"Não quero flores no meu enterro, pois sei que vão arrancá-las da floresta..."
Chico Mendes
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Esclarecido o assassinato do antropólogo brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Philips, lá nos cafundós da Amazônia.
Quê fazer agora, com aqueles pobres e miseráveis assassinos? Com aquela gente mergulhada há décadas na mais obscura ignorância e humilhada até os ossos desde que nasceram? Gente que normalmente não difere uma escova de dentes de um sapato e que não vê muita diferença entre o assassinato de um porco, o de um peixe e o de um homem?
Apesar de acontecerem diariamente, esses tipos de crimes depõem contra nossas pretensões civilizatórias e iluministas. Ah! Estamos atrasados, muito atrasados! Somos ainda uma espécie miserável! E não adianta querer distanciar-se do ocorrido, fazer de conta que vivemos em outra galáxia, pois esses pobres assassinos são o reflexo de nossa performance patética e impotente.
E sempre que surgem crimes hediondos como esse, logo aparecem estrategistas e especialistas de todos os lados. Dão conselhos; fazem pose; criticas; acusam e recitam catecismos, até em outros idiomas, para a salvação daquela "Cracolândia" chamada Amazônia. É preciso ter cuidado com essa gente que pensa, raciocina e interpreta os fatos como se não tivesse havido um ontem. Normalmente não valem nada e não são confiáveis! E muitos desses farsantes, são ex ministros, ex presidentes, ex-diplomatas, ex-indigenistas, ex parlamentares, ex militantes e ex tudo, que passaram a vida inteira mamando nas tetas do estado, desviando recursos e que não fizeram absolutamente nada para evitar que aquela selva se transformasse num covil.
E o que se ouve há meio século, é sempre e sempre o mesmo e cretino discurso! Papo furado que vem tanto dos que garganteiam um patriotismo e um nacionalismo cabotino como dos que não se acanhariam em doar aquela região inteira (com índios e tudo) em troca de três ou quatro prédios em Paris, em Pequim ou em Londres.
Um lero-lero de dar dó!
E vejam as planilhas: com o dinheiro público que já foi despachado para aquela região, só nas últimas décadas, daria para ter implantado lá, e estar em pleno funcionamento:
1. Uma indústria farmacológica e de medicamentos (cada etnia teria seu vade-mécum farmacológico);
2. Uma indústria de pneus e de camisas de vênus (controle de natalidade!!!), sem derrubar uma única árvore;
3. Uma indústria de alimentos derivados da castanha;
4. Outra indústria de alimentos derivados da pesca, sem contaminar nenhuma fonte;
5. Uma indústria agronômica/florestal (com seleção de sementes e de espécies exóticas para com elas reproduzir em cada estado e em diversas regiões do país, biomas e micro-sistemas parecidos aos amazônicos);
6. Plantações imensas de maconha para amenizar a solidão e o tédio infernal naqueles cafundós tropicais e para, agora, poder produzir canabidiol, para suavizar a tragédia de nossos deprimidos, bem como a insônia nacional...
7. Poderíamos ter instalada lá, no meio da selva, uma universidade de ponta, nem que fosse apenas para começar a migrar da TEOlogia para a ANTROPOlogia e para traduzir o canto das Arapongas, dos grilos e de outros pássaros; assim como o silêncio das serpentes, dos tigres, dos jacarés e da Vitória régia.(Cada etnia teria o seu vade-mécum zoo-botânico);
8. Um laboratório para estudos e reprodução daquelas borboletas de asas azuis, também as de asas vermelhas, pretas, amarelas, multicores;
9. Uma produtora de perfumes eróticos, exóticos e selvagens;
10. Com o dinheiro que foi destinado para lá, nestas últimas décadas, se poderia ter montado um orquidário que seria incomparável e imbatível... Também um aquário até mais eloquente que aquele de Vancouver e aquele de Gênova...
11. Uma oficina especializada em lapidar e burilar esmeraldas, pedras preciosas e em produzir talismãs, flechas e cachimbos em puro ouro (riquezas que, até agora, são rapinadas por gentinha miserável daqui e das vizinhanças, por larápios que há séculos, vêm sorrateiramente enfiando todas essas riquezas apenas no rabo dos parentes e no próprio)...
12. Também um laboratório de linguistica;... (cada etnia teria o seu "Cambridge Dictionary");
Ah!, mas para isso é necessário ter bons níveis de testosterona! Não é verdade? E preferimos a inércia, a sem-vergonhice, o caipirismo, a ignorância, a cesta básica, a verborréia eleitoreira, a politicagem, a mistificação de trapaceiros, o papo furado nos gabinetes da República e nos salões dos puteiros. Preferimos o desvio do dinheiro... e as tramóias ecocidas, para depois, quando há uma barbaridade desse calibre, podermos ficar nos martirizando e masturbando com orações, misticismos, sentimentalismos histriônicos, demagogias e teorias delirantes.
A propósito, lembram do assassinato do Chico Mendes, lá em Xapuri, em1988?
E la nave va...
Por coincidência, do gravador do vendedor de pamonhas que passa lá em baixo, vem até minha varanda os acordes e os berros do Pink Floyd: Dogs.
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