quarta-feira, 1 de junho de 2022

Lascia le donne e studia matematica!

Nesta quarta-feira de sol radiante, saí, como em outros dias da semana, para caminhar, lubrificar os joelhos, ver o mundo, não virar um inseto como o Gregor Samsa (do Kafka) e para não acabar tendo uma sincope em casa e dar adeus a este mundo antes da volta de Cristo. Se faço referência a Cristo, é porquê cruzei com um velhinho patético que, colocando as mãos na lombar, esforçava-se para levantar os olhos até uma tabuleta pregada no tronco de um Angico Amarelo, com a seguinte inscrição: Cristo vuelve! Como estava em castelhano, pensei logo nos milhares de evangélicos da Venezuela que estão vivendo o exílio por aqui e que, frequentemente, estão nos semáforos fazendo alguma traquinagem de circo.

No mercado, diante do balcão de carnes, deparei-me com a velhinha armênia que comprava 120 gramas de músculos. Ao nosso lado uma dona de casa, com as faces rosadas, contava entusiasmada que sua filha, de 18 anos, que cursa o segundo grau, está tão dedicada aos estudos que se a gente ligar para ela agora, ela nem atende. A armênia, com seu lenço amarelo na cabeça, olhou-me com ironia e sentenciou: ah, como as mães continuam idiotas. Ora! se não atende, não é necessariamente porquê está mergulhada na matemática... É mais provável que a mocinha esteja experimentando um vibrador novo... Pensei nos bilhetes que as velhas famílias italianas mandavam insistentemente para seus filhos, que queriam ver doutores: Lascia le donne e studia matematica!

Um pouco depois, já no caixa, quando a caixeira, apontando para um recipiente onde havia sacos de arroz, óleo de girassol, pacotes de biscoito e papel higiênico, perguntou-lhe: a senhora gostaria de fazer alguma doação para o pessoal lá das enchentes de Pernambuco?, ela resmungou: moça, não sou candidata a nada! E mesmo que fosse, nunca gostei de colaborar com a eternização de trambiques!

Pegou o troco, as 120 gramas de músculos, ajeitou o lenço italiano na cabeça, colocou a bengala no ombro direito e saiu soberba, como se no lugar da bengala, levasse um fuzil engatilhado...

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