"No exterior, se tivermos a sorte de não saber a língua todos parecem geniais. Quando não sabemos o que dizem, acreditamos que estejam formulando sabe Deus que argúcia, que originalidades. A partir do dia em que principiamos a entendê-los, descobrimos que falam tal qual toda a gente. Então, apõe-se outro selo ao passaporte, atravessa-se essa fronteira e entra-se num país onde se fala outra língua e a ilusão ressuscita..."( P)
Nesta tarde de quinta-feira, dia 13 de abril, o Mendigo K apareceu, visivelmente eufórico, motivado - segundo ele - pelo discurso vanguardeiro do Lula, lá em Shangai, a respeito do dólar. Quem sabe, amanhã, em Pekim, - dizia - sem iludir-se demasiado, Lula não diga algo parecido também a respeito do inglês... A propósito, - indagava para si mesmo - quem teria decretado a escravidão do mundo ao dólar e ao idioma inglês???
Enfim, estaríamos decididos, outra vez, a mudar de amos? Libertar-nos do dólar e do inglês, para submeter-nos ao Yan e ao mandarim? Trocar o hambúrguer pelo porco agridoce? Ou seria por pato laqueado? E por mais quantos séculos? E até quando vamos seguir nessa filosofia de subalternos, trocando porcos, vacas e frangos por chips, alfinetes, seringas e por baterias de celular? Ora! Isso é uma declaração de burrice e parece tratar-se mais do Ego de uma chácara administrada por enculés, do que do Ego de uma nação...
Um dos mendigos, mergulhado numa timidez patológica, lembrou do esperanto. Por que não reativar o esperanto?
Esperanto? Ora! O esperanto - como dizia um tal Todii - é como nossos governantes: um cocktail que se julga um oceano... Uma mendiga beata, ouvindo falar em idiomas, citando ao Espírito Santo, resmungou: Todas as línguas são fogo!
E a 'Nova Rota da Seda'? Não estariam queimando incenso demais à Nova Rota da Seda?... Até onde não seria apenas uma espécie de Estrada Real (Ouro Preto/Paraty, para tráfico de ouro), ou algo parecido ao Caminho de Compostela, para tráfico de esperanças e de milagres?
No meio de outros 5, 6 indigentes, seguia repetindo com entusiasmo partes do discurso do Presidente. Uma senhora mendiga, conhecida por seu niilismo, e que parecia não estar entendendo nada, num determinado momento, prestes a retirar-se, olhou fixamente para o bando e recitou uma ilustre 'profecia' de Guerra Junqueiro: "Somos uma Via Láctea de constelações da qual, volvidos meia dúzia de séculos, restará quando muito meia dúzia de pirilampos..."
Não havia sol e os besouros davam rasantes ao redor dos hibiscos...
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