... Quem sabe, por hoje ser quinta-feira, Godot não apareça...



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