O dogma do voto... (Mas, afinal, quem é que manipula quem?)

A cidade, acostumada às mais bizarras manifestações políticas, com personagens lunáticos advindos dos cafundós do país, viveu umas horas de "festa" ontem à noite, durante a apuração dos votos para a Presidência da República. 

Conforme os números iam sendo divulgados, nas janelas e nas varandas vizinhas, gente se debruçava sobre o parapeito para gritar o nome ou o apelido de seu candidato. Lula, ladrão de meu coração! gritavam uns e outros, no prédio ao lado replicavam em coro: Imbrochável! Imbrochável!

Teve até gente que declarou voto e amor eterno pelo Padre Kelmon.

Depois, por uns minutos, a cidade parecia mergulhar num silêncio fúnebre e mortuário, mas só até que surgia uma nova informação: 

Imbrochável! Imbrochável! 

Lula.., ladrão... de meu coração!

Queremos o Padre Kelmon ! 

Tanto um grito como o outro, quando eram dados por mulheres, até carregavam em si um certo e pueril erotismo...

Quando o Bolsonaro passou a levar dianteira, alguns gritos, se atreveram a acusar o sul do país de fascista e em desespero, se dirigiam ao Nordeste, para que este os salvasse!

E quando os votos do nordeste começaram a "virar o jogo", os especialistas filosofavam: Como é possível  - que o voto de um criador de cabras -  tenha o mesmo valor do de um bisneto da família Matarazzo?

Gritos, emoções, desânimos estampados na cara. Gente indo ao banheiro; tomando chá de manzanilla; tendo diarréia; palpitações; perdendo a voz; enquanto os animadores de platéias iam soltando os dados aos poucos, enfiando uma propaganda no meio das estatísticas; fingindo neutralidade, insistindo que o voto é a essência da democracia e já pensando nos futuros anunciantes para os debates do Segundo Turno.

E os militantes, (uns furiosos e outros eufóricos) lembravam que estávamos dando uma guinada para a direita, exatamente como a Itália. Ah! O fantasma de Mussolini que não nos abandona... Com o Parlamento dominado pela direita - insistia uma socióloga que não foi votar porque já tem mais de 100 anos -, seria melhor que o Lula até desistisse de concorrer...

Mais tarde, quando os animadores de platéia se retiraram, tanto os sinistros, como os destros e os ambidestros e todos os outros tipos de bordelines foram se acalmando. Caindo na real e lembrando que, afinal de contas, haviam sido vítimas de uma ficção, que aquilo tudo havia sido uma espécie de sessão prévia e circense da próxima temporada... Que ninguém havia roubado o coração de ninguém e que ninguém -  era imbrochável...